Multiplicam-se as vozes de protesto contra a exploração de lítio em Portugal. Começou no Barroso (Montalegre e Boticas) e estendeu-se a outros pontos. Para já, o Estado só assinou um contrato para extração do mineral em terras montalegrenses. A Quercus intensifica hoje a campanha para impedir minas a céu aberto.
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O lítio está hoje no centro do debate em Barco, Covilhã, no 1.º Fórum Nacional Ambiente e Lítio, organizado pela Quercus e pela AZU - Ambiente em Zonas Uraníferas. Durante o evento vai ser lançada a plataforma digital Alerta Lítio, que pretende "parar projetos e propostas de exploração em Portugal", e ainda uma petição pública para exigir a "discussão nacional alargada sobre os impactos" que pode ter.
Património Mundial
Quem contesta a exploração de lítio argumenta com razões ambientais e de qualidade de vida. "Estamos assustados com as repercussões na nossa terra. Sentimo-nos traídos e, se calhar, vamos ser obrigados a sair daqui", nota Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida, criada em Morgade. Outra associação popular com o mesmo fim surgiu em Covas do Barroso (Boticas).
Em ambos os casos, os autarcas têm reiterado que estarão sempre ao lado das populações, que têm levantado bem alto e em sua defesa a bandeira do Património Agrícola Mundial, que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura concedeu ao Barroso há mais de um ano.
Por ver em perigo esse estatuto, a Quercus apresentou uma denúncia à UNESCO. Considera que a instalação de minas de lítio a céu aberto naquela região é uma "ameaça severa à integridade do sistema agro-silvo-pastoril" que foi classificado.
Em resposta a esta queixa, o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Matos Fernandes, garantiu que a exploração de minas de lítio em Portugal vai ser feita "com todo o rigor ambiental".
A luta, segundo Armando Pinto, pode também passar pelos tribunais. "O nosso concelho é dos que mais contribuem para a descarbonização, com cinco barragens e parques eólicos. Já chega!". O presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, refere que só se poderá falar de impactos negativos "depois de conhecido o plano de lavra e o estudo de impacto ambiental", pelo que os que estão contra a mina de lítio, neste momento, "estão a dizer não por dizer não".
Entretanto, Marco Sousa deputado do PSD na Assembleia Municipal de Montalegre, apresentou uma proposta que recomenda à Câmara "uma ação popular" com vista à "anulação de todo e qualquer contrato de exploração de depósitos minerais de lítio e outros associados". A maioria do PS chumbou a proposta e o PSD acusou-a de "não estar do lado do povo".
Dificultar a exploração
O presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, assegura que o seu município, em articulação com os de Ponte de Lima, Caminha, Vila Nova de Cerveira e Paredes de Coura, vai colocar "todas as dificuldades dentro da lei para evitar a exploração de lítio na serra d' Arga". Uma delas é a classificação da serra como Área de Paisagem Protegida. Os autarcas entendem que "é mais produtiva a exploração turística e ambiental do que uma mina de lítio". O homólogo de Caminha, Miguel Alves, acrescenta um apelo à união de autarcas e população, pois "se os cinco municípios estiverem juntos e fortes, é muito difícil serem batidos pelo lítio".
Nove concelhos
Na Região Centro, surgiu no Facebook o Movimento Contra Minas de Lítio na Beira Alta e na Beira Interior. Tem em curso uma petição pública contra a "destruição do planeta e do património natural". Isto porque existem pedidos de prospeção para uma área que abrange os concelhos de Oliveira do Hospital, Tábua, Viseu, Penalva do Castelo, Carregal do Sal, Nelas, Mangualde, Gouveia e Seia.
danos irreparáveis
Por sua vez, o Município da Pampilhosa da Serra, no distrito de Coimbra, anunciou que "não concorda com a realização de uma prospeção e pesquisa de minerais ferrosos e metálicos" na zona da "Raposa".
O presidente, José Brito, diz que podem ser causados no concelho "danos irreparáveis", enquanto o vice-presidente, Jorge Custódio, apela à mobilização da população porque "a proteção da verdadeira riqueza do território deve ser mantida a todo o custo".