O Papa Francisco benzeu vários bebés no Bairro da Serafina, em Lisboa, onde visitou o Centro Paroquial de São Vicente, esta manhã de sexta-feira. Alguns estavam descontentes com a visita "só de um dia". "Hoje estamos nas luzes da ribalta, mas amanhã caímos no esquecimento", partilhou um morador.
Corpo do artigo
Albertina Keteculo fechou os olhos e voltou a abri-los para ter a certeza de que o que via era verdade. “O Papa estava a benzer a minha filha. Ainda não acredito, estou muito feliz. Em tanta gente, escolheu a Ariany”, contou ao JN, em lágrimas.
Não tinha programado levar a bebé, com um ano de vida, até Francisco, mas assim que o Santo Padre começou a sair do Centro Paroquial de São Vicente, que visitou esta manhã de sexta-feira, Albertina sentiu “um chamamento de Deus”.
“Quando o Papa passou, levantei a minha filha no ar e ele fez sinal para a levar. Ontem, o Papa disse que há lugar para todos na Igreja e, a pensar nisso, avancei. Acho que fui empurrada por Deus”, partilhou a angolana, há quatro anos a viver em Portugal.
Foram vários os bebés abençoados, esta manhã de sexta-feira, no Bairro da Serafina, em Lisboa. Constança, mãe de Vasco, não podia estar mais feliz. "É a maior bênção que já tivemos na vida", suspirou, após o Papa tocar no seu filho recém-nascido. Daniel e Jéssica, pais de Enzo, também estavam muito emocionados.
“Ainda estou a tremer, não estava nada à espera. Vim a correr desde o fundo da rua quando soube que o Papa estava a chegar e, entre empurrões, consegui que o Enzo fosse abençoado”. A mãe do bebe de três meses nunca esquecerá o momento. “Significa que a partir de agora está a ser olhado por Deus, tem um significado gigante esta bênção”, disse ao JN Jéssica.
Segurança apertada
Nem todos tiveram, porém, a mesma sorte. "Só queríamos a bênção, mas conseguimos vê-lo, já foi bom", desabafou Elisabete Tavares, moradora no Bairro da Serafina, que levou o neto bebé, mas não conseguiu que fosse benzido. Tal como a maioria dos moradores dos bairros vizinhos da Serafina e da Liberdade, em Campolide, chegou cedo a uma das primeiras ruas por onde o Santo Padre passou neste bairro, mas aqui a Polícia não permitiu que as pessoas ficassem no passeio do lado do carro onde seguia o Papa.
A segurança foi muito apertada, tal como já havia sido anunciado, com vários polícias com coletes anti-bala a circular pelas ruas do bairro. Rita Pinto, moradora no bairro da Serafina, estava insatisfeita. “Já percebi que não o vou conseguir ver com estas restrições todas. A Polícia não nos deixou ir para o lado do passeio onde o Papa irá sentado”, criticou.
Daniel Sousa, morador no mesmo bairro, também tinha algumas críticas a fazer. “Hoje estamos nas luzes da ribalta, mas amanhã caímos no esquecimento. Tínhamos uma parte de um muro destruído há meses e compuseram-no e limparam os contentores só por causa da vinda do Papa, assim queremos que venha todos os dias”, ironizou.
António Diamantino, da Associação de Moradores do Alto da Serafina, tinha esperança que a vinda do Papa trouxesse mudanças a um dos bairros com habitação mais precária da capital. “Espero que a Câmara olhe com mais atenção para o Bairro da Liberdade, que tem sido completamente abandonado pela Autarquia. Não se tem feito nada aqui, há muitas pessoas a viverem em condições habitacionais muito precárias”, lamentou.
Enquanto muitos, cá fora, aguardavam ansiosos a saída do Papa do Centro Paroquial, lá dentro o Santo Padre ouviu um coro de jovens, aos quais entregou terços. Laura Ventura, 13 anos, foi uma das adolescentes que recebeu. “Foi uma honra cantar no coro para o Papa e receber o terço”, emocionou-se a jovem, que frequenta o centro paroquial.
Depois do aparato, com algumas pessoas a passarem os cordões de segurança da polícia para tentarem tocar no Papa, pelas ruas havia quem nem soubesse da vinda do Chefe do Vaticano e questionasse o que se passava. “Não percebi porque estava aqui tanta polícia e vim ver, nem sabia que o Papa vinha”, disse Rodrigo Caetano, morador do Bairro da Liberdade, que passou pelo Centro Paroquial juntamente com um grupo de amigos.