Níveis de bactérias e fungos no areal também serão critério para Bandeira Azul.
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As praias costeiras e interiores do país terão de cumprir um novo critério, a qualidade da areia, para serem consideradas zonas seguras para banhos e integrarem a portaria que fixa a época balnear. Assim, terão de apresentar níveis baixos de fungos e bactérias, como a E-coli e os Enterococus, as mesmas bactérias analisadas para determinar se a água tem boa ou má qualidade para banhos. A avaliação resulta de uma recomendação da Organização Mundial de Saúde, mas só avançará após 2023.
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) explica, ao JN, que a recomendação daquela organização, que já elaborou um guia com as novas regras, deverá ser implementada só depois de 2023, após a atualização da diretiva europeia de 2006 sobre a qual se orienta a portaria da época balnear nacional. As análises terão que ser feitas ao longo de cinco anos e só depois pode existir uma avaliação final, tal como na qualidade da água.
"Não obstante, a APA, através do seu laboratório de referência do ambiente, tem implementadas as metodologias para avaliação da qualidade das areias. Já realiza análises para clientes externos, como câmaras, e tem levado a cabo alguns projetos de monitorização da qualidade de areias em zonas balneares por considerar que, apesar de não ser exigido a nível das diretivas europeias, é uma temática que deve ser vigiada", refere em resposta ao JN.
As análises à qualidade da areia serão feitas ao longo da época balnear e, se acusarem presença elevada de bactérias, o areal pode ter interdições aos banhistas, até que novas análises demonstrem resultados diferentes, como sucede hoje com a avaliação da qualidade da água. Isto, apesar de a recomendação da Organização Mundial de Saúde não exigir a interdição. Defende a "adoção de medidas para diminuir a concentração dos agentes patogénicos nas areias", explica a APA.
Duração da interdição
Nos casos de contaminação da água que obrigue a interditar a praia, é içada a bandeira vermelha e os banhos são proibidos. Quando a contaminação for na areia, o problema recairá na duração da interdição. As correntes marítimas acabam por tratar naturalmente da descontaminação na água, o que não sucede na areia.
A Associação Bandeira Azul vai integrar esta análise nos critérios portugueses de atribuição do galardão num projeto-piloto. Márcia Vieira, do Programa Bandeira Azul, refere que "a coordenação nacional retomou, no ano passado, a monitorização da qualidade microbiológica das areias com um conjunto de promotores da Bandeira Azul, no seguimento de um projeto iniciado, de forma pioneira, há uns anos, com a colaboração do INSA e da APA".
Dos 95 promotores - autarquias com praias com Bandeira Azul -, 15 já fazem as análises, como na Madeira, Oeiras, Machico e Gaia. A associação ajuda os promotores a implementá-la para que estejam preparados quando integrar a diretiva das águas balneares e os critérios obrigatórios do programa Bandeira Azul", prossegue. A Bandeira Azul considera que "a qualidade ambiental das praias representa um dos critérios de escolha do destino turístico e, de momento, a qualidade da água é "o único indicador de qualidade relacionado com a saúde pública que pode permitir aos utentes uma escolha orientada".
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Recolhas quatro vezes por ano
As recolhas serão feitas quatro vezes por ano, durante a época balnear, e os resultados analisados pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e Agência Portuguesa do Ambiente. O mesmo acontece na análise à qualidade da água.
Amostras em três zonas
As amostras serão recolhidas entre cinco a dez centímetros da superfície da areia e em três locais da praia. Na areia submersa pela água, na zona de rebentação e no areal seco. Terão que ser seladas e enviadas para o laboratório.
Bactérias e fungos analisados
As análises à areia vão ter, assim, que apresentar níveis baixos de fungos e bactérias, como E-coli e Enterococus, as mesmas bactérias que são analisadas para determinar se a água tem boa ou má qualidade.
90% das praias com qualidade
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, das 620 águas balneares identificadas em 2020, 562 (90,6%) têm qualidade "excelente". Três (0,5%) evidenciaram qualidade "má".
Exemplo
Trinta pessoas infetadas em areal nos Açores
Em junho de 2019, trinta pessoas, na maioria crianças, tiveram irritações na pele após um dia de praia de Porto Pim, no Faial, Açores. Como alguns dos pacientes com sintomas não entraram na água, foram feitas análises à qualidade da areia, que revelaram contaminação fecal e altos níveis de cloro. A inspeção das instalações sanitárias e do sistema de eliminação de esgoto revelou uma caixa de distribuição de esgoto com vazamento para o areal.