Centenas de passageiros dos dois lados do Atlântico ficaram impedidos de viajar e queixam-se de falta de apoio oficial. Não estão previstos voos de repatriamento.
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Portugueses e brasileiros ficaram retidos longe de casa quando, no passado dia 29 de janeiro, foram suspensos os voos entre os dois países. Centenas de passageiros, muitos com crianças e a viver situações dramáticas, sem casa e sem dinheiro, pedem apenas que "deixem realizar os voos de quem já tinha bilhete comprado". Os consulados português e brasileiro dizem estar "atentos", mas quem já pediu ajuda sentiu-se defraudado: "Mandaram procurar outras rotas, por outros países, o que não faz qualquer sentido em tempo de pandemia", relatou Catarina Miranda, uma das pessoas afetadas.
"Nunca pensei que o Governo português fosse deixar as pessoas nesta situação: mães sem poder voltar para as suas crianças, trabalhadores impedidos de voltar aos seus empregos, mulheres grávidas separadas dos seus maridos e tantos outros casos dramáticos de muitas pessoas retidas. Estas pessoas não estavam de férias, tal como eu, estavam a tratar de assuntos inadiáveis relacionados com as suas vidas", resume a professora universitária, retida no Brasil, longe do filho e do marido.
Também daquele lado do Atlântico ficaram Cássia, o marido e os filhos, portugueses, que foram despedir-se das avós idosas "antes que não houvesse mais oportunidade". O voo foi remarcado para dia 17 e, depois, para dia 24, o que leva a família a temer que "a suspensão possa ser prolongada, visto que só deveria durar até ao próximo dia 14".
Pilar é brasileira e está retida em Portugal desde que o voo de dia 22 foi cancelado. Com o filho pequenino, despejada de casa no dia em que ia viajar, está escondida do ex-companheiro, preso por tê-la agredido em plena via pública. "O meu medo é que ele saia e eu ainda esteja aqui", desabafa, aterrorizada. Pilar está "a viver de favor, quase a passar fome".
Sem voos previstos
O Ministério dos Negócios Estrangeiros disse ao JN que "acompanha o surgimento e evolução de quaisquer emergências", mas não estão previstos voos de repatriamento. Os responsáveis brasileiros do Ministério das Relações Exteriores também estão "atentos" e a "prestar a assistência legal e material possível aos brasileiros", sem "previsão de voos de repatriamento".
"Não pedimos repatriamento, nem dinheiro, temos bilhetes comprados e só queremos que o nosso voo aconteça", apelou Michael Correa, mais um passageiro que espera que a suspensão não se prolongue além do próximo domingo.