Orientações da organização passam por travar o trânsito no país, com encenações logo de manhã cedo. Poder político reage com cautela a movimento, que integra socialistas e código de atuação.
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A PSP tem debaixo de olho, há mais de duas semanas, todos os grupos organizadores do protesto "Vamos parar Portugal", que começou a ser preparado nas redes sociais há mais de quatro semanas e pretende replicar, sexta-feira, por cá, os efeitos dos "coletes amarelos" de França.
A monitorização está a ser feita através de grupos no WhatsApp, em redes sociais e pequenas reuniões que têm sido realizadas nos últimos dias, apurou o JN junto de elementos da força de segurança - que tem este protesto sob sinal vermelho sem o "tentar desmobilizar".
O país pode parar amanhã. Ou não. Para já, uma das principais conclusões da PSP é que não se confirma a alegada ligação à extrema-direita dos mentores do Movimento Coletes Amarelos Portugal (MCAP) - que organiza o protesto. "Aquilo que tem sido identificada é uma militância organizada, sem ideologia e muito populismo", apurou o JN.
Simular acidentes
Ao contrário dos franceses, que começaram por ser só camionistas a exigir combustíveis mais baratos, os "coletes" nacionais arrancam com uma mão-cheia de exigências [ler ficha]. Mas a estratégia é a mesma: o protesto visa bloquear pontos nevrálgicos [ver infografia].
Nas mensagens no WhatsApp, a receita é a mesma: carros em marcha lenta, das seis à sete da manhã, em direção aos locais agendados. Às autoridades a resposta a dar é de que se trata de uma "avaria, acidente ou ataque de pânico". Recomendam-se "mantimentos", o uso da "bandeira nacional" e a "não causar distúrbios".
Ao JN, Hirondino Isaías, membro do PS de Lisboa, que faz parte da organização, garantiu que o MCAP começou na Região Oeste, com "gente simples, trabalhadora, sem ligações à extrema-direita". "Há uma insatisfação geral e queremos mostrar à classe política que o sistema tem de mudar e responder a uma necessidade de credibilidade", disse.
Num encontro em Setúbal, terça-feira, entre as 20 pessoas, estavam casais com filhos, trabalhadores portuários e jovens. Não há só uma razão: "É tudo: salários baixos, reformas pequenas, a corrupção...". O sucesso do protesto pode depender da adesão de camionistas. Para já, nenhuma associação do setor participa.
O tempo é de cautela. O primeiro-ministro, António Costa apelou à "calma e respeito pela legalidade". Já o líder do PSD, Rui Rio, alertou para o perigo de eventuais "manobras de ordem política de extrema-direita", que possam cavalgar o protesto. PCP e BE não quiseram comentar.
* com A.G.