Proteção Civil admite dificuldades com o 112 mas garante que apagão não fez vítimas
O corte abrupto da rede elétrica não fez vítimas, mas provocou uma sobrecarga na procura da linha 112. A informação foi comunicada esta quarta-feira, em conferência de imprensa da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). As mensagens de alerta só chegaram a menos de 50% das pessoas.
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Volvidas 48 horas do "evento inédito" que assolou Portugal e Espanha na segunda-feira, ainda não é possível concluir qual foi a causa do apagão. No balanço feito à comunicação social esta segunda-feira, sobre a falha na rede energética nacional, o presidente da Proteção Civil detalhou, passo a passo, as ações concretizadas ao longo do dia, garantiu que não foram registadas vítimas devido ao apagão e considerou que a resposta das autoridades foi "adequada" face ao cenário "que a todos desafiou".
José Manuel Moura explicou que a prioridade das entidades envolvidas - ao todo, foram mais de 30, incluindo as operadoras de telecomunicações - foi fazer o levantamento das necessidades de geradores em pontos críticos, bem como da sua capacidade instalada. "A prioridade, a partir das 14 horas, eram os geradores, perceber a sua capacidade instalada porque nem todos serviriam, bem como a necessidade de combustíveis que cada um precisaria", afirmou o dirigente, explicando que cada equipamento tinha uma autonomia diferente até entrar em colapso. Uma “timeline difícil de cumprir” face às necessidades de fazer chegar o combustível aos pontos críticos.
SMS só chegou a menos de 50% das pessoas
Várias horas depois do início do apagão, às 17.15 horas, a Proteção Civil iniciou "o processo de envio das SMS à população, ainda com muito pouca informação sobre o que se estava a passar", mas a mensagem escrita, enviada entre as 18 e as 24 horas, não foi entregue à maioria. De acordo com José Manuel Moura, a mensagem terá chegado a 2,5 milhões de clientes nacionais, o que significa que "a taxa global de receção terá sido inferior a 50%", sendo que "normalmente atinge os 95%". "O que está aqui em causa foi a falta de cobertura de rede, equipamentos móveis sem bateria e a falta de energia nas células de rede de antenas dos vários operadores", justificou o responsável.
Apesar de a Proteção Civil só ter tomado a decisão de enviar as mensagens à população a partir das 18 horas, o presidente do organismo descartou responsabilidades na falha do envio dos SMS e afirmou que as operadoras de telecomunicações "ficaram limitadas na capacidade de resposta". José Manuel Moura frisou que a principal prioridade foi garantir a segurança dos pontos críticos, nomeadamente dos hospitais, e garantiu que o apagão não suscitou um aumento de ocorrências. "Não houve um incremento do número de ocorrências por força do apagão", anunciou o responsável, informando que a única ocorrência que verificou um aumento de pedidos de ajuda foi a abertura de portas, nomeadamente em Lisboa, devido ao número de pessoas presas em elevadores. "Nunca esteve em causa a boa prestação de socorro a qualquer evento que aconteceu", sublinhou.
Siresp podia ter falhado às 5 horas
Na mesma linha, o comandante nacional da Proteção Civil, também presente na conferência de imprensa desta quarta-feira, garantiu que "o socorro não esteve comprometido", apesar de admitir que "houve dificuldades" na linha 112. "As redundâncias implementadas deixaram-nos viver dentro de uma nova normalidade do que estávamos a viver, o socorro não esteve comprometido", destacou Mário Silvestre, afirmando que a mobilização de meios decorreu com "normalidade". Sobre as falhas no Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (Siresp), o comandante nacional revelou que houve o perigo de o mesmo deixar de funcionar totalmente às 5 horas da madrugada de terça-feira, e defendeu que "não há nenhum sistema que não seja falível", explicando que os constrangimentos que existiram se devem, sobretudo, à forte dependência das redes digitais.
Questionado sobre os longos tempos de espera no 112, o comandante da Proteção Civil admitiu que "obviamente houve uma sobrecarga" na procura da linha, até por "utilização indevida da rede", habitual nestas circunstâncias. "Houve chamadas por atender. Nós tínhamos problemas de todo o género nas redes móveis. Na realidade, ainda não sabemos bem hoje quais foram os problemas, de forma genérica, que tivemos na rede de comunicações. Obviamente que estamos a falar de pessoas a ligar de telemóveis com a sobrecarga toda que a rede tinha nessa altura. Todos nós, por certo, vivemos a circunstância de querermos falar com alguém, por rede de telemóvel, e não o conseguirmos fazer, e nós tivemos esse problema desde muito cedo. Acho que foi geral. Sim, houve dificuldades", afirmou Mário Silvestre.
Na terça-feira, a ministra da Saúde garantiu que "correu tudo muitíssimo bem" durante o apagão e assegurou que todas as chamadas que não foram de imediato atendidas foram retomadas posteriormente. "Não ficou nenhuma pessoa por contactar e por socorrer", garantiu Ana Paula Martins.