Quanto maior é dependência das redes sociais, maior é o sentimento de solidão
As pessoas mais dependentes das redes sociais tendem a sentir mais solidão, revela um estudo do Instituto Universitário. No entanto, a maioria dos inquiridos afirma estar satisfeita com as relações pessoais.
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Nem só as pessoas solitárias são dependentes das redes sociais. Segundo o investigador, Rui Miguel Costa, há quem tenha uma vida social ativa e seja dependente das redes sociais e, consequentemente, se sinta sozinho.
A investigação científica, "Loneliness and social media: why do we feel lonely in the most crowded spaces in the world?", desenvolvida no William James Center for Research, do Instituto Universitário (ISPA), em Lisboa, juntamente com o Observatório Social da Fundação La Caixa, revelou que quanto maior a dependência das redes sociais maior é o sentimento de solidão. No entanto, a maior parte das pessoas sente-se satisfeita com as suas relações amorosas, familiares e de amizade.
"As pessoas precisam de ter boas relações com a família e os amigos para não se sentirem sós mas, é importante sentir esta ligação com um grupo mais alargado de pessoas", explica o investigador. As relações com pequenos grupos não são suficientes, uma vez que o ser humano é "feito para socializar" com grupos maiores.
Numa época em que a tecnologia está mais presente do que nunca, socializar tem diferentes lugares. O online e o presencial. Mas então, porque é que quem tem uma vida social ativa nas redes sociais, tende a sentir-se mais sozinho e até depressivo? De acordo com Rui Miguel Costa, as relações online não produzem o mesmo efeito cognitivo que as relações presenciais. "O nosso cérebro não recebe a informação de que estamos com alguém", afirma o investigador.
Procura por validação
O estudo, publicado em março, inquiriu cerca de cinco mil pessoas com idades entre os 18 e os 69 anos. Apenas cerca de 4% respondeu que não usa as redes sociais. Das restantes, a maior parte é dependente das redes sociais. Mesmo as que foram consideradas pelo estudo como tendo uma dependência "normal", relevam sentimentos de solidão. No entanto, as que apresentam uma dependência patológica sentem-se mais sós.
Nem sempre as redes sociais e as relações estabelecidas online transmitem mensagens positivas. A procura por atenção e validação (através do número de seguidores ou de gostos), e as comparações (entre estilos de vida e a aparência física) acabam por influenciar o estado de solidão e de depressão. No entanto, mesmo quando as mensagens são positivas, existe o sentimento de solidão.
Apesar das gerações mais jovens estarem muito ativas e dependentes das redes sociais, não se sentem tão sozinhas porque "têm uma maior facilidade em socializar", explica Rui Miguel Costa.
Facebook, Instagram e WhatsApp lideram
O investigador acredita que a maior parte das pessoas não tenha noção de que existe dependência às redes sociais. "Muitas pessoas sentem-se sozinhas mas não sabem o porquê", alerta. Para Rui Miguel Costa é fulcral que exista uma maior sensibilização neste sentido.
Cerca de 83% dos inquiridos usam o Facebook e o WhatsApp e 71% o Instagram. O Tik-Tok tem uma adesão de 26% e o Twitter de 21%.