Protesto pede fim da "repressão" estudantil após detenções. PSP chamada por deputada do Chega
Estudantes protestaram, esta quinta-feira, em faculdade lisboeta, após semana de detenções. A PSP esteve novamente no local, depois de ter sido chamada pela deputada do Chega Rita Matias, que foi vaiada pelos universitários.
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A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa foi, esta quinta-feira, palco de um protesto estudantil contra a "repressão policial" nas instituições de ensino superior. Foram cerca de 150 estudantes, afetos ao grupo “Greve Climática Estudantil Lisboa” e ao movimento “Fim ao Fóssil: Ocupa!”, que marcaram presença. A manifestação acontece na sequência de uma semana de confrontos com as autoridades.
Beatriz Xavier, porta-voz do grupo, afirma que a presença policial na manifestação desta quinta-feira, que se iniciou pelas 13.30, foi “imediata”. Lamenta que o protesto tenha sido marcado pela presença de elementos da juventude do partido Chega e da deputada Rita Matias, que “distribuíam panfletos contra a causa climática”. “Tanto a direção e os seguranças da faculdade, bem como a polícia, nada fizeram para expulsar estes elementos externos à instituição e que estavam a causar confusão”, aponta Xavier, denunciando ameaças de detenção de manifestantes, dois dos quais identificados pelas forças de segurança.
A Direção Nacional da PSP afirma, em resposta ao JN, que foi a deputada Rita Matias, do Chega, quem chamou a Polícia. "Pelas 12.54 foi comunicado à Policia de Segurança Pública, através do 112 que na Faculdade de Ciências, sita na Avenida de Berna em Lisboa, um deputado do partido Chega solicitou auxílio por sentir a sua integridade física em risco, no interior daquelas instalações. Da deslocação ao local, resultou a identificação de quatro suspeitos por ameaças. A comitiva do Chega abandonou, por iniciativa própria, aquele local após a resolução da ocorrência", disse a PSP.
O protesto acontece após a ocupação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, com o objetivo de exigir uma transição energética justa, ter levado, na madrugada de terça-feira, à intervenção policial, a pedido da direção da instituição, e que culminou na detenção de duas jovens. Já na noite desta quarta-feira, os seguranças da mesma faculdade “fecharam o portão principal do edifício uma hora antes do horário oficial”, atitude que deixou as estudantes que estavam em ocupação “vulneráveis aos abusos da direção e da polícia”, diz Beatriz Xavier. No interior, ficou retida uma turma de mestrado, junto com a professora, até que a segurança das manifestantes fosse garantida pela polícia.
Já na Faculdade de Psicologia foram, também esta quarta-feira, detidos outros três estudantes. A porta-voz da “Greve Climática Estudantil Lisboa” garante que nenhuma violência ou resistência foi aplicada pelos visados, “que estavam apenas no corredor da faculdade a dar uma palestra sobre a importância do fim do fóssil”. “A direção decidiu chamar a polícia, que procedeu à detenção das duas palestrantes e a um outro estudante que estava a assistir, aplicando força desnecessária face à situação.”
O partido Livre diz ter já questionado o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, sobre a detenção destes estudantes, considerando que houve uma “desproporção nos meios utilizados e no tipo de força empregada”.
Diretores das escolas esclarecem
Esta tarde, Telmo Mourinho Baptista, diretor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, e Luís Miguel Carvalho, diretor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, emitiram um esclarecimento sobre os casos, em que dizem ter assistido desde segunda-feira, dia 13, a uma vaga de manifestações sobre o clima nas escolas que dirigem.
"Essas ações incluíram formas de bloqueio da atividade regularmente realizada numa instituição universitária, tendo os ativistas tentado bloquear o acesso tanto às Escolas, na segunda-feira, como a várias aulas (na terça e quarta-feira). Foi-lhes sempre solicitado que removessem tais barreiras ao funcionamento regular das atividades. Perante a continuada recusa, e não tendo as Escolas meios de intervenção para resolver a situação, foram chamadas as autoridades, que intervieram no sentido de permitir o restabelecimento das atividades académicas", referem.
Os dirigentes argumentam que, na quarta-feira, dia 15, "perante mais um bloqueio ao nosso anfiteatro principal, com instalação de cartazes e tendas, e ainda com a instalação de pessoas sentadas que impediam o acesso a esse espaço onde iriam decorrer aulas entre as 14h e as 20h, e perante a recusa de facilitar o acesso, foi de novo solicitada intervenção das autoridades. É nessas circunstâncias que a autoridade policial fez a intervenção que teve como conclusão a detenção das ativistas, segundo o julgamento e o protocolo de atuação da entidade".
Sobre a intervenção policial durante a palestra, alegam que não foi uma "forma de coartar a liberdade de expressão", por não estar "prevista ou agendada qualquer palestra para aquele espaço ou qualquer outro. O que aconteceu foi um improviso por partes dos ativistas, destinado a criar uma situação propícia à narrativa de que se tentava limitar a sua liberdade de expressão", apontam.
Telmo Mourinho Baptista e Luis Miguel Carvalho terminam o esclarecimento garantindo que "o direito à manifestação e a expressão de opinião nunca foi posto em causa nas nossas Escolas, ao contrário daquilo que muito lamentavelmente alguns ativistas pretendem fazer crer nas suas declarações públicas".
"Esquecem, apenas, que numa sociedade democrática e aberta, da qual a universidade se orgulha de ser instituição primeira, existem regras de vida comum, incluindo regras sobra a manifestação pública, e direitos e deveres aplicáveis a todos, e que os órgãos de governo das escolas são responsáveis por respeitar e por ver respeitados", concluem, lembrando ser necessário "respeitar a legalidade democrática, os mecanismos estabelecidos para a representação, e funcionar com regras que permitam a todos a sua igual expressão".