Henrique Jesus, 43 anos, não conseguiu dormir na primeira noite que passou internado no Hospital de Aveiro, onde esteve por lhe ter sido diagnosticada uma infeção urinária.
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Havia luz, ruído e outros doentes exigiam cuidados que o impediram de descansar. Por isso, mal lhe disseram que podia fazer o antibiótico e ter cuidados médicos em casa, abraçou a ideia de ser internado ao domicílio, um serviço criado no hospital de Aveiro para ajudar a lidar com a falta de camas e dar cuidados personalizados em contexto familiar, que tem cada vez maior adesão.
A pandemia, conta Susana Cavadas, médica que coordena o serviço com o enfermeiro Nino Coelho, foi um "momento de viragem" no serviço, que passou a ter 10 vagas, mais quatro do que até ali. "As pessoas tinham medo do vírus", explica a médica, salientando que todos os doentes são testados e as equipas médicas têm equipamentos de proteção para evitar contágios.
Atualmente, as vagas são ocupadas por doentes dos concelhos de Aveiro, Estarreja, Águeda, Albergaria e Vagos e até há lista de espera. Desde que o serviço arrancou, em maio de 2019, 590 pessoas já foram internadas neste sistema.
Os doentes podem ser admitidos na Urgência do hospital e, depois de avaliados, ser-lhes sugerido o internamento em casa. Também podem ser referenciados, por exemplo, em consultas externas, e proposto logo o serviço em casa.
O cuidado é "igual", asseguram os responsáveis, salientando que os internados não podem sair de casa e têm assegurados medicamentos e equipamento. Há, pelo menos, uma visita diária de segunda a sexta-feira e enfermeiros e médicos de prevenção 24 horas por dia, que podem ser acionados mediante um telefonema, que funciona como a "campainha do quarto". Os doentes têm de estar até 20 quilómetros ou 30 minutos de distância do hospital, sendo avaliadas as patologias e os acessos rodoviários de cada caso, para garantir que há uma resposta rápida em caso de necessidade.
"Atenção toda para mim"
"É muito melhor do que estar no hospital. Estou num ambiente calmo e, quando os médicos estão cá, a atenção é toda para mim", diz Henrique Jesus, na sua casa, em Alquerubim, Albergaria, convicto de que isso contribui para se "curar mais depressa".
A médica Andreia Lopes, que faz as visitas com a enfermeira Dina Silva, salienta que se pode "aprender muito sobre os doentes no seu contexto familiar", podendo corrigir comportamentos ou dar sugestões para melhorar a recuperação.
Em Fermentelos, Águeda, na casa de A.U., um doente de 86 anos internado por problemas cardíacos, a mulher não poupa elogios: "Este serviço é fantástico, é a melhor coisa que podia ter acontecido". "Tenho medo da pandemia e de ser contagiado no hospital. Em casa sinto-me mais seguro", conta o doente que pede anonimato ao JN, explicando que tem "mais liberdade" e não perde "qualidade nos cuidados médicos".