Quando o salário não chega, vive-se a crédito: Deco apoia trabalhadores com baixos rendimentos
Há pedidos de ajuda diários junto da Deco de trabalhadores com rendimentos baixos que não acompanham o aumento do custo de vida.
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Ana (nome fictício) é trabalhadora independente. Com as vendas “muito baixas” do negócio, sustenta com o marido uma família numerosa: duas filhas pequenas, a filha de 17 anos de outro casamento e a filha de 15 anos do anterior casamento do companheiro. As dívidas acumuladas, que se aproximam dos seis mil euros, empurraram-na para um “burnout” e uma depressão profunda. “Propus pagar 20 euros por mês às entidades, mas exigem valores muito superiores. Sou alvo de dezenas de chamadas por dia, que afetam gravemente o meu estado emocional”, desabafa. Já o marido de Ana carrega o peso de um crédito de sete mil euros.
Casos como este chegam diariamente ao Gabinete de Proteção Financeira da Deco, que desde 2023 tem vindo a reforçar e a alargar o seu apoio, numa tentativa de se adaptar à nova realidade das famílias portuguesas. A equipa atua em várias frentes: desde o encaminhamento para apoios à renda, até ao aconselhamento personalizado sobre decisões financeiras e mediação junto da banca.
“Tentamos que as pessoas adotem comportamentos responsáveis na gestão das finanças pessoais, e que haja um reequilíbrio das suas responsabilidades de crédito. Só terminamos o acompanhamento quando o consumidor considera que a sua situação está equilibrada”, explica Natália Nunes. A coordenadora do gabinete acrescenta que muitos dos planos definidos têm uma duração de sete a dez anos, sendo possível reabrir o processo sempre que surjam alterações.
Miguel e a mulher estão empregados, têm uma filha e um rendimento combinado que, no papel, deveria ser suficiente. Mas a prestação do empréstimo da casa, o crédito consolidado – que junta a dívida do carro, um cartão de crédito e outro crédito pessoal–, e os custos do dia a dia tornam cada mês um desafio.
O desemprego bateu à porta de Pedro em março. Enquanto não consegue trabalho, o agregado familiar vive com pouco mais de 800 euros do fundo de desemprego e o salário mínimo da esposa. Com uma filha menor para criar e créditos para pagar, receia não conseguir sustentar a família. Apesar de ter comunicado a nova situação, as entidades recusaram acionar o seguro de proteção ao crédito.
Já João trabalha a tempo inteiro e leva um salário de 800 euros para casa. Cerca de metade serve para pagar a renda. As despesas básicas tomam conta do resto. Os rendimentos não chegam para pagar dívidas acumuladas. Todos os meses acaba com saldo negativo na conta, apesar de já ter tentado negociar com os credores.
Nestes casos, a mediação para encontrar uma solução equilibrada para o banco e o cliente pode fazer a diferença: há situações em que a banca aceita consolidar créditos para fundir as prestações numa só, ou até reduzir juros cobrados por incumprimento. E pode aliviar o peso de quem vive com o coração nas mãos.