Ministério da Agricultura reporta menos ninhos detetados e destruídos. Apicultores aprovam plano de ação, mas pedem ajudas contra os prejuízos.
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É a maior ameaça aos apicultores: a vespa velutina, conhecida como vespa asiática, continua a ganhar terreno e já se encontra em 13 dos 18 distritos do continente. Na última campanha, a produção de mel caiu 15%, o que corresponde a menos mil toneladas produzidas, e os custos aumentaram. Com o Plano de Ação para a Vigilância e Controlo em curso, os apicultores começam a ver luz ao fundo do túnel, mas alertam para a necessidade de um sistema de compensação financeira, para fazer face a sucessivos anos de perdas.
Manuel Gonçalves, presidente da Federação Nacional dos Apicultores, revelou ao JN que a produção de mel caiu nas regiões onde a praga está instalada e que os apicultores estão a suportar custos mais altos com alimentação. É que as abelhas não conseguem sair da colmeia, pelo que têm de ser alimentadas, o que custa cinco euros por colmeia e por ano. Para os apicultores maiores, que podem ter cem colmeias, é um custo acrescido de 500 euros.
O prejuízo sofrido pelos apicultores está a ser estudada por um grupo de trabalho e Manuel Gonçalves espera que as conclusões sejam consideradas pela Agricultura. "Todo este processo está a ser muito lento. A vespa chegou em 2011 e começou logo a fazer estragos", lamentou.
Menos ninhos detetados
Apesar do impacto da vespa asiática na produção de mel, os dados do Ministério da Agricultura mostram uma diminuição do número de ninhos de vespa asiática confirmados e destruídos.
Com base na informação reportada à plataforma SOS Vespa, fonte oficial do Ministério gerido por Capoulas Santos revelou que, no ano passado, foram detetados 4985 ninhos e destruídos 3796. Em 2017, tinham sido detetados 5383 ninhos e destruídos 4218.
A redução, assegura o ministério, deve-se ao Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina, revisto há pouco mais de um ano, justifica o ministério. Os apicultores avançam outra explicação.
"A descida é uma verdade enganadora, na realidade não há menos ninhos", assegura João Valente, presidente da Associação dos Apicultores do Norte. O ministério recolhe informação na plataforma SOS Vespa que, por sua vez, recebe dados dos cidadãos e da proteção civil. Acontece, garante, que muitos serviços municipais de proteção simplesmente não assinalam os ninhos encontrados e destruídos e os cidadãos, já habituados a conviver com esta vespa, também deixaram de o fazer. A destruição dos ninhos é da responsabilidade das câmaras municipais, que podem ou não delegar o trabalho noutras entidades.
Uma segunda possível justificação para a diminuição do número de ninhos confirmados e destruídos é o facto de nem sempre o SOS Vespa estar a funcionar, continuou João Valente. O Ministério da Agricultura assegura que só esteve em baixo entre 21 de novembro e 31 de dezembro do ano passado, mas o JN constatou que já este ano esteve inoperacional.
Formação vai arrancar
Manuel Gonçalves, da Federação dos Apicultores, também nota que muitos serviços de proteção civil municipal "não inscrevem os ninhos" na plataforma, mas salienta que o plano de ação, que agora completa um ano, é promissor. "Não direi ainda que estamos no bom caminho, mas o ano passado foi melhor do que o ano anterior e excelente comparado com há dois anos", disse.
Ainda este mês, no Porto, deverá arrancar a segunda fase de formação em métodos de destruição de ninhos, seguindo o manual de boas práticas já elaborado. Estão também prontos um Plano que define as Bases para a Vigilância Ativa e um Plano de Campanha de divulgação pública.
Saiba mais
Biodiversidade
A ameaça para a biodiversidade é uma das consequência da vespa velutina de que menos se fala. A praga invasora é carnívora, pelo que se alimenta não só de abelhas como de outros insetos, fundamentais para a polinização, alerta João Valente.
Armadilhas problema
A agravar o impacto sobre a biodiversidade estão as armadilhas. Os apicultores garantem que, à venda, não existem armadilhas seletivas, que só capturem esta vespa. O seu uso acaba, por isso, por atingir outros insetos.