A procura dos respiradores FFP2 disparou nas últimas semanas, em Portugal, depois de alguns países como a Alemanha e a França terem decretado o uso obrigatório destas máscaras ou das cirúrgicas, mais protetoras, em locais de maior concentração de pessoas, face à emergência de variantes mais contagiosas do novo coronavírus.
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De acordo com Nuno Machado, diretor do grupo de farmácias Holon (com 197 espaços), "já há fornecedores a entrar em rutura de stock de FFP2". Contudo, acredita que no final da semana essa situação estará normalizada.
Estes respiradores, vulgarmente designados de "bico de pato", ganharam "notoriedade este ano, devido às notícias, porque protegem mais", sustenta. Estão acima das máscaras cirúrgicas e sociais porque têm capacidade de filtrar partículas mais pequenas (bloqueiam pelo menos 94% de aerossóis).
Habituado a comprar FFP2 "quase à unidade" para as suas farmácias - ao contrário das cirúrgicas, mais procuradas devido ao preço mais baixo e com as vendas normalizadas -, dá o exemplo de um dos seus espaços em Lisboa, que no último fim de semana vendeu cerca de duas mil unidades e ficou descalço. Os fornecedores são portugueses, mas a maioria importa estes respiradores. Por isso, Nuno Machado não é alarmista e diz que neste momento não haverá dificuldade de abastecimento das FFP2 nem das máscaras cirúrgicas.
Rutura nos supermercados
Também os supermercados se estão a debater com falhas das "bico de pato". "Temos notícia de que esgotou tudo nos supermercados", diz o diretor do CITEVE, centro tecnológico que certifica e testa máscaras. Braz Costa considera esta situação "normal" devido às notícias sobre o endurecimento das medidas de proteção na Alemanha, França e Áustria, mas aproveita para lançar um alerta. "Portugal não tem capacidade para produzir as FFP2 necessárias ao país" caso sejam tornadas obrigatórias, uma vez que são de uso único. "Se metade dos portugueses saírem à rua num dia, são precisas cinco milhões de FFP2 por dia", exemplifica.
Lembra ainda que a procura no mercado lá fora pode ficar rapidamente saturada, já que o seu principal exportador é a China. Em Portugal, estes dispositivos médicos de proteção individual são recomendados para uso em ambiente hospitalar no contacto com infetados com o novo coronavírus e durante procedimentos que produzam aerossóis.
Atualmente, o CITEVE tem que recorrer a laboratórios estrangeiros para poder realizar os ensaios de certificação das FFP2, o que eleva para 20 ou 25 mil euros todo o processo de avaliação de conformidade destas máscaras, quando nas cirúrgicas isso fica por cerca de mil euros. Dos mais de 40 processos de certificação que tem atualmente a decorrer relativos as estes dois tipos de máscaras, apenas um número muito reduzido diz respeito às FFP2. Situação que deverá mudar dentro de duas ou três semanas, quando o laboratório do centro tecnológico começar a poder realizar também esses testes para estes respiradores.
Cirúrgicas sem falhas
O problema de abastecimento já não se coloca em relação às máscaras cirúrgicas, uma vez que a sua capacidade produtiva aumentou muito no país no último ano e a certificação destas versões são "mais baratas e menos pesadas", segundo Braz Costa. Ainda assim, considera que a produção portuguesa continua longe da sua futura capacidade, quando todas as empresas colocarem no mercado os seus produtos, muitos em fase de testes.
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) veio, esta semana, recomendar o uso obrigatório de máscaras cirúrgicas pela comunidade, face à circulação no país da variante britânica do novo coronavírus, mais contagiosa.
Em alternativa aconselha o uso de máscaras sociais certificadas pelo CITEVE, que "conferem uma proteção comparável". Isto quando são de nível 2, como explica Braz Costa e as associações têxteis do setor ATP e ANIVEC, que consideram não justificar-se a sua proibição como aconteceu noutros países. "O vírus tem o mesmo mecanismo de mobilidade, do que se sabe. Por isso, não há nenhuma evidência que justifique afastar as máscaras sociais", defende o primeiro.
Nos contextos de maior risco, em contacto com elementos infetados por covid-19, deverá ser equacionado o uso de máscaras FFP2 pela comunidade, recomenda a SPP.
A Direção-Geral da Saúde mantém-se alinhada com a Organização Mundial da Saúde e o Centro Europeu para Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC), que ainda permitem as máscaras têxteis. Contudo, o ECDC admitiu, esta quarta-feira à Lusa, que "está prevista uma atualização das orientações do ECDC sobre máscaras faciais comunitárias, em data a ser confirmada".
Aposta em máscaras sociais mais eficazes
O CITEVE já tem equipas a trabalhar na criação de máscaras têxteis com grau de proteção igual ou superior a 95%, "compatíveis com as máscaras cirúrgicas", segundo o seu diretor. Neste momento, os modelos de tecido de nível 2 (com capacidade de filtração a partir de 90%) "representam 20% das máscaras sociais" certificadas no mercado, sendo que 80% são de nível 3, refere. Isto significa que a grande maioria tem um menor grau de filtração (entre 70% e 90%). Ainda assim, Braz Costa lembra que não existe nenhuma evidência científica de que as versões de nível 3 não são suficientemente eficientes e aconselha o uso de máscaras sociais, que sendo reutilizáveis são mais sustentáveis.
"Os países que tomaram essas medidas [contra as máscaras sociais] foram muito desleixados no controlo das máscaras. Em Portugal, não são um problema, porque somos um país produtor de têxteis e fizemos um grande trabalho", sustenta, para afirmar que a "esmagadora maioria das máscaras sociais no país são certificadas". "Já encontrámos mais vezes máscaras cirúrgicas e FFP2 que não respeitam as normas", diz o responsável do CITEVE, cujos laboratórios foram usados para testar máscaras para hospitais e outras instituições compradas lá fora, lembrando as muitas burlas detetadas na primeira vaga da pandemia.
Em Portugal, cabe ao CITEVE certificar as máscaras sociais à venda no mercado. Para se distinguirem das demais, foi criado o selo "Máscaras - COVID-19 Aprovado", que dá a garantia ao consumidor que foram testadas e estão em conformidade com as especificações técnicas exigidas.