Mais de cem lesados do papel comercial do BES manifestaram-se, esta quarta-feira, em Lamego, mas longe do local das cerimónia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. No seu discurso, Cavaco pediu reforma das Forças Armadas.
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"É altura de concretizar as novas reformas das Forças Armadas, após a conclusão do processo legislativo. E isso "exige não só flexibilidade, tempo e capacidade de adaptação, mas também a disponibilização de recursos e a existência de meios", disse oPresidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
"Só deste modo se conseguirá assegurar uma transição gradual e sem ruturas para a nova estrutura", vincou Cavaco Silva, que falava na cerimónia militar das comemorações oficiais do 10 de Junho, onde sublinhou também que "as Forças Armadas não se compadecem com reformas sucessivas sem que as anteriores tenham sido concluídas e testadas".
"Esta preocupação deve estar presente em todos os responsáveis e ser merecedora de amplo consenso entre os agentes políticos, já que se trata de uma área de importância vital para a nação portuguesa", sublinhou o também o Comandante Supremo das Forças Armadas notando que "importa que os militares se revejam nessas reformas", já que é "fundamental que contribuam para o reforço da sua motivação e para a melhoria da sua capacidade operacional".
Cavaco Silva referiu na mesma cerimónia que Portugal "não pode ficar indiferente" à gravidade dos recentes acontecimentos nas periferias e no interior da Europa, que vieram inverter a tendência de desmilitarização e desinvestimento na defesa por parte das sociedades do mundo euro-atlântico.
Daí que o Presidente da República insista que "há que proceder às necessárias adaptações e ajustamentos na concretização das reformas em curso, de modo a garantir as capacidades e o empenhamento solidário" das Forças Armadas, em conjunto com os aliados, na defesa dos superiores interesses da paz, liberdade, segurança e convivência pacífica entre os povos".
Cavaco Silva referiu ainda que, "contrariando uma ideia instalada em alguns sectores da sociedade portuguesa, as Forças Armadas constituem "a área do Estado que mais se transformou nos últimos 40 anos", sendo que nos últimos 15 "o Orçamento da Defesa sofreu um decréscimo de cerca de 30%, com os efetivos a diminuírem em cerca de 35%".
O Presidente da República encerra esta quarta-feira as comemorações oficiais do 10 de Junho, que este ano decorrem em Lamego, com um discurso na sessão solene, durante a qual serão condecoradas mais de 40 personalidades, entre elas o ex-ministro Teixeira dos Santos, que tutelou a pasta das Finanças nos governos socialistas de José Sócrates, e que vai ser condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
A título póstumo, o antigo ministro da Ciência Mariano Gago, que morreu em abril deste ano e desempenhou funções nos governos socialistas de António Guterres e de José Sócrates, será agraciado com igual distinção.
Lesados do papel comercial do BES manifestam-se
Não puderam chegar-se perto das cerimónias militares no âmbito das comemorações do 10 de junho, em Lamego, mas mesmo assim cerca de um centena de lesados do papel comercial do BES manifestaram-se junto ao monumento do soldado desconhecido, cercados e sob vigilância de um forte dispositivo policial.
Os protestantes buzinaram e gritaram por "justiça" exigindo ter o seu dinheiro de volta, tal como já o fizeram noutras ocasiões em diversos pontos do país, mas sublinharam não ter a intenção de estragar as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Lamego.
A intenção, segundo Ricardo Ângelo, da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial do BES, era só entregar uma carta ao Presidente da República, pedindo-lhe que interceda por eles.
"Nós estamos enjaulados. Em vez de enjaularem as pessoas certas enjaulam as erradas. A nós, que somos pessoas honestas e que fomos roubados, é que metem dentro das grades", criticou-
Segundo Ricardo Ângelo, os manifestantes foram escoltados desde a autoestrada A24 até à avenida, sendo impossibilitados de assistirem à cerimónia.
"Estamos aqui enjaulados e não podemos demonstrar a nossa indignação a quem de direito", lamentou.