A grande maioria dos eleitores deseja que os líderes da AD e do PS se entendam sobre a governação do país para os próximos quatro anos, segundo o mais recente barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN.
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O entendimento entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos agrada a 78% dos portugueses, incluindo-se aqui a possibilidade de um partido viabilizar o Governo minoritário do outro sem acordo escrito.
No barómetro anterior, 70% dos inquiridos tinham respondido que não queriam eleições e, agora, 78% querem uma solução de estabilidade onde AD ou o PS permitam que o outro governe. Na prática, é o mesmo que dizer que não querem mais eleições legislativas tão cedo. Os eleitores do PS são os mais favoráveis ao entendimento (86%), seguidos pelos votantes da AD (82%). Os que menos querem acordos entre PS e PSD são os eleitores da CDU (51%) e do Chega (61%), ainda assim maioritariamente favoráveis a um entendimento.
Talvez cientes disto, os dois maiores partidos não afastaram totalmente, até agora, a possibilidade de viabilizarem um Governo do principal adversário, mas as certezas parecem maiores no PS. Na cúpula socialista não há dúvidas que um Governo da AD vai ser viabilizado caso Montenegro vença as eleições sem maioria. “Sempre tivemos maturidade política, não vamos deixar de ter”, garantiu Marcos Perestrello, vice-presidente. O mesmo já foi defendido pela atual líder parlamentar, Alexandra Leitão.
Do lado da AD, as opiniões são mais divergentes e Luís Montenegro ainda não disse o que fará se Pedro Nuno Santos vencer as eleições sem maioria. Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares que não integra as listas de deputados porque vai ser candidato à Câmara do Porto, já defendeu que o PSD “deve viabilizar o Governo de quem vencer”. No entanto, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, não tem tantas certezas: “Ninguém quer reciprocidade face ao comportamento do PS, nenhum português. O PS deitou o Governo abaixo”.
Governa quem ganha
Os inquiridos com mais de 65 anos são os que mais defendem o entendimento entre os dois maiores partidos (82%), enquanto os jovens com idades entre os 25 e os 34 anos são os menos favoráveis (71%). Por regiões, é no Centro do país que mais se defende o acordo entre Montenegro e Pedro Nuno (80%), sendo Lisboa a região onde este cenário tem o apoio mais baixo (74%).
Quase 80% dos inquiridos pelo barómetro da Pitagórica desejam um entendimento entre os dois maiores partidos, mas quando são questionados sobre se esse encontro de vontades é possível, a percentagem baixa para 54%. Há ainda 44% de inquiridos que acham que o acordo entre os dois maiores líderes não é possível.
Em 2015, António Costa rompeu com a tradição parlamentar e formou Governo sem ter vencido as eleições. Questionados sobre se quem deve formar Governo é o partido que vence ou o que tem maior apoio parlamentar, quase dois terços (65%) defendem que o vitorioso deve construir o Executivo, independentemente do apoio que tenha. As mulheres (67%) são quem mais o defende, bem como os eleitores da AD (81%), Chega (69%) e IL (66%).
Polémica não é decisiva
Aos inquiridos foram sugeridos oito fatores que podem influenciar o voto, tendo-se sugerido que ordenassem do mais importante para o menos decisivo. Os dois fatores com mais peso na decisão são a “confiança transmitida pelo líder do partido” e o programa eleitoral, ambos com 19% das preferências. Como fator preponderante para 14% dos eleitores está a “capacidade de o líder conseguir reunir apoios junto dos outros partidos”.
Por outro lado, os fatores que menos pesam na hora de votar são “as polémicas dos negócios do primeiro-ministro” (caso Spinumviva), seguida da “vontade de manter o Governo em funções” e dos “debates”.
Geringonça à Direita com mais apoio do que à Esquerda
Com a presença de mais partidos na Assembleia da República, o cenário de maioria absoluta é cada vez menos provável e, no caso de coligações, a preferida dos portugueses é à Direita, entre a AD e a IL, revela o barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN.
Aos inquiridos foram sugeridas 11 coligações possíveis caso nenhum partido consiga a maioria absoluta nas eleições legislativas de 18 de maio. Com 20% das preferências, a coligação entre a AD e a IL lidera, seguindo-se a da AD com o PS (17%). Em terceiro lugar, com 12%, estão dois cenários possíveis: o do PS com o Livre; e o da AD com a IL mais o Chega. Este é, aliás, o único cenário em que o Chega entra nas preferências dos inquiridos acerca de coligações. De resto, o panorama para o partido de André Ventura não parece o mais favorável, pois a coligação entre a AD e o Chega é a que os portugueses mais rejeitam, com 18% a colocarem-na como a pior.
Em todas as faixas etárias há uma preferência pela coligação entre a AD e a IL, exceto nos maiores de 65 anos. Neste caso, um acordo de Luís Montenegro com Rui Rocha surge empatado com o cenário de Bloco Central (AD mais PS).
Preferem acordo escrito
Os maiores de 65 anos são quem mais rejeita coligações com o Chega, tendo optado por pôr o partido de André Ventura no final das preferências. Em sentido inverso, há menor rejeição do Chega por parte dos eleitores jovens. Por classes sócio-económicas, em todos os casos a coligação preferida é entre a AD e a IL, surgindo sempre em segundo o acordo entre PS e AD. É no terceiro lugar que as coisas diferem, pois as classes média e alta preferem um entendimento entre o PS e o Livre, ao passo que os mais pobres optam pela coligação da AD com o Chega e a IL.
No caso de uma coligação, 56% defendem que o partido mais pequeno deve ter assento no Governo, contra 38% que preferem um acordo de incidência parlamentar. Os restantes 6% mostraram-se indecisos.
Os inquiridos que votaram na IL nas últimas eleições legislativas são os que mais pretendem que o partido mais pequeno integre o Governo, com 68% a defenderem esta hipótese. Os eleitores do Chega também estão próximos dessa percentagem (61%), sendo que só os votantes da CDU acham que é melhor um acordo de incidência parlamentar.
A defesa de um Governo de coligação é maior nas classes sociais mais baixas, enquanto as mais altas estão divididas entre essa opção e o simples acordo de incidência parlamentar.
Aos participantes no barómetro foi ainda colocada a possibilidade de existência de um acordo parlamentar escrito, como Cavaco Silva exigiu a António Costa para a “Geringonça” de Esquerda em 2015, ou um acordo verbal como o que Marcelo Rebelo de Sousa aceitou entre o PS e os mesmos partidos, em 2021.
Assim, 71% dos inquiridos preferem um acordo à Cavaco Silva, ou seja, escrito, sendo que apenas 26% dispensa a existência desse contrato. Em todos os partidos, a maioria dos eleitores defende o acordo escrito, talvez porque da última vez que isso aconteceu o Governo durou quatro anos. É na IL, Livre e BE que mais afirmam defendê-lo.

