Entre janeiro e março, os portugueses apostaram cerca de mil milhões de euros em casinos virtuais legalizados. O número é o maior de sempre registado pelo Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) e representa um crescimento de 58% face ao mesmo trimestre do ano passado.
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Ao todo, os portugueses apostaram 961 milhões de euros em jogos de fortuna ou azar virtuais, mais 352 milhões do que nos primeiros três meses de 2019. Impulsionada pelos casinos virtuais, a receita das casas de apostas legalizadas cresceu 47% (passou de 47 milhões para 70 milhões) e, com isso, o Estado também arrecadou mais com o imposto especial de jogo online: passou de 15 milhões para 21 milhões.
O aumento do volume de apostas registadas em casinos virtuais é, em parte, justificado com o facto de serem agora 12 as entidades exploradoras de jogos de fortuna ou azar online, mais três que no trimestre homólogo. O confinamento também pode ter contribuído, mas não tanto, até porque dos 91 dias analisados, apenas 15 foram em estado de emergência.
Ainda assim, os alertas mantêm-se e todos os especialistas, bem como o próprio ministro da Economia, que tem a tutela do SRIJ, estão atentos ao efeito que o confinamento pode provocar nos comportamentos aditivos de jogo. "São dados que só vamos conhecer melhor no próximo trimestre, pois é possível e é provável que haja uma migração das apostas desportivas para o jogo de fortuna e azar", antevê Pedro Hubert, psicólogo e diretor do Instituto do Apoio ao Jogador.
Apesar do recorde do volume de jogo virtual registado, a principal preocupação está nas casas ilegais onde "não há qualquer proteção ao jogador, o que é, de facto, perigoso", alerta Hubert. O ministro Pedro Siza Vieira sublinha que a legislação que regula a atividade já tem como objetivo "a exploração e a prática dos jogos e das apostas online de uma forma socialmente responsável que proteja os menores, os grupos vulneráveis e de risco".
Apostas em baixa
Por regra, os casinos virtuais representam maior volume de dinheiro movimentado do que as apostas desportivas à cota. Contudo, a receita das casas era sempre superior nas apostas desportivas e, pela primeira vez, a realidade alterou-se. Ao contrário de todo o ano de 2019, a receita das casas de apostas com jogos de fortuna ou azar foi superior a metade do total (50,6%), o que é justificado pelo aumento do jogo em casinos virtuais, mas também pelo facto de as apostas desportivas terem estado paralisadas durante cerca de três semanas do período em análise.
Por causa da paragem dos campeonatos, o crescimento homólogo das apostas desportivas no primeiro trimestre foi tímido. Contabilizaram-se 149 milhões de euros apostados, mais 13,5% que no primeiro trimestre de 2019, porém, 20% abaixo dos últimos três meses do ano passado.
Slots preferidas
Uma análise mais pormenorizada aos números do SRIJ permite perceber que as máquinas de jogo (slot machines) virtuais são as que movimentam mais dinheiro, cerca de 70% do total. Logo atrás vem a roleta francesa (13%), o póquer não bancado (8%), o blackjack (6%) e o póquer em torneio (3%).
Nas apostas desportivas, a Primeira Liga portuguesa de futebol é a preferida de 75% dos apostadores. No que toca à idade média do apostador online, o SRIJ constatou que 61% têm menos de 35 anos e que um terço dos novos registos tem menos de 25 anos.
Detalhes
426 mil jogadores
O número de portugueses com prática de jogo em casinos virtuais ou apostas desportivas é de 426 mil. São mais 33% do que no primeiro trimestre de 2019.
52 mil autoexcluídos
A 31 de março de 2020, havia 52 mil jogadores autoexcluídos das plataformas de jogo virtual, casino ou apostas desportivas, quase todos por tempo indeterminado.
61 sites bloqueados
O SRIJ já ordenou, este ano, o bloqueio de 61 sites ilegais de jogo. Desde 2015 foram 447, aos quais se somam 539 notificações e 14 participações criminais.