O novo inquérito da Euroconsumers revelou que, em dezembro, mais de metade dos inquiridos portugueses (60%) assumiu viver em condições financeiras mais frágeis, em comparação com o início do respetivo ano, face ao aumento da inflação. A organização europeia de defesa do consumidor que congrega organizações de vários países, incluindo a portuguesa DECO PROTESTE, afirmou que 46% não têm quaisquer poupanças para lidar com a crise, se esta se acentuar.
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O inquérito, que incidiu em indivíduos com idades entre os 25 e os 74 anos, revela que apenas 1% dos inquiridos não alterou os seus comportamentos de consumo e que 31% fez ajustes nos gastos em praticamente todas as dimensões analisadas, como a alimentação, atividades culturais, férias e viagens, energia, atividades de lazer e desportivas, e saúde.
A Deco destaca também que a percentagem de inquiridos que chegavam ao fim do mês sem dinheiro subiu de 26%, no início do ano, para 30% em dezembro.
A inflação e o aumento de preços levou ainda à mudança de comportamentos de consumo de 93% dos inquiridos no que toca à energia e de 91% no que toca à alimentação.
Já em relação à área do lazer, 91% dos inquiridos admitiu ter alterado pelo menos um comportamento. Note-se ainda que 88% alteraram hábitos de consumo no que toca a roupa e acessórios e 81% no que a atividades culturais como concertos, teatros e museus diz respeito.
Devido ao aumento de preços, 41% dos inquiridos alterou hábitos ou cortou gastos em cuidados de saúde, e 26% na educação.
Além disso, em dezembro de 2022, 36% dos inquiridos descreveu a sua situação económica como "muito difícil", o que se traduziu num aumento de 10% em relação a abril do mesmo ano.
Já a percentagem de consumidores que considerou "ter o suficiente para chegar ao fim do mês" diminuiu de 56%, em abril, para 50%, em dezembro. Apenas 14% dos inquiridos descreveu a sua situação económica como "muito confortável", traduzindo-se numa diminuição de 4 pontos percentuais em relação a abril (18%).
Por outro lado, o aumento dos preços da energia fez com que 78% dos inquiridos passasse a desligar mais as luzes ao sair de uma divisão e 67% admitiu tomar duches mais curtos e menos banhos.
No que toca à opinião dos portugueses em relação à inflação, o estudo mostra que 88% dos consumidores considera que as empresas se estão a aproveitar da mesma para aumentar os seus lucros.
Por outro lado, 81% dos inquiridos planeia continuar a adotar comportamentos de poupança energética quando os preços baixarem, e 66% afirma que, devido à subida do custo da energia, ficou mais informado sobre equipamentos para a poupar.
O estudo revelou que 10% dos inquiridos pediu um empréstimo (bancário ou de outra instituição) para fazer face às despesas diárias nos últimos 12 meses. Além disso, 18% confessou ter pedido dinheiro a membros da família ou a amigos e 27% teve de recorrer às suas poupanças.
Note-se ainda que 65% dos inquiridos diz não confiar nos governos nacionais para controlar eficientemente e evitar aumentos injustificados de preços para produtos e serviços. Já 58% diz não confiar na União Europeia para fazer o mesmo.
Para Rita Rodrigues, diretora de Comunicação e Relações Institucionais da DECO PROTESTE, "este é um sinal claro de que o ano de 2023 vai ser um desafio para uma grande parte da população portuguesa, com a inflação e a subida de preços a terem um efeito colateral no bem-estar das pessoas".
"Todos têm uma responsabilidade e um papel a desempenhar para minimizar estes impactos, e na verdade o que os consumidores sentem é que os esforços têm sido maioritariamente feitos por eles", acrescenta, no comunicado.
Já Els Bruggeman, diretora de Políticas e Execução da Euroconsumers, realça que é urgente que os decisores políticos e as autoridades "analisem de perto as diferentes definições de preços, verifiquem se os custos mais elevados são de facto justificados e tomem medidas se necessário".