Presidente disse que Carla Alves era peso "negativo" no Governo depois de arresto de contas bancárias. Belém recusou proposta de Costa para um escrutínio conjunto e exigiu que escolha melhor os governantes.
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A nova secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, demitiu-se após Marcelo Rebelo de Sousa ter encostado o primeiro-ministro à parede. O presidente da República exigiu-lhe que escolha melhor os seus governantes, recusando a sugestão para partilhar esse escrutínio entre a proposta dos novos membros e a sua nomeação. Além disso, considerou que a recém-nomeada representava um "peso político negativo" para o Executivo e deveria avaliar uma eventual demissão, ao fim de apenas um dia, por ter as contas arrestadas devido ao processo judicial que envolve o marido e ex-autarca.
O presidente avisou que Carla Alves estava limitada nas suas funções. Quem tem "uma ligação familiar próxima com alguém que é acusado num processo de uma determinada natureza, qualquer que seja a natureza criminal, à partida tem uma limitação política, é um ónus político", afirmou Marcelo. Questionado sobre se defendia uma demissão, considerou que "esse é o juízo que as pessoas devem formular sobre si próprias". E defendeu, aliás, que devem fazer um "autoescrutínio quando avançam para determinados lugares".
"Sacudir água do capote"
O anúncio da demissão de Carla Alves não tardou. "A secretária de Estado da Agricultura apresentou esta tarde a demissão, por entender não dispor de condições políticas e pessoais para iniciar funções no cargo", divulgou o Ministério. E acrescentou que a demissão foi "prontamente aceite" por Costa, que à tarde tinha desvalorizado o caso no Parlamento.
O primeiro-ministro reagiu indiretamente nas redes sociais: "O Governo mantém-se firme na execução das suas políticas, cumprindo e honrando os compromissos" com o país.
Marcelo recusou a proposta de Costa para criar "um circuito" para "garantir maior transparência e confiança de todos" os novos membros do Governo, entre a apresentação dos nomes e a sua nomeação. Respondeu que isso "deve ser feito antes de o Governo apresentar a proposta" a Belém.
Quando parecem estar em rota de colisão, o presidente afastou-se da ideia de Costa e avisou que "não se pode substituir ao primeiro-ministro". Já Luís Montenegro, líder do PSD, classificou a proposta "de circuito" como tentativa de "desresponsabilização" e de "sacudir a água do capote".
Belém avisou
O presidente da República tinha precisamente responsabilizado António Costa pela opção de "mexer o mínimo possível", na sequência da demissão do ministro Pedro Nuno Santos. Marcelo prometeu tirar "conclusões" se falhasse a prata da casa: "os resultados dessas escolhas irão recair sobre o primeiro-ministro".
No debate da moção de censura ao Governo, quando o "day after" das nomeações estava dominado pelas contas arrestadas devido ao processo que envolve Américo Pereira, ex-autarca de Vinhais, Costa saiu em defesa de Carla Alves. "Vou ser eu a substituir-me ao Ministério Público por uma razão que não tenho, que não conheço e que não sei de nada? Vou demitir a mulher de alguém porque o marido é acusado?", atirou. Mas prometeu uma demissão "se a ética republicana" estivesse em causa.
O certo é que, com a minirremodelação, não evitou os "casos e casinhos". O líder do PSD assegurou estar preparado para ir a eleições "já amanhã" e afirmou que até gostaria de as disputar ainda com António Costa à frente do PS.