Em outubro de 1988, realizou-se em França o primeiro transplante com células estaminais do sangue do cordão umbilical. Desde então, realizaram-se cerca de 35 mil transplantes em todo o Mundo, com sucesso em várias doenças.
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Em Portugal, nos institutos de oncologia (IPO) de Lisboa e do Porto, fizeram-se pouco mais de cem transplantes e a esmagadora maioria com unidades adquiridas no estrangeiro. Menor utilização têm as amostras guardadas pelas famílias para uso próprio. Os bancos privados do país têm mais de 160 mil amostras de sangue e tecido do cordão criopreservadas, mas até agora, pela informação recolhida pelo JN, só foram usadas 13.
Trinta anos depois, as células estaminais do cordão umbilical provaram ser capazes de curar várias doenças, sobretudo pediátricas, mas não tantas quanto se esperava. Há centenas de ensaios clínicos em curso, mas a Ciência, a Medicina e os bancos de criopreservação anseiam por novidades bombásticas e irrefutáveis.
"O mercado está estável, mas diria que falta uma grande notícia da investigação", analisa Luís Melo, administrador da Bebé Vida, empresa com banco de criopreservação no Porto, onde estão guardadas cerca de 35 mil amostras de sangue e tecido do cordão umbilical.
Setor sofreu alterações
A Bebé Vida nasceu em 2004 e desde então disponibilizou uma amostra de sangue, em abril de 2010, para terapia numa menina com paralisia cerebral. "Teve melhorias ligeiras ao nível da motricidade fina, o que, para nós, não é muito, mas para os pais foi uma enorme alegria", refere Luís Melo, cuidadoso nas palavras. "As células estaminais do cordão umbilical não curam todos os males e eu não sou nem melhor nem pior pai por fazer criopreservação. As pessoas têm é de ser bem esclarecidas", defende.
Muitos portugueses optam por guardar o sangue do cordão umbilical - cerca de 10% dos partos resultam em criopreservação -, mas o setor sofreu com a crise e registou várias mudanças, reconhece André Gomes, diretor-geral da Crioestaminal. Esta empresa, sedeada em Cantanhede, ficou com as amostras da Bioteca, que fechou em 2017, e comprou a Cytothera. Este ano, a empresa Stemlab, que detém a Crioestaminal, foi adquirida pelo grupo de origem polaca FamiCord.
Com um total de 120 mil amostras, a Crioestaminal já disponibilizou 12. A primeira vez foi em 2007 para uma criança de 14 meses com imunodeficiência combinada severa. A amostra do irmão mais velho curou-a totalmente, diz a empresa. As outras amostras foram usadas num caso de leucemia mieloide aguda e oito em casos de paralisia cerebral. Recentemente, nota a Crioestaminal, foram libertadas mais duas amostras para ensaios clínicos no âmbito do autismo, nos Estados Unidos.
Atualmente, há três bancos privados - Crioestaminal, Bebé Vida e Biosckin (Criovida) - e duas empresas comerciais (Future Health e Bebécord), sendo que a primeira armazena fora do país e a segunda na Crioestaminal. A Biosckin, na Maia, não respondeu ao JN. Em 2012, tinha cerca de cinco mil amostras. A esta lista, a Direção-Geral da Saúde acrescenta o Instituto Valenciano de Infertilidade, que armazena em Espanha.
Jovens mas limitadas
As células estaminais podem ser colhidas de várias fontes, nomeadamente da circulação sanguínea, da medula óssea, da gordura e do sangue do cordão umbilical. Estas últimas são mais jovens, pelo que têm mais plasticidade ou capacidade de adaptação, mas a quantidade colhida é limitada, o que restringe a sua utilização a doentes de baixo peso, nomeadamente as crianças.
Testes com tecido
Além das células do sangue do cordão umbilical, os bancos privados também criopreservam tecido do cordão umbilical, por um custo superior. Ainda sem aplicação clínica comprovada, o tecido do cordão tem sido testado como coadjuvante terapêutico, para evitar rejeições do transplante de células estaminais. Há várias investigações a decorrer com tecido do cordão umbilical.
Preços até 2400 euros
A criopreservação de sangue do cordão umbilical nos bancos privados, para uso familiar exclusivo, custa entre 975 e 1345 euros, dependendo da empresa, dos anos de armazenamento (15, 25 ou 30) e das promoções em vigor. Se a família quiser guardar amostras de tecido e contratar serviços mais avançados, os preços podem atingir os 2400 euros. Há bancos que oferecem a possibilidade de pagamento faseado.
30 anos
Desde o primeiro transplante de células estaminais do sangue do cordão umbilical. Foi realizado em França a uma criança com anemia de Fanconi, uma doença grave e fatal. Com a amostra da irmã recém-nascida, Mathew Farrow ficou curado.
Transplantes
Com células do cordão umbilical realizados em dois IPO, dos quais 70 no do Porto e 46 no de Lisboa. A par do Centro Hospitalar Lisboa Norte, são os únicos hospitais autorizados pela Direção-Geral da Saúde a realizar estes procedimentos.
Investigação em autismo e paralisia
Os transplantes de células estaminais do cordão umbilical têm apresentado bons resultados em doenças metabólicas e imunodeficiências e nalgumas doenças oncológicas, como leucemias e linfomas. Luís Madero, oncologista pediátrico espanhol, que já transplantou mais de cem crianças, tem esperança nos resultados da investigação de Joanne Kurtzberg, na Universidade de Duke ( Carolina do Norte) com crianças com paralisia cerebral e autismo.