Pedro Nuno acabará por viabilizar o Orçamento de Estado de 2025 para não ser responsabilizado por nova crise política.
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Quando os partidos se preparam para voltar à mesa das negociações, o PS parece estar numa encruzilhada e avalia os riscos políticos. Miguel Ângelo Rodrigues, vice-presidente da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política da Universidade do Minho, crê que Pedro Nuno Santos está “condenado” a deixar passar o Orçamento do Estado (OE). Também o economista João Cerejeira prevê que “a abstenção do PS” viabilizará o OE.
“Há dois riscos insuportáveis para o PS”, diz o politólogo Miguel Rodrigues. “Primeiro, o ónus de uma crise política. Chumbar o OE pode levar o país para eleições antecipadas e com isso hipotecar os benefícios para os cidadãos que o PS conseguiu aprovar na Assembleia e quer obviamente capitalizar. A não ser que o PSD seja suficientemente ingénuo para permitir agora um retificativo com essas medidas, o chumbo do OE tem custos políticos”, ressalvou ao JN.
Em segundo lugar, nota que “eleições antecipadas obrigam Pedro Nuno Santos a ganhar”. Ou seja, haver “duas derrotas consecutivas em menos de um ano seria fatal para as suas aspirações políticas. E sabe que, se quer ser primeiro-ministro, tem de deixar passar o OE, capitalizar as medidas e apostar todas as fichas nas próximas eleições para criar uma onda de vitória”.
“Efeito Marcelo esgotou-se”
Quanto aos apelos do presidente, crê que “o efeito Marcelo se esgotou no anterior episódio com António Costa antes da maioria absoluta”. “Nessa altura, personalizou-se o chumbo do OE na falha ou incapacidade do primeiro-ministro para fazer pontes”. Além disso, “foi dito que o país não iria sobreviver aos duodécimos. Agora, diz-se o oposto. Obviamente que o contexto e a situação política servirão para explicar a inversão no argumento, mas a mensagem do presidente perdeu poder”.
“Sem diferenças de fundo”
“O que me parece é que vai haver um acordo com abstenção do PS, eventualmente com votos contra de alguns deputados”, afirmou, por sua vez, João Cerejeira, economista e docente da Universidade do Minho, apesar do “dramatismo político” até lá.
“Não me parece que haja diferenças de fundo nas propostas do PS e do PSD que justifiquem uma crise política nesta altura”, referiu ao JN, embora o PSD possa “ir mais longe na redução do IRS para escalões mais elevados e no IRC”. Sobre este imposto, diz faltar uma alteração estrutural. Não sendo a reforma fiscal feita em sede de Orçamento, crê que os partidos poderiam “assinalar um princípio de acordo”.
Chumbar o OE traria “um risco muito grande ao PS”, de “uma derrota maior nas eleições”. Sobretudo se fosse responsabilizado pela crise política. Mas é normal esta “retórica política” para “forçar propostas”.
“Acredito que, no fim, vai haver um entendimento com o PS”, diz o economista ao JN, não crendo num acordo com o Chega, até “pela posição mais agressiva”. O Orçamento tem de ser apresentado até 10 de outubro.
O Chega informou Luís Montenegro da sua retirada das negociações e João Cerejeira sublinha que “é o primeiro a colocar-se de fora a partir do momento que o PS dá sinais de querer negociar”.
No domingo, Pedro Nuno Santos incluiu, nas condições para negociar, a alteração dos regimes de IRS e IRC, que deram entrada na Assembleia, “profundamente injustos, ineficazes e injustificáveis”. E avisou que, “se as propostas de autorização legislativa sobre IRC e IRS forem aprovadas com a IL e o Chega, então será com esses partidos que também o OE deve ser aprovado”.