Fármacos novos e sem genéricos estão a agravar fatura na farmácia. Dificuldade na obtenção de receitas médicas é outra explicação.
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Nos primeiros oito meses deste ano, os portugueses gastaram mais 10 milhões de euros na farmácia e compraram menos 200 mil embalagens de medicamentos em comparação com o mesmo período de 2019. O agravamento da despesa para os utentes resulta, na opinião do Infarmed, da introdução de novos fármacos no mercado que ainda têm patente e, por isso, sem alternativa ao nível dos genéricos. Para a presidente da Associação de Farmácias de Portugal, o aumento da fatura está relacionado com a dificuldade na obtenção de receitas médicas.
Entre janeiro e agosto último, os utentes pagaram 493,3 milhões de euros na farmácia por 109,3 milhões de embalagens dispensadas. Em igual período de 2019, desembolsaram 483,6 milhões de euros por 109,5 milhões de caixas de medicamentos, segundo os respetivos relatórios de monitorização mensal do consumo de medicamentos em meio ambulatório, do Infarmed. Contas feitas são menos 200 mil embalagens por mais dez milhões de euros.
Uma vez que 2020 foi um ano atípico no consumo de medicamentos - a redução de consultas médicas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) levou a uma inédita diminuição da compra de fármacos - o JN optou por comparar o último relatório deste ano (agosto) com o do mesmo mês de 2019, antes da pandemia. E encontrou um agravamento significativo da despesa, para o utente e para o SNS.
Em dois anos, os encargos com medicamentos para os doentes cresceram 2% (9,6 milhões de euros), enquanto que, para o SNS no mesmo período, a despesa com as comparticipações subiu 55 milhões de euros (mais 6,3%).
Questionado pelo JN, o Infarmed põe a tónica nos novos fármacos. E deu exemplos de alguns dos "responsáveis pelo aumento dos encargos do utente", como é o caso dos "medicamentos utilizados na insuficiência cardíaca, fibrilhação auricular e dislipidemias", que, nalguns casos, ainda não têm alternativa no mercado dos genéricos. A Autoridade Nacional do Medicamento realça que "os novos medicamentos podem apresentar um custo médio mais elevado quando aportam um benefício terapêutico e, consequentemente, melhores resultados em saúde na população portuguesa".
Compram sem prescrição
Confrontada com os números, a presidente da Associação de Farmácias de Portugal aponta outra justificação para a crescente despesa do utente em 2021. "As dificuldades no acesso às consultas médicas levam muitos doentes crónicos a levantar medicação nas farmácias sem receita", diz Manuela Pacheco. As farmácias facilitam, com base no histórico do doente, mas tal implica o pagamento dos remédios por inteiro. Se conseguirem a receita mais tarde, podem deduzir a comparticipação, mas muitas vezes já passou o prazo ou as receitas não cobrem todos os medicamentos aviados e necessários, acrescenta.
O JN questionou a Associação Nacional de Farmácias, mas não obteve resposta em tempo útil.