Luís Mendanha foi um dos 88 infetados com legionela. Era desportista e ficou a depender de bombas de oxigénio. Vai levar caso a tribunal.
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Sabe o que é querer respirar e não conseguir?", atira, olhando as três bombas, agora "fiéis companheiras" de todas as horas. Jogava futebol, praticava defesa pessoal, caminhava, fazia pesca desportiva. Agora, subir dois andares já "obriga" a bomba e até bocejar "é impossível". Luís Mendanha foi um dos 88 infetados do surto de legionela, que afetou Matosinhos, Vila do Conde e a Póvoa de Varzim. Esteve "mais para lá do que para cá". Passou o susto, ficaram as mazelas. No que dele depender, "a culpa não há de morrer solteira".
Os sintomas começaram dia 2 de novembro. Dores nas costas. Fez teste à covid. Negativo. Dia 6, com "40 de febre e dores insuportáveis", chamou os bombeiros. Foi para o hospital. Análises, RX, TAC, novo teste à covid-19. "Só me lembro da médica dizer que tinha um infeção muito grande nos pulmões e "apaguei"", conta. Acordou no dia seguinte, entubado, a oxigénio, com "fios por todo o lado". Disseram-lhe que esteve "quase do lado de lá". O relatório não engana: "pneumonia por legionela".
Andou por lá dez dias, "literalmente a reaprender a respirar", com fisioterapia, sempre com a botija de oxigénio atrás.
Está há 15 dias em casa, a "reaprender a viver". "Há dias fui até à praia - a 500 metros. Devagarinho. Para cá, já vim à rasca. Agarrei-me logo à bomba", explica. Luís nunca teve asma, mas agora é como se tivesse e severa. "A médica diz que tenho mazelas, que podem desaparecer ou não", explica.
"Nem que vá sozinho"
Ainda no hospital, ligaram-lhe da Delegação de Saúde. Queriam saber por onde tinha andado nos dias anteriores, se tinha água da "companhia", se a casa era antiga. Luís andou sempre, ali, entre Labruge, onde mora, num prédio recente, com água canalizada, Modivas, onde nasceu, e Vila Chã, onde trabalha como carpinteiro, na mesma oficina há 30 anos. Família e colegas de trabalho, ninguém doente.
A partir daí, o que sabe é pelas notícias. Em linha reta, mora a menos de cinco quilómetros da Longa Vida, empresa que tem as torres de refrigeração desligadas.
Já tem os relatórios médicos. Aguarda que lhe afiram as lesões. Já falou com o advogado e vai avançar para tribunal. "Estive quase a morrer. Não vou deixar passar em branco", garante. Procura outros lesados do surto.
"Falei com alguns, mas as pessoas têm medo. Nem que vá sozinho. Se são obrigados a fazer limpeza às torres, as leis são para cumprir, seja a Longa Vida, seja quem seja. Senão, assobiam para o lado e, daqui a uns tempos, fazem o mesmo", remata.
"Não é pelo dinheiro. É pelos que morreram e pelos que, como eu, podem ficar com mazelas para a vida", remata.
Perguntas
O que é a legionela?
Bactéria que vive em água doce, em reservatórios, chuveiros, torres de arrefecimento de ar condicionado, instalações termais, piscinas, jacuzzis e fontes decorativas, com temperaturas entre os 20º e os 50 ºC. É responsável pela doença dos legionários, uma forma de pneumonia grave.
Como se transmite?
A transmissão faz-se pela inalação de aerossóis (gotículas de vapor de água) contaminados com a bactéria que entra, assim, diretamente para os pulmões. Não se transmite de pessoa para pessoa, nem através da ingestão de água contaminada.
Quais os sintomas?
Os sintomas incluem tosse seca, febre, arrepios, dores musculares e de cabeça e dificuldades respiratórias.
Como prevenir?
Evitar ter águas estagnadas e aumentar, de vez em quando, a temperatura para os 60 ºC (no caso, por exemplo, de termoacumuladores) é uma das formas de prevenir o aparecimento de legionela. Sistemas de refrigeração, piscinas, jacuzzis e fontes devem ter manutenção e limpeza adequadas.
Quem é mais afetado?
A doença dos legionários afeta duas vezes mais homens do que mulheres. Atinge especialmente pessoas com mais de 50 anos e é rara em crianças.