"Lenda negra" foi a resposta contra as críticas de Pacelli ao regime soviético, à revelia dos elogios unânimes às iniciativas de ajuda da Santa Sé aos judeus.
Corpo do artigo
A "lenda negra" sobre o Papa Pio XII, que o acusa de proximidade com o nazismo, tem duas causas, segundo Giovanni Maria Vian, historiador e director de "L'Osservatore Romano": a propaganda comunista e as divisões dentro da própria Igreja.
Di-lo no livro que coordenou, "Em defesa de Pio XII. As razões da história" (In difesa di Pio XII. Le ragioni della storia) e na entrevista à agência Zenit. O historiador não hesita em utilizar a expressão "lenda negra", pois o Papa Pacelli, que, ao morrer, em 1958, recebeu elogios unânimes pela obra desempenhada durante a 2ª Guerra Mundial, seria "diabolizado" a partir de 1963.
Para Vian, essa campanha contra o Papa deve-se à propaganda comunista, que se intensificou na época da Guerra Fria. "A linha assumida nos anos do conflito pelo Papa e pela Santa Sé, contrária aos totalitarismos, mas tradicionalmente neutra, foi, na prática, favorável à aliança contra Hitler e caracterizou-se por um esforço humanitário sem precedentes que salvou muitíssimas vidas humanas", observa.
Foi, porém, a linha anticomunista do Papa, que levou o comunismo, já durante a guerra, a acusá-lo, pela propaganda soviética, de cumplicidade com o nazismo e os seus horrores. Mesmo assim, Pio XII jamais aceitou que o nazismo pudesse ser útil para deter o comunismo.
A propaganda soviética, recorda o especialista, foi recolhida eficazmente pela peça teatral "Der Stellvertreyer" (O vigário), de Rolf Hochhuth, representada pela primeira vez em Berlim, no dia 20 de Fevereiro de 1963, em que se apresentava o silêncio como indiferença diante do extermínio de judeus. Já então, constata Vian, denunciou-se que aquela obra teatral relançava muitas das acusações de Mijail Markovich Scheinmann, no livro "Der Vatican im Zweiten Weltkrieg" (O Vaticano na 2ª Guerra Mundial), publicado antes em Russo pelo Instituto Histórico da Academia Soviética das Ciências, órgão de propaganda da ideologia comunista.
Uma nova prova da oposição de Pio XII ao nazismo é o facto de que os chefes do Terceiro Reich consideravam o Papa como um autêntico inimigo, segundo demonstram os documentos dos arquivos alemães.
A "lenda negra" contra Pio XII também teve promotores dentro da Igreja, por causa da divisão entre progressistas e conservadores, que se acentuou durante e depois do Concílio Vaticano II.