Mais de 1500 de agricultores, que trouxeram cerca de 500 tratores, manifestaram-se esta sexta-feira em Évora, com críticas ao Governo, à baixa utilização dos fundos europeus e à extinção das direções regionais de Agricultura. Os ânimos exaltaram-se quando alguns agricultores invadiram o átrio do edifício da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo, o que obrigou à intervenção da PSP.
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A invasão da CCDR Alentejo foi motivada pela indignação de alguns agricultores face à indisponibilidade dos responsáveis da comissão em receber a delegação dos manifestantes. "Acharam que foi uma desconsideração o presidente da CCDR, António Ceia da Silva, não estar lá e também não ser indicado um responsável para o documento", entregue pela delegação de agricultores. "As pessoas indignaram-se, porque não há uma consideração pela agricultura", explicou Luís Mira, secretário-geral da CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal.
A marcha dos agricultores terminou em frente às instalações da CCDR do Alentejo. A delegação dos manifestantes entrou no edifício para entregar o documento reivindicativo, mas foi recebida por uma funcionária. À saída, um dos elementos do grupo tirou uma corrente de um saco de plástico e trancou a cadeado duas das portas de entrada, o que levou a PSP a intervir para reabri-las. O cadeado acabou por ser retirado por um dos manifestantes.
A manifestação, que foi convocada pela CAP, entupiu as ruas de Évora e reuniu agricultores de todo o país. Um dos manifestantes, Pedro Atalaia, que é agricultor, lamentou a "incompetência de quem nos governa". A extinção das direções regionais de Agricultura preocupa o setor. "Trata-se de uma forma de regionalização encapotada. O Governo está a esvaziar o Ministério da Agricultura, mais valia dizer que quer acabar com ele", critica Pedro Atalaia, descontence com a "tão baixa utilização dos fundos, que acabarão por ser devolvidos a Bruxelas", apesar do setor precisar do dinheiro.
"É pura incompetência de quem os gere", reitera, garantindo que os agricultores portugueses "ainda receberam quaisquer ajudas contra a seca e contra a subida de preços. Foram prometidas, mas não foram pagas". Pedro Atalia só conseguiu sobreviver, porque tinha "alguma folga financeira para fazer face à subida de custos. Neste momento, está a equacionar "engorda os animais ou se os vende ao desmame, pois o preço das rações é incomportável". Se isso suceder, sublinha, "vamos deixar de produzir carne, que é um setor onde o país é deficitário, o que irá levar a um maior desequilíbrio da balança alimentar".
O secretário-geral da CAP corrobora as críticas do manifestante. Há "1300 milhões de euros do anterior quadro comunitário de apoio que estão por executar", sustenta. Acresce a nova Política Agrícola Comum (PAC), "que prevê um conjunto de decisões desfavoráveis aos agricultores e que levará à quebra dos seus rendimentos, o desmantelamento do Ministério da Agricultura e a extinção das direções regionais" com a integração nas CCDR..
"É um erro. A PAC é uma matéria muito complexa que não se compagina com este tipo de divisões e este tipo de gestão", salientou Luís Meira, certo de que faltam condições políticas à atual ministra. "Ainda na semana passada, veio propor um preço justo ao consumidor, esquecendo-se de que é ministra da Agricultura. É uma proposta totalmente infantil e foi logo contrariada pelo ministro da Economia", defendeu. A luta é para continuar e admite seguir os exemplos dos franceses e dos belgas. "Vamos nos reunir com as associações, porque há muitas outras formas de luta".