Líder do PS acusou Rui Rio de considerar a hipótese no debate com André Ventura. PSD desmentiu, clarificou posição e ripostou que António Costa tentou enganar os portugueses.
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A prisão perpétua saltou para a ribalta da pré-campanha e foi o tema, esta terça-feira, de uma troca de acusações entre PS e PSD, com algum "diz-que-diz" pelo meio e com António Costa e Rui Rio envolvidos. O PS acusou Rio de ceder ao Chega, o PSD respondeu que Costa tentou enganar os portugueses e clarificou que "Rui Rio é contra qualquer tipo de prisão perpétua".
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Na origem da troca de acusações está o debate de Rui Rio com André Ventura, anteontem. O social-democrata abordou a questão da prisão perpétua ao oitavo minuto de debate, em resposta a André Ventura, que o tinha desafiado a clarificar a posição do PSD.
No debate, Rio limitou-se a descrever que as possibilidades legais existentes na Europa são três: há países contra, outros a favor e a maioria com um modelo misto que implica uma avaliação ao fim de alguns anos. Não se comprometeu com nenhuma, mas disse ser "completamente contra" a prisão perpétua simples, sem avaliação, considerando-a "um atraso civilizacional". Antes que opinasse sobre os outros modelos, Rio foi interrompido pela pivô da SIC, Clara de Sousa, para equilíbrio de tempo, e não se voltou mais ao assunto.
O PS aproveitou o debate e, primeiro por José Luís Carneiro, secretário-geral ajunto, acusou Rio de "negociar em direto e ao vivo com o doutor André Ventura", admitindo "ceder numa matéria tão sensível como a prisão perpétua".
Depois, foi António Costa, que reiterou a acusação, sublinhando que "o combate ao populismo exige linhas vermelhas inultrapassáveis" e que os valores do humanismo que inspiram a nossa sociedade não são transacionáveis". Por isso, o PS não cederá "em circunstância alguma", garantiu.
Reações em catadupa
As acusações socialistas originaram reações em catadupa do PSD, primeiro por Rui Rio, que no Twitter reiterou que está ao Centro, e respondeu a Costa de forma irónica: "A continuar a deturpar desta forma o que eu digo, mais uma semana e o doutor António Costa pode estar a acusar-me de defender que as mulheres devem andar de burca". Depois foi José Silvano, secretário-geral do PSD, que emitiu um comunicado em que acusou Costa de deturpar "as afirmações do presidente do PSD, numa clara tentativa de enganar os portugueses".
Faltava, porém, clarificar o essencial: é ou não o PSD de Rui Rio contra qualquer tipo de prisão perpétua? A resposta, dada ao JN por fonte oficial do partido, é a de que "Rui Rio é contra qualquer tipo de prisão perpétua". Dúvida desfeita.
O que disse Rio no debate
Então, o que disse concretamente Rui Rio sobre a prisão perpétua que deu origem a esta polémica? Primeiro, enumerou os três modelos europeus: "Há os países que não têm, que somos nós, e que são poucos. Há os países que têm prisão perpétua e que são poucos. E há no meio um vasto conjunto de países que tem prisão perpétua, mas de certa forma mitigada. Ou seja, é condenado a prisão perpétua, mas ao fim de quinze anos, por exemplo, sai em liberdade condicional. Se faz qualquer coisa vai lá para dentro e então vai a prisão perpétua por inteiro".
Depois, recusou a segunda opção: "Se nós estamos a falar da prisão perpétua e ponto final parágrafo, vai para a cadeia e nunca mais sai de lá até ao fim da vida, isso nós somos completamente contra, é um atraso civilizacional". Neste momento, foi interrompido e não regressou ao raciocínio.