Entre janeiro e novembro de 2019 os portugueses deixaram 669,8 milhões de euros em medicamentos nas farmácias, mais 18,5 milhões (2,8%) do que no mesmo período de 2018.
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Os dados da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), revelados esta semana, mostram que o número de embalagens dispensadas também cresceu. Foram 151,1 milhões, mais 3,2 milhões de caixas (2,2%) do que no período homólogo. Já o preço médio por embalagem também subiu 2,3% para 12,43 euros.
Mas é ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) a quem cabe a grande fatia do pagamento dos medicamentos. Em 11 meses foram gastos 1212,6 milhões de euros em ambulatório (farmácias), através da comparticipação aos utentes, e 1215 milhões na medicação administrada nos hospitais, que representam um total de 2 427,8 milhões de euros, mais 80,8 milhões (+ 3,4%).
Os antidiabéticos são a classe terapêutica com maior aumento nas comparticipações em ambulatório. Custaram mais 26,8 milhões, ou seja, respondem por um terço do aumento da despesa total com medicamentos (mais 63,7 milhões face a período homólogo).
Seguem-se os anticoagulantes e os modificadores do eixo renina angiotensina (que atuam no sistema hormonal que controla a pressão arterial e o volume de fluído no sangue - ver infografia). As substâncias ativas mais utilizadas foram a atorvastatina (colesterol), com 4,4 milhões de embalagens dispensadas, o paracetamol (dor e febre), 3,3 milhões, e a metformina (diabetes), 3,2 milhões.
Total de 2018 superado
No caso dos hospitais, o valor gasto em 11 meses já ultrapassou o total de 2018, que foi 1207 milhões, de acordo com o relatório desse ano do Infarmed. Os medicamentos oncológicos registaram o maior aumento neste encargo (subiram 37,4 milhões de euros), sendo a área terapêutica com mais peso na despesa nos hospitais. Já nos medicamentos para o VIH - que pesam 13,8% na despesa hospitalar -, verificou-se uma descida nos valores globais. Custaram 167 milhões, menos 12,2% que em 2018.
Consultas externas
A maioria da despesa dos hospitais em medicamentos é nas consultas externas e em produtos cedidos ao exterior (47,1%); seguem-se os que são ministrados nos hospitais de dia (33,3%) e no internamento (10,5%). Aos blocos operatórios e às urgências cabem 2,7% e 1,2%, respetivamente.
Na distribuição regional, apesar de ser em Lisboa e Vale do Tejo que a despesa é maior (521,8 milhões de euros), esta diminuiu 1,1%. Já na Região Norte verificou-se um aumento de 5,1% para 413,8 milhões. Seguem-se o Centro com 203,9 (mais 2,7%), o Algarve 40,3 milhões (menos 6,5%) e o Alentejo 35,4 milhões (sem variação).
Outros dados
Metade são genéricos
A quota de medicamentos genéricos em unidades foi de 48,7%. Mas se tivermos em conta a percentagem destes no mercado concorrencial, ou seja, quando as substâncias ativas de determinados medicamentos têm genéricos comercializados, esta percentagem sobe para 64,1%.
Antibióticos a descer
A utilização de antibióticos desceu em relação a 2018, nos 11 meses considerados. No critério de doses por mil habitantes, os antibióticos e as penicilinas baixaram 1,2% e 0,3%, respetivamente. A maior quebra foi de 10,2% nas quinolonas, antibióticos de largo espetro, que geram mais resistências.
200 casos por dia
"O Infarmed ainda está a menosprezar o custo da diabetes"
O aumento da despesa com antidiabéticos representa mais de um terço (39,5%) do acréscimo gasto pelo SNS nos medicamentos entre janeiro e novembro de 2019. José Boavida, presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, considera que este crescimento se pode explicar pelo elevado número de diagnósticos - são mais 200 doentes todos os dias - e pelo surgimento de "novas classes de medicamentos, das quais ainda não existem genéricos". No entanto, sublinha, o Infarmed "tem a capacidade de negociar com os laboratórios quer os preços, quer os volumes de vendas".
Em declarações ao JN, o especialista defende que "o Infarmed ainda está a menosprezar o custo da diabetes", pois estes doentes também tomam "medicamentos para a hipertensão, colesterol e anticoagulantes". E porque se "gasta mais com o internamento e com as complicações do que com os medicamentos", alerta, acrescentando que todos os dias são internadas 500 pessoas. Em reuniões que foi tendo com os vários ministros da Saúde, conta José Boavida, foi sempre dito à tutela que "se há uma vontade real de diminuir os custos, tem de haver um investimento enorme na educação e no apoio às pessoas com diabetes". O médico sublinha que os cientistas "nunca esperaram que a doença atingisse os números" atuais.