
Foto: José Sena Goulão/Lusa
José Manuel Pureza, um "tipo de esquerda", católico progressista e um dos rostos mais marcantes na defesa da eutanásia, chega aos 66 anos a coordenador do BE, com a difícil missão de tentar reverter o declínio dos bloquistas.
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"Ideologicamente sou um tipo de esquerda, sou uma pessoa de esquerda com uma perspetiva muito forte no plano da intervenção reguladora e distribuidora do Estado no plano económico, e muito libertário no plano dos diretos civis e políticos".
As palavras são de José Manuel Pureza, que se definiu desta forma numa entrevista ao Observador em 2018, na 11.ª Convenção Nacional do BE, no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa.
Sete anos depois, no mesmo local, ao ser consagrado coordenador do partido, voltou a defender a ideia de uma "esquerda de pontes" e prometeu diálogo na difícil tarefa de reerguer um partido em declínio.
José Manuel Marques da Silva Pureza tem 66 anos e nasceu em 18 de dezembro de 1958, em Coimbra. É casado, tem dois filhos e quatro netos.
Conimbricense orgulhoso, Pureza cresceu como filho único de dois professores e tinha 15 anos no 25 de Abril de 1974.
Ainda na adolescência, foi simpatizante do Movimento de Esquerda Socialista (MES), e quando tinha 28 anos integrou a coordenadora concelhia de Loures da campanha de Maria de Lourdes Pintassilgo. Foi militante da União da Esquerda para a Democracia Socialista.
Com 42 anos, aderiu ao BE, cerca de um ano depois da sua fundação.
Num partido que nasceu da junção de várias tendências à esquerda, Pureza - que aderiu pela mão do "querido amigo" historiador Paulo Varela Gomes - não fazia parte de nenhuma das correntes fundadoras: PSR (Partido Socialista Revolucionário), UDP (União Democrática Popular) e Política XXI.
Acabou por se aproximar da corrente de Miguel Portas, Política XXI, mas com o passar do tempo, considerou que a divisão em correntes deixou de fazer sentido.
Licenciado em Direito e Doutor em Sociologia, Pureza é professor Catedrático de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES), onde dinamizou o Núcleo de Estudos para a Paz.
A defesa dos direitos humanos foi uma das áreas em que mais se destacou enquanto deputado no parlamento, cargo para o qual foi eleito pela primeira vez em 2009 até 2011, depois entre 2015 e 2019 e, por último, entre 2019 e 2022.
Durante esse período, foi líder parlamentar e vice-presidente da Assembleia da República. Em outubro deste ano, foi cabeça de lista pelo BE à Câmara de Coimbra.
Assumindo-se publicamente como católico - apesar de não fazer "alarde disso" - ganhou notoriedade na defesa da causa da morte medicamente assistida, ao lado de João Semedo, líder bloquista que viria a morrer em 2018.
"Nunca achei que um católico pudesse ser outra coisa que não um ativista", afirmou ao Público, em 2018.
Interrogado sobre o facto de a Igreja Católica e o BE defenderem causas tão opostas, e como é que estas duas vertentes convivem dentro de si, Pureza respondeu: "Jesus Cristo não morreu acamado, nem velhinho. Morreu como morreu, porque o poder político e religioso do seu tempo foram incapazes de aceitar a sua mensagem, que era verdadeiramente revolucionária".
Recentemente, nas legislativas de 2024, em Coimbra, Pureza evocou a força de João Semedo, quando em 2016, já debilitado devido ao cancro nas cordas vocais, na campanha de Marisa Matias às presidenciais, fez um discurso de surpresa.
"Neste tempo de sombras em que a democracia avista tão próxima de si o abismo, temos de ir ao fundo de nós mesmos buscar as forças necessárias para o combate, resistindo, mas, mais do que isso, trazendo esperança", pediu.
Conhecido pelo seu sentido de humor, o professor, que "ainda fica nervoso" e com "borboletas no estômago" antes de entrar para cada aula, tem agora a desafiante tarefa de dar novo fôlego ao BE, após a breve era Mariana Mortágua.
