Um Portugal politicamente partido em três, uma Direita reforçada no Parlamento e uma Esquerda a viver um pesadelo. Quem foram, afinal, os vencedores e os vencidos da noite eleitoral? Escolhemos alguns.
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Os quatro vencedores
Luís Montenegro
É o maior vencedor da noite. Forçou eleições, arriscou tudo no braço de ferro com o PS e conseguiu reforçar a representatividade do centro-direita no Parlamento. Os portugueses não deram grande importância ao caso Spinumviva e, nesse sentido, foi certeira a estratégia de progressivo esvaziamento de uma polémica que os socialistas cavalgaram até à exaustão. Provou ser, acima de tudo, um resistente. Espera-o, porém, uma via-sacra até à governabilidade e uma batata ainda mais quente para gerir chamada Chega.
André Ventura
Partiu para a campanha acossado pelos escândalos internos envolvendo dirigentes do partido, mas conseguiu abafá-los com o habitual faro mediático e político. O resultado alcançado fará dele um líder ainda mais vocal e pode mesmo ultrapassar o PS como segunda força, tornando-se líder da Oposição. Para já, obteve os mesmos 58 mandatos que os socialistas, mas teremos de esperar pelos resultados da emigração (onde o Chega teve um bom desempenho em 2024) para sabermos se Ventura tocou mesmo o céu.
Rui Tavares
Poucos arriscariam dizer que seria o único portador de boas notícias à Esquerda. Mas o Livre, que é em grande medida um partido de um homem só, cresceu em número de votos (mais 50 mil) e deputados (mais dois). Com uma campanha desfocada dos casos e casinhos, e com um discurso urbano carregado de frescura que não esqueceu os temas internacionais, terá conseguido seduzir os descontentes do Bloco e até do PS.
Rui Rocha
Não era o resultado que os liberais queriam, porque falharam na missão de serem parceiros fundamentais numa maioria de centro-direita, mas num contexto de crescimento generalizado desse bloco ideológico, conseguiram reforçar a votação, evitando ser engolidos pela AD e pelo Chega. Os 20 mil votos a mais em relação às legislativas do ano passado bastaram para eleger o nono deputado. Para um líder tantas vezes acusado de falta de carisma, é um resultado bastante digno.
Os três vencidos
Pedro Nuno Santos
O ambiente na sede do PS quando foram conhecidas as primeiras projeções era bem o reflexo do que acabara de acontecer: um desastre de proporções inimagináveis, consubstanciado num dos piores resultados da história dos socialistas e na forte probabilidade de serem ultrapassados pelo Chega como segundo partido. A cartada de alto risco jogada no caso Spinumviva revelou-se um erro estratégico e o foguete rebentou nas mãos dos socialistas, que farão agora uma dolorosa travessia no deserto. Num ano, perderam 20 deputados e 365 mil votos. Um pesadelo. Não tinha, por isso, outra solução que não bater com a porta.
Mariana Mortágua
O grupo parlamentar do Bloco eclipsou-se e Mariana Mortágua será a única representante do partido no Parlamento. As sondagens já faziam adivinhar o pior, mas perder, de 2024 para agora, mais de 150 mil votos, revelou-se um resultado que condena o partido à quase irrelevância. E nem mesmo o recurso às velhas guardas ajudou a mitigar os danos. O BE está oficialmente em modo sobrevivência.
Paulo Raimundo
As previsões mais otimistas do secretário-geral comunista, no discurso pós-eleitoral, não se confirmaram e o PCP foi incapaz de manter os quatro deputados, recuando para três mandatos. A perda de cerca de 20 mil votos, ainda assim, acaba por ser um mal menor, tendo em conta a violência com o que o eleitorado tratou a Esquerda nestas legislativas. Os tradicionais bastiões comunistas evaporaram-se e, em parte dessas latitudes, transformaram-se em inesperados redutos do Chega.