O "cartoon" na luta: professores em Belém pedem que Marcelo vete diploma sobre carreiras
Mais de 50 professores concentraram-se, ao final da tarde desta sexta-feira, no Jardim Afonso de Albuquerque, em frente ao Palácio de Belém, para apelar ao presidente da República que não promulgue o diploma sobre carreiras que propõe uma recuperação do tempo de serviço congelado de 70% de quatro anos, ou seja, cerca de dois anos e alguns meses.
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"Os professores merecem a recuperação do tempo de serviço trabalhado". Esta é uma das reivindicações que tem soado nas ruas nos últimos nove meses e que esta sexta-feira os profissionais voltaram a levar até Belém: a recuperação total dos seis anos, seis meses e 23 dias do tempo de serviço congelado, à semelhança do que foi conseguido para as outras carreira da função pública. Para os professores, o diploma sobre as carreiras só iria criar mais assimetrias ao invés de as corrigir. Apelaram, por isso, esta tarde, que o presidente da República vete o diploma. Na quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa admitiu essa possibilidade caso o diploma não seja equilibrado, mas salvaguardou esperar que este chegue a Belém para ouvir os sindicatos antes de tomar uma decisão.
Durante a concentração - organizada pelo movimento "Missão Escola Pública", um grupo de 13 professores que se dizem apartidários -, dezenas de docentes de vários agrupamentos de escolas na zona da Grande Lisboa expuseram vários cartazes com caricaturas e "cartoons" de caráter político e palavras de ordem que levaram para as ruas ao longo dos meses de marchas e manifestações para mostrar, simbolicamente, a importância que a arte ganhou na luta pela escola pública. Entre a "coleção" exposta em cavaletes ou nas grades de segurança, que delimitavam o espaço da concentração, muitos dos cartazes replicavam obras-primas de artistas como Edvard Munch, Salvador Dalí, Magritte e Andy Warhol.
"Entendemos que iríamos ter os cartazes como cenário desta concentração justamente para mostrar que a cultura e a escola também se manifestam através das reivindicações dos cartazes", explicou, ao JN, Cristina Mota, uma das professoras que integra o grupo.
A ação foi convocada uns dias antes antes de ter ocorrido, no passado sábado, a polémica em torno dos cartazes expostos no Peso Régua, que o primeiro-ministro, António Costa, classificou de "racistas" e que dividiram opiniões sobre a luta dos professores. Graciela Nunes, professora numa escola no centro histórico de Lisboa, esteve nesses protestos que marcaram as comemorações do 10 de junho. "Participei porque era o dia de Portugal e a educação tinha de lá estar por Portugal. A interpretação deturpada que fizeram dos cartazes foi, efetivamente, para desfocar do assunto importante - as reivindicações dos professores", defendeu a professora que, a dois anos da reforma, lamentou não ver melhorias na carreira. "É arte e a pessoa pode sentir-se ofendida, mas não tem de ser de crítica pessoal. O cartaz é de crítica política", resume.
No local teve lugar uma mesa redonda para discutir o estado da escola pública - a primeira da iniciativa "Conversas improváveis" que o grupo promete ser o começo de um ciclo de luta -e para a qual os professores reservaram uma cadeira para o presidente da República, de quem aguardavam uma intervenção neste "braço de ferro" entre o Governo e a classe. A ação começou quando ainda decorria, em Belém, o Conselho de Estado sobre atualidade europeia, com a participação da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, mas o presidente da República optou por não comparecer.
Os docentes lamentaram que Marcelo Rebelo de Sousa tenha perdido a oportunidade de ouvir a classe. Apesar de o dia não ter tido o desfecho que tanto ansiavam, a mensagem é clara: "Não paramos", gritaram em uníssono.