Disciplina de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) deve ter reforço do programa e dos tempos letivos. São "competências essenciais", realça a Associação Nacional de Professores de Informática.
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A Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI) defende que a disciplina de TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), que integra a matriz curricular do 3.° Ciclo, passe a chamar-se Ciências da Computação e que programa e tempos letivos sejam reforçados. “São competências essenciais na atual sociedade”, frisa Fernanda Ledesma, presidente da ANPRI.
O programa do Governo, aprovado na semana passada, prevê a reformulação da disciplina de TIC, substituindo-a “por um novo modelo de ensino tecnológico (ensino computacional e AI)” e a introdução de “conteúdos curriculares de programação no Ensino Básico”. A intenção é bem aceite pela ANPRI que deseja que o Ministério da Educação explique como pretende concretizar a revisão, sobretudo num contexto em que a partir do próximo ano os alunos do Secundário podem realizar exames digitais.
Incluir robótica
A proposta da ANPRI já foi defendida na anterior legislatura. Além do nome da disciplina, a associação considera crucial que o programa seja reforçado e passe, por exemplo, a incluir programação, robótica, pensamento computacional, ética e segurança digital e inteligência artificial para responder aos novos desafios colocados pelo impacto da generalização de ferramentas IA.
A necessária revisão do programa implicará, assume Fernanda Ledesma, um reforço das horas letivas. As TIC só estão integradas na matriz curricular do 3.° Ciclo, no bloco das Expressões e Tecnologias, dividindo 300 minutos semanais com Educação Visual, Educação Física e a oferta de escola disponibilizada pelo agrupamento. Ou seja, sublinha a presidente da ANPRI, na esmagadora maioria dos casos está relegada para 45 a 50 minutos semanais, só chega aos dois tempos por semana quando é lecionada como uma disciplina semestral.
No 1.° e 2.° ciclos, as TIC só são lecionadas como oferta complementar, quando são escolhidas para o projeto educativo. No Secundário, os alunos têm a opção de Aplicações Informáticas no 12.° ano, que é sobretudo escolhida pelos alunos do curso de Ciências Socioeconómicas. A ANPRI deseja, por isso, que a nova disciplina possa ser lecionada desde o 1.° Ciclo, integrando a matriz curricular pelo menos a partir do 3° ano, e possa percorrer toda a escolaridade, mantendo-se, pelo menos, num dos anos do Secundário.
Faltam docentes
“A disciplina devia percorrer a escolaridade obrigatória, mas nem pedimos tanto. Não é por os alunos viverem desde que nascem com máquinas que são digitalmente competentes. Os desafios, como a desinformação ou o ciberbullying, são cada vez mais complexos. As escolas têm de preparar os alunos e estas são competências essenciais para a formação académica, mas também na integração do mercado de trabalho e para toda a vida, enquanto cidadãos”, diz Fernanda Ledesma.
O maior obstáculo ao reforço do programa é a falta de professores. Desde que Nuno Crato cortou o tempo das TIC, o grupo de recrutamento encolheu, sendo um dos primeiros a esgotar as reservas nos últimos anos. Há, porém, “profissionais na área e soluções que podem ser equacionadas” para dar resposta, refere a responsável.
Medidas
Sem telemóveis
O uso de smartphones pelos alunos, nas escolas, passa a ser proibido até ao 6.° ano (12 anos). No 3.° Ciclo deve ser aplicada “uma cultura de uso limitado” depois adaptada ao Secundário.
Inglês mais cedo
A intenção de integrar o ensino do inglês desde o 1.° ano mantém-se. Neste momento é a partir do 3.° ano.
Fusão de ciclos
Outra medida já prevista no anterior programa e que o Governo quer concretizar nesta legislatura: a reestruturação do Básico através da integração do 1.° e 2.° ciclos num único ciclo.
Linha de apoio
Programa prevê a criação de um “serviço em linha de apoio ao estudo” para resolver as dúvidas dos alunos em risco, priorizando os alunos com ASE do Secundário”.