PS só foi informado minutos antes e teme "regresso ao passado" com ex-ministra
Pedro Delgado Alves, vice da bancada socialista, criticou o Governo pela falta de diálogo na indicação de Maria Luís Albuquerque para comissária, lamentando que o líder do PS tenha sido informado "minutos antes" do anúncio. E diz que pode ser um "regresso ao passado" devido às "medidas gravosas" da ex-ministra.
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Quanto à escolha propriamente dita, o socialista disse que o anúncio desta quarta-feira "não é necessariamente uma boa notícia ou uma boa memória para a maioria das pessoas". "Maria Luís Albuquerque foi responsável direta por medidas muito gravosas para um conjunto significativo de setores do país, pensionistas, trabalhadores da Administração Pública e os próprios serviços públicos", recordou.
"Tem um legado no que diz respeita à gestão de uma política de austeridade que em muitos aspetos ia até até para lá daquilo que a União Europeia naquele momento defendia e portanto, caso não tenha reencontrado o caminho e percebido que os tempos mudaram, pode representar um regresso ao passado que não é positivo até na ótica das instituições europeias", alertou o vice-presidente do grupo parlamentar.
A UE e a política monetária "mudaram bastante" desde que Maria Luis Albuquerque foi ministra das Finanças, sublinhou.
Mas o deputado começou a sua intervenção destacando que, apesar de ser uma competência do Governo a indicação do candidato a comissário europeu, "isso não impede os governos de, querendo construir um consenso o mais alargado possível, auscultar as outras forças políticas, em particular o maior partido da Oposição. E esse é aliás o histórico dos governos socialistas".
"Assim foi em 1999, assim foi em 2019 e, aliás até, em 2009 o próprio PS prescindiu de indicar uma personalidade da sua área política, reconduzindo como indicação para presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso", recordou Pedro Delgado Alves. Para o PS, "o alargamento do processo decisório e auscultação teria sido democraticamente mais saudável e desejável".
"Portanto, uma mera informação ao PS, minutos antes do momento do anúncio público, não me parece que satisfaça esse objetivo de cooperação institucional e leal com todos os partidos", criticou ainda. Essa informação foi transmitida a Pedro Nuno Santos.
Vai participar na Universidade de Verão
"Um aspeto apenas que nos parece ter sido prudente foi ter recuado na ideia de eventualmente isto ser anunciado num evento partidária", afirmou o vice da bancada do PS, aludindo à Universidade de Verão do PSD. "Pelo menos preservou-se alguma dignidade insitucional, colocando no local próprio, a residência oficial do primeiro-ministro uma comunicação que é oficial". E diz que a notícia veiculada pela comunicação social permitiu ao Governo "recuar" e "não cometer esse erro" que é "indesejado no quadro das relações institucionais".
Porém o JN sabe que, uma vez feito o anúncio, Maria Luís Albuquerque deverá mesmo participar na Universidade de Verão. A agenda para dia 31, sábado, inclui a presença de "um convidado surpresa".
O primeiro-ministro anunciou esta quarta-feira, em São Bento, Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças de Passos Coelho, para comissária europeia, destacando que tem "qualidades e competências extraordinárias". Proposta que poderá garantir a Portugal uma pasta de peso na Comissão Europeia e até mesmo uma vice-presidência, uma vez que a maioria dos estados não está a cumprir o pedido da presidente do Executivo comunitário, que pediu para indicarem também mulheres.
"Tomei a decisão, em nome e com o apoio de todo o Governo, de propor à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a doutora Maria Luís Albuquerque para o colégio de comissários europeus em representação de Portugal", referiu Luís Montenegro, notando que o nome foi escolhido com "todo o recato". Destacou ainda esta manhã que a ex-ministra das Finanças "é detentora de qualidades e competências extraordinárias, que vão enriquecer a Comissão Europeia e prestigiar Portugal".