Paulo Rangel exigiu, este sábado, "um esclarecimento imediato e cabal" do primeiro-ministro António Costa e do ministro dos Negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho sobre a derrapagem no preço das obras do antigo Hospital Militar de Belém. O vice-presidente do PSD acusou ainda o atual ministro dos Negócios Estrangeiros de nada ter feito para "evitar, travar e impedir" o acréscimo da despesa e de "pactuar" com a derrapagem.
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Em conferência de imprensa a partir do Porto, Paulo Rangel começou por considerar "altamente preocupantes" as revelações de que João Gomes Cravinho estava a par da derrapagem do preço das obras no antigo Hospital Militar de Belém, ao contrário daquilo que tinha dito no Parlamento e de "pactuar" com este "escândalo na Defesa".
O vice-presidente exigiu ainda o "esclarecimento imediato e cabal" do atual ministro dos Negócios Estrangeiros e também do primeiro-ministro António Costa acerca deste assunto.
"É o primeiro-ministro que tem de assumir responsabilidades", disse o vice-presidente do PSD, defendendo que Costa é que tem de fazer o seu "juízo" sobre o que classifica como "a decomposição progressiva do Governo e da sua autoridade", fazendo também referência à investigação judicial que visa o desempenho do ministro das Finanças quando foi presidente da Câmara Municial de Lisboa.
Rangel considera que tanto João Gomes Cravinho como Fernando Medina estão "fragilizados politicamente" e têm a sua "credibilidade e autoridade política diminuídas". "Cabe ao senhor primeiro-ministro fazer o juízo sobre que condições é que acha que dois ministros fundamentais do seu Governo têm para continuar", disse, lembrando que António Costa optou por fazer uma remodelação minimalista quando teve oportunidade de mexer no Governo após a demissão de Pedro Nuno Santos.
"Tem de ser o Governo a assumir que falhou e que fracassou", disse, desafiando Costa a "assumir as suas responsabilidades". "Tem de ser ele a falar aos portugueses", afirmou Paulo Rangel, aludindo também ao facto de Pedro Nuno Santos ter vindo agora admitir que afinal soube e deu o seu aval ao valor da indemnização de meio milhão de euros paga à ex-administradora da TAP Alexandra Reis. "Até porque o caso Pedro Nuno Santos tem implicações diretas no caso do ministro das Finanças", afirmou Rangel.
"Apodrecimento progressivo"
"O PSD não se conforma com este estado de apodrecimento progressivo do Governo e das instituições à frente das quais o Governo está", disse o vice-presidente do PSD. Questionado sobre se o presidente da República devia ter uma outra atitude perante o Governo, Rangel lembrou a intervenção de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa "quando disse preto no branco que o questionário [de escrutínio dos membros do Governo] também se aplica ao senhor ministro dos Negócios Estrangeiros". "Para mim essas palavras têm um significado claro", disse, lembrando que "o presidente da República tem de ter uma intervenção prudente e responsável".
As obras no Hospital Militar de Belém, que começaram em março de 2020, iam custar 750 mil euros ao Estado e acabaram por derrapar para os 3,2 milhões de euros.
O governante tem dito que desconhecia a derrapagem de mais de dois milhões de euros, mas, segundo o jornal "Expresso", que cita um ofício de março de 2020, com as obras já a decorrer, o diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN) - arguido por corrupção e branqueamento na Operação Tempestade Perfeita -, informou o ministro sobre "trabalhos adicionais" que já somavam quase um milhão de euros extra.