Homens com o Ensino Superior ganham mais 38% do que mulheres com a mesma qualificação, diz relatório sobre "Estado da Nação".
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Quase metade dos portugueses não conseguiu concluir o Secundário e entre os que têm Ensino Superior existe uma grande disparidade salarial entre homens e mulheres. É que, os homens com formação superior ganham, em média, mais 38% do que as mulheres, isto apesar de até serem mais qualificadas. Essas são algumas das conclusões de um relatório sobre o "Estado da Nação", a apresentar esta quarta-feira, numa sessão com o presidente da República.
"Muitas dessas questões já eram conhecidas. Por exemplo, já se falava nas diferenças salariais entre homens e mulheres mas não conseguíamos quantificar. Agora, há dados científicos a falar. E são transversais à generalidade das profissões", vinca Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves, responsável pelo relatório sobre o "Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal".
Trata-se de um estudo, feito em parceria pelas universidades do Minho e de Aveiro, que faz "uma retrospetiva das principais dinâmicas na educação, emprego e competências" na última década, "identificando as tendências nas qualificações dos portugueses e do valor dessas qualificações no mercado de trabalho". Um documento que será atualizado anualmente.
Fosso entre gerações
Segundo o relatório, "a população portuguesa tem o maior défice de qualificações da União Europeia". É que, 47,8% dos portugueses não terminaram o ensino secundário, quando a média da União Europeia é de 21,6%.
Acresce que 75,2% dos jovens dos 25 aos 34 anos têm o Secundário completo, já apenas 46,5% dos portugueses entre os 35 e os 64 anos têm essa qualificação. "Na média da União Europeia essa diferença entre gerações é de 7,9%, enquanto que em Portugal está nos 29%", aponta-se ainda no relatório.
"Com a pandemia, tivemos precisamente um problema de emprego para as pessoas com menos qualificações", assinala Carlos Oliveira, referindo que o teletrabalho é uma realidade possível apenas para uma pequena percentagem da população, cerca de 30%. "Mas só uma pequena percentagem é que o fez", diz.
Diferença salarial
Ainda assim, tem-se verificado uma tendência de aumento das qualificações dos portugueses. Mas outro problema permanece: a diferença salarial entre sexos.
"Em média, os homens licenciados ganham mais 38% do que as mulheres com o mesmo grau de ensino, o que também se verifica nos outros níveis de escolaridade: mais 32% nos mestrados e mais 28% no Secundário", conclui o estudo.
Para Carlos Oliveira, a diferenciação salarial revela um "paradoxo", porque "são as mulheres que mais se têm qualificado e têm uma quota maior no Ensino Superior".
O documento destaca ainda que o salário médio real dos jovens licenciados caiu 17%, na última década.
Falta de profissionais
Os dados do estudo sugerem que poderá haver uma escassez de profissionais nas áreas das tecnologias de informação e comunicação e também de profissionais de saúde, pelo menos no setor empresarial.
Mestrados a aumentar
Na última década, os mestrados ganharam importância, representando 15% das qualificações da população jovem. O estudo revela também que a maioria dos diplomados do superior é proveniente de famílias sem essa qualificação.
Estudos dão mais salário
O relatório adianta ainda que níveis de educação mais elevados estão associados a salários superiores. Um português com licenciatura ganha mais 72% (+750 euros) que uma pessoa com o Ensino Secundário.
278%
O número de "especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC)" cresceu 278%. Cerca de 70% tinham, em 2011, o Ensino Superior, quota que passou para 80% em 2019.
48%
O grupo dos trabalhadores com idade superior a 44 anos viu o seu peso na força de trabalho aumentar. Em 2019, representava 48% do total de trabalhadores, mais 5% do que em 2011.