Em 2021, quase 14% da população residente em Portugal alterou o seu local de residência, sendo que mais de metade mudou-se para outro município face a 31 de dezembro de 2019. A população está cada vez mais concentrada no litoral do continente, especialmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, com o Interior a perder população e mais de metade do território nacional despovoado.
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De acordo com o estudo "O que nos dizem os Censos 2021 sobre dinâmicas territoriais" apresentado, esta quarta-feira, no Instituto Nacional de Estatística (INE), mais de 1,4 milhões de residentes (13,7%) mudou o seu local de residência, o que resultou num aumento de 2% da mobilidade territorial face a 2011, alargando-se a todas as sub-regiões do país, à exceção da região autónoma dos Açores.
Deste universo, 51,3% mudou-se para outro município, 20,5% mudaram de residência dentro da mesma freguesia, 17,9% mudaram para outra freguesia dentro do mesmo município e 10,3% residiam anteriormente no estrangeiro. Há dez anos, a maior alteração de residência acontecia dentro da mesma freguesia. "A maior dinâmica é agora intermunicipal, o que podemos associar ao mercado de habitação que foi liberalizado nos últimos dez anos", apontou Mário Vale, presidente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa. Foi na Lezíria do Tejo, Douro e Médio Tejo onde se observaram as maiores proporções da população proveniente de outro município. Na década anterior, a maioria dos residentes vindos de outro município mudou-se para a Área Metropolitana de Lisboa.
Face a território muito vasto, com várias áreas despovoadas e uma perda de população "que se vai afundando", o geógrafo alertou que "as políticas de investimento público e de apoio ao setor privado não têm sido suficientes" para atrair pessoas. Nos últimos dez anos, o país perdeu cerca de 219 mil habitantes, o que corresponde a uma redução de 2,07% da população residente. "As cidades que são capitais de distrito e com instituições de ensino superior poderiam constituir bases para reter pessoas ou resistir a perdas populacionais", defendeu.
Segundo o INE, nas últimas duas décadas, a população residente tem-se concentrado no litoral de Portugal, nomeadamente na faixa entre Viana do Castelo e Setúbal e na faixa litoral algarvia, por oposição ao interior. Mas é nas áreas metropolitanas que se observou uma elevada densidade populacional. "No reforço da litoralização, um fator essencial é mercado de trabalho. A tendência é que estas grandes aglomerações continuem a atrair população, especialmente qualificada", explicou Mário Vale. O interior do continente e o litoral alentejano são as regiões com as densidades populacionais mais reduzidas. Os dados apontam ainda que 56,2% do território nacional estava despovoado, mais 0,2% que na operação censitária realizada em 2011. As áreas sem população localizavam-se maioritariamente na região do Alentejo.
Ainda assim, no Interior do país, as regiões onde há uma maior intensidade demográfica coincidem, na sua maioria, com as capitais de distrito ou as sedes de concelho. No interior das regiões Norte e Centro há um "povoamento disperso" enquanto no Alentejo é "fortemente concentrado", cujos aglomerados tornam-se visíveis em relação ao resto do território, apontou o INE. A população residente aumentou apenas em 50 dos 308 municípios, maioritariamente localizados na Área Metropolitana de Lisboa e no Algarve.
Dos 4,4 milhões de empregados que residiam em Portugal, 34,1% trabalhavam num município distinto da sua residência, um número que aumentou 1,3% na última década, em todo o país. A situação é predominante entre os trabalhadores que residiam nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e na região de Aveiro. Em 40 municípios, o número de empregados que lá trabalhavam era superior às pessoas residentes com emprego, em especial em Lisboa e no Porto. No outro extremo encontram-se os municípios de Odivelas, Seixal e Moita, cujo nível de emprego correspondia a menos de metade da população residente empregada.
Nas mobilidades por motivos de trabalho, os dados do INE apontam que a população empregada num município distinto daquele em que reside passou de 32,8% para 34,1% na última década, em todo o país. O automóvel ligeiro continua a ser o principal meio de transporte para as deslocações casa-trabalho, um trajeto que demorava em média 18,8 minutos. Segundo o estudo, este meio é utilizado por mais de metade da população, cujo uso tem aumentado em todas as regiões do país. Mas a duração da deslocação depende do modo de transporte: quem optou por transportes coletivos despendia 43,5 minutos nestas deslocações.
Os dados mostram ainda que o peso da população residente é superior aos alojamentos familiares clássicos (aqueles onde reside apenas uma família ou agregado doméstico) na generalidade dos municípios das duas áreas metropolitanas. Foi nos municípios de Sintra e de Vila Nova de Gaia onde se verificou uma menor adequação da disponibilidade potencial de oferta de habitação à população residente. A situação é oposta nos municípios de Lisboa e Sesimbra.
Em 2021, residiam pouco mais de 10,3 milhões de pessoas em Portugal, das quais 7,6 milhões concentram-se nas áreas predominantemente urbanas.