Especialista estranha percentagens de óbitos em doentes agudos que deviam ser seguidos.
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Quase 400 doentes com covid-19 morreram em casa até ao dia 18 e 525 faleceram noutros locais - como estruturas residenciais para idosos -, embora quase 90% do total (8316) tivessem sido registados em instituições de saúde.
Os 397 óbitos no domicílio, segundo os dados fornecidos pela Direção-Geral da Saúde ao JN, mas sem esclarecer as circunstâncias nem pormenores como a distribuição regional, representam 4,3% do total de 9246 causados pela doença até àquela data.
A percentagem terá um significado excecional quando o valor dos óbitos por todas as causas registados no domicílio atingiu, até dia 18 de janeiro, 2454. Serão comparáveis?
O pneumologista João Carlos Winck, professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), ficou surpreendido com os números e alerta que não podem ser comparados com a fração de mortes totais em casa (em 2020, foram 24,6% do total).
"Esta é uma doença aguda e os doentes têm de ter um tratamento como agudos", comentou ao JN, sugerindo que os números - que mais uma vez conhece "graças aos média" - devem ser investigados.
"É muito importante saber se tiveram algum apoio médico, se estavam esquecidos, ou se o diagnóstico foi feito apenas no certificado de óbito", enfatiza. E quanto a estes, também "é necessário cuidado", alerta, por seu lado, o epidemiologista Altamiro da Costa Pereira, porque teriam de basear-se em testes anteriores ou em autópsias - e estas são poucas.
Costa Pereira, que é também diretor da FMUP, é cauteloso nos comentários. "Faltam aqui muitos dados e muitas variáveis - sobre esse número posso ter uma opinião e uma interpretação que não passa disso". Não a revela porque não quer contribuir para o sensacionalismo. Mas "é preciso tentar pegar no cordel agarrado aos números e ir atrás".
João Winck concretiza. "É importante saber se estiveram sinalizados e foram acompanhados nos cuidados de saúde primários, se são doentes propostos para tratamento no domicílio mas que acabam por não ser acompanhados, se eram pessoas de idade avançada ou doentes com várias comorbilidades (presença de outras doenças), se não estavam diagnosticados, se viviam sós, se recusaram o transporte para o hospital".
amanhã há outro problema
Mas também a percentagem de óbitos nos lares (5,7%) o preocupa. "Seriam situações extremas? Não puderam ser transferidos? Puderam fazer as terapias mínimas?", questiona. "É preciso investigar" o que aconteceu, insiste o pneumologista, salientando a falta de uma metodologia e de dados.
"Nunca temos os dados que gostaríamos", comenta Altamiro da Costa Pereira, notando que "os cientistas nunca têm acesso às informações que gostariam de ter".
O epidemiologista põe o dedo na ferida: "É necessário um esquema e infraestruturas que propiciem essa informação, que muitas vezes demoram anos a ser montados".
"Não estávamos preparados, infelizmente não havia o hábito de os organismos recolherem dados fiáveis e de os porem à disposição dos cientistas de forma fiável e segura - e mesmo hoje estamos muito longe", adverte. "Hoje estamos a viver este problema, amanhã teremos outro".
O que é o oxímetro de pulso e para que serve
É um pequeno aparelho portátil colocado no dedo que serve para medir a percentagem de oxigénio no sangue, através da passagem de feixes de luz. Fácil de usar, faz também a leitura da frequência cardíaca (pulso).
OMS recomenda "acesso fácil" aos cuidados de saúde
A Organização Mundial da Saúde recomendou ontem a medição do oxigénio no sangue e o uso de anticoagulantes de baixa dosagem para doentes de covid-19 com sintomas persistentes, mesmo após a recuperação. Os doentes "devem ter um fácil acesso aos cuidados de saúde se apresentarem sintomas persistentes, novos ou em mudança", nota.
A agência da ONU aconselha os doentes que estão em casa a usar oxímetros de pulso, com monitorização regular da situação clínica. Para os hospitalizados, propõe o uso de anticoagulantes em baixas doses para prevenir o risco de tromboses graves. Se necessitarem de oxigenação suplementar ou ventilação não invasiva, a melhor postura para aumentar o fluxo de oxigénio é deitado de bruços com a cabeça para o lado.
A OMS está a analisar sintomas de longo prazo de covid-19, como fadiga extrema, tosse persistente e intolerância ao exercício.
Um instrumento de vigilância muito útil
O oxímetro é recomendado para os doentes com covid-19 em casa e também para os doentes crónicos. Pode salvar vidas, ao permitir detetar as alterações na saturação de oxigénio. Há doentes que não sentem a falta de ar (um sintoma-chave da doença), mesmo quando a percentagem desce abaixo dos 88%. O pneumologista João Winck recomenda a medição três vezes por dia.
À venda em farmácias e supermercados
O aparelho está à venda nas farmácias, parafarmácias e até hipermercados. Com qualidade podem custar 20 ou 30 euros. Os médicos podem prescrevê-los para comparticipação total pelo SNS.