Foi preciso um mês após a convocação de diretas para os sociais-democratas saberem que vão ter de escolher a 28 de maio entre duas candidaturas, ambas descendentes do passismo. Jorge Moreira da Silva anunciou, esta quinta-feira, que se demitiu da OCDE para entrar na corrida contra Luís Montenegro. Apresenta a candidatura na segunda-feira, em Lisboa.
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Moreira da Silva já tinha admitido avançar nas diretas de novembro. Mas acabou por recuar. Na altura, a candidatura do ex-ministro do Ambiente de Pedro Passos Coelho estava envolta em mistério, especulando-se internamente sobre quais seriam os seus apoios num partido então dividido entre Paulo Rangel e Rui Rio.
Cinco meses depois, o mistério mantém-se. No PSD, espera-se que, segunda-feira, comece a levantar-se o véu em torno dos apoiantes de Moreira da Silva aquando da apresentação da sua candidatura que terá lugar no Parque de Monsanto, em Lisboa. O antigo líder da JSD deverá apresentar-se, porém, sozinho, uma vez que pretende ser um candidato "antissistema e antiaparelho", procurando conotar o adversário Luís Montenegro com aqueles que, há anos, tentam conquistar o poder no partido.
Seis anos na OCDE
Esta quinta-feira, Jorge Moreira da Silva deu o primeiro passado rumo à tentativa de conquista da liderança do PSD, anunciando a sua demissão de diretor da Cooperação para o Desenvolvimento na OCDE. Um cargo que ocupava há seis anos e que conquistou através de uma candidatura individual.
A decisão dita que Moreira da Silva abandone Paris, onde residia desde então, e se mude de armas e bagagens para Lisboa, onde apresenta a sua candidatura e de onde partirá para a rua, procurando recuperar terreno face a Montenegro que já iniciou a habitual volta pelo país dos candidatos e tem toda a sua máquina a trabalhar há duas semanas. Uma máquina que, na verdade, existe desde que confrontou Rui Rio nas diretas de 2020, que tiveram uma inédita segunda volta.
Projeto de renovação
Moreira da Silva tenciona inverter o que parece ser uma desvantagem, apresentando-se como "portador de um projeto capaz de renovar o PSD", ou seja, como uma aragem de ar fresco contra os do costume.
Trata-se de uma estratégia que lhe poderá valer apoios entre rioistas e passistas e até entre fações críticas da atual liderança que não gostam do estilo de Montenegro. Daí que, internamente, se comece a acreditar que Moreira da Silva possa ter um resultado "interessante", tornando menos garantida uma vitória do ex-líder parlamentar.
"Candidato-me à liderança do PSD por sentido de responsabilidade, atendendo às circunstâncias difíceis que tanto Portugal como o PSD enfrentam", afirmou o ex-ministro, no comunicado em que revelou a "difícil decisão" de deixar a OCDE. O que já tinha anunciado que faria após a conclusão do processo de tratamento, análise e apresentação das estatísticas anuais da Ajuda Pública ao Desenvolvimento dos 30 principais doadores internacionais.
O ex-ministro puxa pelo seu currículo além da carreira política, para garantir ser capaz de "libertar o potencial de crescimento sustentável em Portugal e assegurar que os portugueses reconquistam o seu pleno direito ao futuro".
Na quinta-feira, Moreira da Silva será recebido pelo presidente da República, tal como Marcelo Rebelo de Sousa já fez com Luís Montenegro.