Ministério propõe translocação para repovoar rios. Pescadores opõem-se e pedem outras medidas.
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A pesca da lampreia termina entre hoje e os próximos dias nos rios portugueses e o balanço das capturas continua a apontar para o declínio da espécie. A crise elevou os preços, que nestes últimos dias se mantêm entre “80 e 100 euros” cada exemplar e da região de Coimbra saiu mesmo uma recomendação de interdição das capturas a nível nacional.
Os pescadores opõem-se à medida e o Ministério da Agricultura e Pescas defende que, além de um período de defeso que já vigorou na faina deste ano, é necessário avançar com “outras medidas que garantam a sustentabilidade da espécie”. Uma delas, a translocação de lampreias, que consiste em libertar animais [eventualmente comprados diretamente aos pescadores], nas zonas de reprodução, para fomentar o repovoamento. A ação era defendida há alguns anos pelo investigador da espécie, Pedro Raposo de Almeida, diretor do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e professor da Universidade de Évora.
“O Governo ciente dos problemas da escassez da lampreia nos rios portugueses, e embora exista já um período de defeso, reconhece que pode ser necessário o desenvolvimento de outras medidas que garantam a sustentabilidade da espécie que tenha, por exemplo, como principal eixo a translocação de exemplares de lampreia, para montante dos rios”, adiantou ao JN fonte oficial do Ministério da Agricultura e Pescas, informando que “a Secretaria de Estado das Pescas promoveu uma reunião, no dia 6 de março, sobre a gestão da pesca e conservação da lampreia, com a presença do secretário de Estado das Florestas, representantes do ICNF, da DGRM e da Universidade de Évora.
Fecho não resolve nada
“Ficou claro que estamos perante um declínio da espécie, que é monitorizada de forma contínua desde 2013” em Portugal, mas que “também afeta rios em França e Espanha”, indicou a fonte, referindo que, nessa reunião, “ficou acordada a criação de uma comissão de acompanhamento, envolvendo autarquias locais, DGRM e Universidade de Évora”, para “acompanhar, a gestão da pesca e conservação da lampreia”, e o reforço de ações de fiscalização.
Face à escassez do peixe, a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIMRC) aprovou há dias uma posição em que recomenda “a interdição da pesca de lampreia a nível nacional e uma intensificação da fiscalização”.
Uma ideia não acolhida pelos representantes de pescadores dos rios Mondego e Minho.
“Fechar de norte a sul não é solução. Limitar as capturas, sim, mas o fecho não resolve nada”, defende Alexandre Carvalho, pescador da Figueira da Foz, considerando que a pesca não é único fator” da escassez da espécie. No caso do Mondego, a época, que termina a 5 de abril, após defeso de 16 a 26 de março, “foi muito má”, diz. “Começou fraca. Tivemos duas semanas em fevereiro, em que o rio deu lampreia. Houve um dia que deu 27, e depois mais nada”, destaca.
Rui Castro, presidente da Associação de Profissionais de Pesca do Rio Minho e Mar, recusa a interdição da lampreia. “Vemos outras causas [para a escassez]. Não é pesca. Uma das grandes causas é o assoreamento do rio Minho que é muito grave e depois tempos as espécies invasoras. O rio está com uma carga de espécies invasoras fora do normal”. Indica espécies como a carpa e o corvo-marinho, como predadores da espécie”, justifica.