Na primeira vaga da pandemia por covid-19, 99% das consultas médicas realizadas à distância foram feitas com recurso a chamadas telefónicas, segundo um estudo divulgado pela Associação Portuguesa de Telemedicina. Dos médicos do Serviço Nacional de Saúde, 85% não realizavam consultas à distância até ao aparecimento da infeção. Mas 94% fizeram-no nessa altura.
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Das consultas realizadas pelos 2225 médicos, de diversas especialidades, inquiridos no âmbito do "Estudo da Opinião dos Médicos Sobre o Uso da Teleconsulta no Serviço Nacional de Saúde Durante a 1.ª Fase da Pandemia Covid-19", 99% foram feitas com recurso ao telefone, revelam os dados divulgados esta quinta-feira, pela Associação Portuguesa de Telemedicina (APT) em parceria com a Ordem dos Médicos.
A investigação revela que os médicos usaram várias formas de comunicação, 99% chamadas telefónicas, mas também por email (67% para enviar documentos e 62% para os receber), por correio normal (41% e 12% respetivamente), mas apenas 8% das consultas foram feitas por videochamada.
De salientar que 41% dos médicos utilizou o telemóvel/telefone da instituição, 15% o telemóvel/telefone pessoal, e 44% recorreram às duas modalidades.
Para a realização das videochamadas foram utilizadas diversas plataformas, sendo o "Whatsapp" a mais comum (49%), seguida pelo "Microsoft Teams" (25%), "Zoom" (22%) e "Skype" (21%).
Os médicos assinalaram dificuldades técnicas na adaptação dos utentes ou cuidadores às novas tecnologias de comunicação (47%), tecnologias inadequadas (35%) ou inexistentes (22%), problemas de conexão à rede móvel (31%) e impossibilidade de receber (23%) ou entregar (20%) documentos ao utente.
Consultas não presenciais diferentes de teleconsultas
A investigação, coordenada pelas médicas Catarina O"Neill e Margarida V. Matias, do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, distingue os conceitos de "teleconsulta" e "consulta médica sem a presença do doente"., de acordo com a portaria 207/2017, de 11 de julho.
A primeira, "teleconsulta", prestada no âmbito da telemedicina, é realizada à distância com recurso à utilização de comunicações interativas, audiovisuais e de dados, e com registo obrigatório no equipamento e no processo clínico do doente.
Na "consulta médica sem a presença do doente", é um consulta em que o utente não se encontra presente. Da qual pode resultar o aconselhamento, prescrição ou encaminhamento para outro serviço. Esta pode estar associada a várias formas de comunicação, como o correio tradicional, telefone, email ou outro. A grande maioria das consultas realizadas na primeira vaga da pandemia foi feita neste âmbito.
O trabalho mostra ainda que a maioria dos médicos (85%) não realizava teleconsultas antes da pandemia. Mas após a chegada da covid-19 passou a ser utilizada por 94% dos inquiridos. Até à data do questionário apenas 6% não o tinha feito.
Apesar dos constrangimentos, revela o documento, 50% dos profissionais disse estar satisfeito ou muito satisfeito com a teleconsulta, e 16% insatisfeito ou muito insatisfeito. 70% revelou que gostaria de continuar a realizar teleconsultas subsequentes.
Eduardo Castela, presidente da APT, revelou que "o contacto entre médico e doente, da forma que foi feito, foi a solução possível para ultrapassar os constrangimentos da pandemia". Mas no seu entender é necessário "um investimento digital que seja consistente e estruturante, assegurando a criação de condições adequadas nas instituições de saúde para a realização de teleconsultas", com a criação de infraestruturas tecnológicas próprias que permitam o processamento adequado de registos, relatórios e requisições.
O responsável frisou que os "contactos telefónicos não são teleconsultas" e que os inquiridos são claros quando, ao pretenderem manter esta modalidade, sustentam a necessidade de recorrer ao suporte vídeo nos contactos.