A diretora -Geral da Saúde, Graça Freitas, terminou o mandato no final de 2022 e está em gestão corrente até ser substituída. Esta tarde de quarta-feira, na Comissão de Saúde, perguntaram-lhe como deverá ser o seu sucessor. Persistente, dedicado e "mais digital" para se preparar para a revolução que aí vem.
Corpo do artigo
"Há vantagens em ser médico" com "profundos conhecimentos de saúde pública" e com provas dadas na matéria, começou por dizer Graça Freitas, em resposta ao deputado Pedro Frazão, do partido Chega, que requereu a audição da diretora-geral da Saúde para um balanço do mandato e outros temas.
Depois terá de ter "ambição e uma visão para a Direção-Geral da Saúde", continuou, acrescentando que o cargo exige "persistência" e uma "grande dedicação". No final, concluiu com um desejo sobre o sucessor: "Costumo dizer que sou uma sexagenária analógica e gostava que fosse alguém mais digital do que eu", confessou.
Minutos depois, admitiu que "gostava de ter 30 anos e de poder trabalhar com tudo o que a tecnologia nos dá", aludindo à telemedicina, à telessaúde, às oportunidades que hoje estão ao alcance do telemóvel. "É uma quarta revolução industrial e há que tirar partido de tudo isto", desafiou.
A escolha do próximo diretor-geral da Saúde terá de passar pela Comissão de Recrutamento e Seleção da Administração Pública (CReSAP), mas o concurso ainda não foi aberto, nem consta da lista dos procedimentos concursais a abrir em breve. Pelo que o processo ainda deverá durar vários meses.
O atual subdiretor-geral da Saúde, Rui Portugal, já se adiantou, tendo afirmado recentemente, em entrevista ao jornal Público, estar "totalmente preparado" para apresentar uma candidatura ao cargo de diretor-geral da Saúde.
Mandato marcado pela "tempestade" pandemia
Na comissão de Saúde, Graça Freitas revisitou os cinco anos de mandato, dois deles fortemente marcados pela "tempestade" da pandemia.
Na fase aguda covid- 19, considerou que "a DGS esteve à altura dos desafios", "mostrou capacidade de resiliência" e foi capaz de gerar parcerias importantes, com várias entidades na tutela do Ministério da Saúde, nomeadamente a Administração Central do Sistema de Saúde, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, o Infarmed, o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge. "Foi uma relação extremamente frutuosa", classificou.
Sobre as declarações que fez, em janeiro de 2020, sobre o novo vírus que emergia na China, lembrou o contexto e garantiu que sempre falou "respaldada" na opinião de organismos de referência, como a Organização Mundial da Saúde, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, entre outra evidência científica. "Não sou uma pessoa com uma imaginação muito fértil, habituei-me a ler o que vem da OMS, do ECDC, do CDC americano", afirmou, em resposta ao Chega.
Indústria prepara vacina bivalente
Do PS e do PSD, Graça Freitas ouviu agradecimentos pela forma como liderou todo o processo da pandemia em Portugal, com destaque para os resultados alcançados pela vacinação contra a covid-19.
Para o futuro, e respondendo a perguntas sobre como evoluirá o processo vacinal, explicou que a "tendência será para uma estratégia sazonal de proteção dos mais vulneráveis". Na prática, adiantou, deverá haver campanhas sazonais parecidas com as da gripe. E a vacina poderá ser a mesma porque a indústria farmacêutica está a trabalhar na criação de uma vacina bivalente, que proteja simultaneamente para os vírus da covid-19 e da gripe.
Respondendo ao deputado Pedro Frazão sobre as razões da sua saída, Graça Freitas assegurou que foram estritamente pessoais e nada tiveram a ver com nomeações ou com a criação da Direção - Executiva do SNS. "Fiz um balanço em 2022 e perspetivei como queria passar o resto da minha vida", explicou. Depois de 42 anos de trabalho dedicado à causa pública, sempre em regime de exclusividade, a decisão foi retirar-se.