
Alunos do 6.º ano de escola de Lisboa aprendem inglês com mentora do programa "Teach For Portugal"
Rita Chantre / Global Imagens
"Teach For Portugal" trava desigualdades no acesso à aprendizagem em dezenas de escolas do país. Jovens mentores ensinam os mais novos a gerir emoções e o rendimento escolar aumenta.
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O projeto internacional "Teach For Portugal" chegou há quatro anos ao nosso país para mostrar que todas as crianças podem sonhar com um futuro melhor, independentemente do meio de onde vêm. A iniciativa, presente em 23 municípios e 31 escolas de contextos desfavorecidos, apoia cerca de 6400 alunos, que são acompanhados por mentores durante dois anos. Através de um ensino menos convencional e adaptando as aulas às dificuldades específicas de cada turma, em várias disciplinas, jovens licenciados ajudam os estudantes a gerir melhorar as emoções e, consequentemente, o rendimento escolar.
Lisandro, 12 anos, não queria nada que a aula de inglês acabasse. Há um ano que aprender se tornou menos aborrecido e uma nova vontade de ir à escola, que até então não existia, surgiu. "É mais fácil ter aulas através de jogos e com duas pessoas. A cabeça alivia e estarmos mais relaxados ajuda-nos a aprender", diz o aluno do 6.º ano da Escola Básica do Alto do Lumiar, em Lisboa. Um pensamento partilhado após a aula, na qual esteve a trabalhar uma das principais dificuldades da turma - memorizar vocabulário - através da representação.
O professor Mário Balsa e Fátima Domingues, mentora neste estabelecimento de ensino desde o início do ano letivo, prepararam quatro guiões sobre diferentes temáticas, como o impacto dos videojogos no aproveitamento escolar. Os alunos são divididos em grupos e interpretam o diálogo em inglês em frente à turma. Os que estão a assistir têm de adivinhar o local onde está a acontecer a encenação. Esta forma de ensino, menos tradicional, já ajudou os estudantes a melhorarem a oralidade no inglês e a vencerem o medo de falar em público.
Mais atentos e interessados
"Tentamos perceber o perfil da turma e as necessidades dos alunos e adaptamos as técnicas que melhor se adequam à aprendizagem. Quando vêm agitados do recreio, paramos um bocadinho e temos um momento de silêncio no início da aula. Só falamos quando estamos prontos para aprender", explica Fátima Domingues, que garante sentir mudanças notórias. É licenciada em Filosofia e é um dos 46 mentores espalhados por todo o país que, durante dois anos, se juntam aos professores para pensarem em melhores estratégias de chegar aos alunos de uma forma mais eficaz.
Mário Balsa não tem dúvidas de que, quase um ano depois do projeto chegar à escola, "os alunos estão mais atentos e têm mais interesse". "Isto esbarra nas perspetivas de vida deles que, ao início, eram a continuidade do que têm em casa porque não conhecem outra realidade. Um dos meus alunos, com 14 anos, no início perguntava-me o que é que vem para aqui fazer e, durante esta aula, perguntou-me se lhe podia dar explicações porque vai precisar do inglês para trabalhar com turistas. Já há uma motivação", destaca.
A redução do absentismo escolar é outra das metas do programa internacional, que já tem resultados. "Metade dos alunos não vinha no início e, agora, alguns até se preocupam em perguntar quantas faltas já deram porque não querem chumbar."
SABER MAIS
Menos negativas
No ano letivo de 2021/ 2022, o projeto "Teach For Portugal" acelerou a redução de notas negativas em 45% no 2.º Ciclo e em 34% no 3.º Ciclo.
Parceiros
Projeto é financiado por parceiros. A Sonae permitiu a contratação de 14 mentores, dos quais seis no Alentejo, em dez escolas públicas de norte a sul.
Mais expectativas
A iniciativa, nas escolas desde 2019, em cada ano, mais do que duplicou a subida das médias do 5.º para o 6.º ano nas turmas acompanhadas. A maioria (87%) dos alunos reconhece maiores expectativas sobre o futuro.
