
Ministro Manuel Heitor entre alunos da UA
Maria João Gala /Global Imagens
Universidades, associações académicas e núcleos de estudantes apostam cada vez mais em atividades diferenciadoras para receberem os novos alunos.
A praxe já não é a única forma de integração dos estudantes no Ensino Superior. Apesar de continuar a ter um papel de destaque na vida académica, de norte a sul do país, há cada vez mais iniciativas de receção aos "caloiros" alternativas, organizadas pelas próprias universidades, pelas associações académicas e pelos núcleos estudantis. As polémicas relacionadas com a praxe, que vieram a público nos últimos anos, e o movimento "Exarp - chegou a hora de dar a volta à praxe", criado há dois anos pelo Governo, estarão na base da mudança de paradigma.
"As coisas estão a mudar. Os episódios trágicos que aconteceram e o facto de a sociedade estar mais atenta, entre outros fatores, contribuíram para isso", constata João Pedro Videira, presidente da Federação Académica do Porto, sublinhando, a título de exemplo, a semana de integração do Instituto Politécnico do Porto, que teve início na segunda-feira, em que os alunos recém-chegados vão desenvolver um projeto multidisciplinar durante os dias que estarão reunidos no Pavilhão Multiusos de Gondomar.
Sem semana académica
Por todo o país, os exemplos repetem-se. Há cultura, desporto, entretenimento e ações solidárias. Os novos alunos integram-se com a comunidade escolar e com as cidades que os acolhem, das mais variadas formas. E até já há quem prescinda da habitual "semana académica". "Em Aveiro, este ano, inovámos e fomos no sentido oposto da maior parte das academias. Não vamos ter semana de integração, mas sim um mês de atividades", conta António Alves, presidente da Associação Académica de Aveiro.
"Acreditamos que quatro ou cinco dias seguidos de concertos não é a maneira mais eficaz de integrar os estudantes na universidade e na própria cidade", realça o dirigente associativo. Por isso, haverá, na mesma, "festas e concertos", mas também "workshops, aulas de surf e de stand up paddle, entre outras atividades".
Mas, afinal, a praxe acabou? Não. "A praxe existe e mantém uma série de comportamentos machistas, de submissão e de promoção dos alunos que não estudam e, logo, têm mais matrículas, por exemplo. Mas há uma maior atenção aos momentos de receção dos novos alunos, mesmo por parte das reitorias das universidades", diz Elísio Estanque, sociólogo e autor de um estudo sobre a praxe, encomendado pelo Governo.
"A praxe já não se vê"
Manuel Heitor, ministro da Tecnologia, Ciência e Ensino Superior tem, nos últimos dias, visitado várias instituições que aderiram ao movimento "Exarp" e diz que "hoje, a praxe já não se vê". "Sabemos que há um caso ou outro, pontual, mas estamos no caminho certo de mostrar que o ensino superior é um espaço de tolerância, de respeito mútuo e de condenar tudo aquilo que seja humilhação", garante o governante.
Elísio Estanque, alerta, no entanto, para o facto de que "as coisas deixarem de ser tão visíveis não quer dizer que não aconteçam". "Situações de auto-humilhação, mesmo que aparentemente voluntárias, devem ser denunciadas por todos nós".
2018/2019
Há menos queixas mas ainda há quem tenha receios
A Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) tem uma linha telefónica e um email dedicados a receber queixas por praxes abusivas. Mas se, no ano letivo 2014-2015, chegaram 80 queixas, no ano letivo passado a DGES apenas registou nove casos. Sete foram reportados por email e dois por outras vias. Ninguém utilizou a linha telefónica. As situações analisadas tiveram lugar em Braga, no Minho, no Porto, em Mirandela, em Évora e em Coimbra. "De facto o número diminuiu radicalmente, mas há pessoas que não se queixam. É importante criar alternativas àquilo que eram as praxes tradicionais", defende o ministro Manuel Heitor.
