Atual chefe do Estado foi o presidente social-democrata que mais tempo aguentou sem ser deputado. Seis dirigentes chegaram ao poder no partido sem terem um assento no Parlamento.
Corpo do artigo
O próximo líder do PSD vai ter de conseguir bater o recorde de Marcelo Rebelo de Sousa, se quiser ser o candidato do partido às legislativas de 2026. No total, foram seis os dirigentes que conseguiram conquistar o poder social-democrata sem ter assento no Parlamento. E três nunca chegaram a ser deputados. Desses, o atual chefe de Estado foi o que aguentou mais tempo a liderar o partido na Oposição e fora da Assembleia da República: três anos.
A tarefa não é fácil, admitem especialistas em Ciência Política: liderar um partido na Oposição sem ter o palco da Assembleia da República. Ainda por cima, quando o partido que está no poder tem maioria absoluta, como vai acontecer ao novo líder do PSD.
Marcelo Rebelo de Sousa aguentou três anos a liderar o PSD sem estar no Parlamento, entre 1996 e 1999. Combateu um Executivo chefiado por António Guterres e ainda conseguiu impor dois referendos: regionalização e aborto. Marques Mendes que, seis anos depois, se tornou líder do PSD, era o presidente do grupo parlamentar do partido.
Trabalho prejudicado
"Obviamente que o não ser deputado prejudica o seu papel de oposição ao Governo", reconhece José Manuel Leite Viegas, sublinhando que, sempre que o Governo estiver no Parlamento a explicar-se, o líder da Oposição não o poderá confrontar diretamente. "Isso não quer dizer que seja decisivo, mas é óbvio que não facilita o seu papel", acrescenta o investigador do ISCTE.
"A presença de um líder de Oposição na Assembleia da República é sempre importante, porque é aí que decorre grande parte do trabalho político", concorda o investigador da Universidade do Minho, José Palmeira.
No entanto, aquele politólogo ressalva que essa situação "perde relevância" quando se está perante um Governo de maioria absoluta. "O debate tem muito menos relevância, porque já se sabe qual será o desfecho. A tendência é para que as coisas passem para fora do Parlamento", crê.
José Manuel Leite Viegas também considera que o próximo líder do PSD vai ter que saber gerir muito bem as vezes que deverá aparecer, publicamente, a comentar o Governo. "Só em situações muito bem escolhidas ou cai no risco de ser desvalorizado", recomenda, lembrando que é sobre os sociais-democratas que recai "a maior exigência", uma vez que é "o maior partido na oposição".
Consenso interno
O próximo líder do PSD deverá ter, assim, um grande poder de oratória, alguma contenção e capacidade de "criar o mínimo de consenso" interno, crê José Manuel Leite Viegas.
É que são quatro os anos em que terá de conseguir liderar o partido sem assento no Parlamento, para garantir que será o candidato às legislativas de 2026. Umas eleições em que o partido lhe exigirá vitória.
No PSD, ninguém chegou perto do recorde de três anos de Marcelo Rebelo de Sousa. Todos estiveram apenas um ano nessa situação, ou porque se demitiram ou porque acabaram por ser eleitos deputados. Foi o caso de Manuela Ferreira Leite, que chegou à liderança em 2008 e, um ano depois, foi eleita deputada na sequência da derrota nas legislativas contra José Sócrates. Ou de Rui Rio, que conquistou a presidência do partido em 2018 e, um ano depois, entrou no Parlamento pelo mesmo motivo.
Já Santana Lopes, eleito em 2004, passou da Câmara de Lisboa para o Governo. Liderou o partido um ano. E Passos Coelho não era deputado quando conquistou o PSD em 2010 e acabou primeiro-ministro, um ano depois. Por sua vez, Luís Filipe Menezes esteve oito meses à frente do PSD e nunca saiu da Câmara de Gaia.
"O facto de o próximo líder do PSD não estar no Parlamento vai dar-lhe tempo para o trabalho político, ou seja, para percorrer o país", destaca José Palmeira, concordando com Leite Viegas de que será fulcral a capacidade de unir o partido.
Ferreira Leite teve três líderes da bancada
Durante os dois anos em que liderou o PSD, Manuela Ferreira Leite teve três líderes parlamentares. Quando conquistou o partido, em 2008, era Paulo Rangel o presidente do grupo parlamentar. Entre junho e outubro de 2019, a tarefa coube a António Montalvão Machado. No último ano da liderança da ex-ministra das Finanças, o rosto do PSD no Parlamento foi José Pedro Aguiar Branco (outubro 2009 a abril 2010). Ferreira Leite liderou o partido durante um ano sem ser deputada e fez frente a um Governo minoritário do socialista José Sócrates.
Seis dirigentes chegaram ao poder no partido sem terem um assento no Parlamento