Quase 80% dos colégios (79) não atribuíram uma única nota negativa aos alunos do Secundário no ano letivo passado. De acordo com as classificações internas dadas pelas escolas, divulgadas pelo ministério da Educação, Ciência e Inovação, em 14 agrupamentos públicos (2,9%) também não houve negativas nas pautas.
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Saiba em que lugar ficou a sua escola no ranking
Nos colégios, entre mais de 32 mil notas atribuídas aos alunos no final do ano letivo, mais de um quinto (6754) foram a nota máxima. Nas secundárias públicas, a proporção de 20 valores cai para 6,2% - de um total de 629 105 notas atribuídas, 39283 foram avaliações perfeitas.
Entre 100 colégios, em 39 mais de metade das notas atribuídas foram 19 ou 20 valores. Destes, em 10, a proporção de notas máximas foi mesmo superior a 60% - seis são no distrito do Porto, dois em Braga, um em Guimarães e outro em Viana do Castelo. Só três colégios deram menos de 10% de notas máximas.
No público, em 21 secundárias (todas do Norte do país) mais de 30% das notas foram 19 e 20. Em 129 (entre 479), a proporção foi inferior a 10%.
Quanto às negativas, só em três colégios, a percentagem é ligeiramente superior a 1%. Em sete secundárias supera os 10%. Na maioria dos agrupamentos (381), a percentagem de notas inferiores a 10 valores, variou entre 1 e 9,9%.
O presidente do Conselho das Escolas é claro: a proporção de notas 19 e 20 atribuídas especialmente pelos colégios “não é normal”. E o contexto socioeconómico favorecido não explica tudo, assume ao JN António Castel-Branco.
“Não quero emitir juízos de valor, mas as escolas públicas têm de aceitar e preparar todos os alunos, os privados não. São realidades distintas e incomparáveis”, defende António Castel-Branco.
Já para Tiago Neves, professor e investigador da Universidade do Porto, a proporção de notas máximas atribuídas pelos colégios é uma “incongruência do ponto de vista das distribuições estatísticas e do que significa avaliar”.
“A diferença entre escolas públicas e privadas no que diz respeito à atribuição destas classificações é reveladora do grave e continuado fenómeno de inflação de notas”, alerta, frisando as consequências no acesso ao Ensino Superior.
Opções passam a contar menos para as médias
Tanto nos colégios como nas secundárias públicas, as disciplinas anuais de opção, que os alunos escolhem no 12.º ano, são as que têm médias mais elevadas. No caso do privado, por exemplo, mais de 90% das notas atribuídas em Antropologia foram 19 ou 20 valores, em Geologia mais de 82% das classificações. No Público, Educação Moral, Aplicações Informáticas e Química foram as únicas em que mais de 40% das notas atribuídas foram as duas classificações máximas. Educação Física voltou a ser a disciplina trienal com mais 19 e 20 atribuídos.
A partir deste ano letivo, recorde-se, as opções passam a contar menos na média do Secundário. O presidente do Conselho das Escolas acredita que esta mudança no regime de acesso irá reduzir a inflação de notas. Tiago Neves, que estudou e denunciou a inflação de notas, receia que “infelizmente”, pela proporção de 19 e 20 atribuídos aos alunos, as escolas encontrem novas formas para inflacionar as classificações, designadamente através da avaliação nas disciplinas que não são objeto de exame nacional.