O bombeiro Rui Rosinha e o madeireiro Vítor Neves, ambos de Castanheira de Pera, são dois dos quatro feridos graves dos incêndios de 2017 que ainda não foram indemnizados.
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O primeiro aguarda nova proposta da Provedoria da Justiça (PJ), após o seu estado clínico ter sido reavaliado no ano passado. Vítor Neves espera que o Tribunal do Trabalho determine o seu grau de incapacidade. O valor total das indemnizações a pagar pelo Estado ascende a cerca de 11 milhões de euros.
Reformado aos 42 anos, na sequência do incêndio de 17 de junho de 2017, Rui Rosinha disse ao JN que não concordou com o valor de indemnização que lhe foi atribuído, no final de 2018, pelo que foi sujeito a nova avaliação do Instituto de Medicina Legal (IML) em maio. "Repetiram os exames e incluíram a parte neurológica". Desde então, não voltou a ser contactado. "Espero que o processo não esteja parado. Não quero tratamentos especiais, só o apoio que é justo", observa.
Desde março de 2018, a PJ remeteu para o IML 187 pedidos de indemnização. Contudo, apenas 75 foram considerados "feridos graves". Além de Rui Rosinha, há mais um caso em que a proposta de indemnização inicial está a ser reformulada, após ter sido requerida uma reavaliação clínica. Noutra situação está a ser elaborada uma proposta de indemnização, com base no relatório do IML, e, no caso de Vítor Neves, aguarda-se que o Tribunal de Trabalho determine os danos materiais sofridos. A companhia de seguros atribuiu-lhe um grau de incapacidade de 71% e o Estado de 82%, pelo que terá de ser o Tribunal do Trabalho a decidir quem tem razão.
Quando se apercebeu do incêndio, a 17 de junho, tentou salvar a madeira cortada, mas acabou por ser obrigado a fugir do local, face à proximidade das chamas. Já no carro, um pneu rebentou, com o calor, e a viatura conduzida pelo patrão despistou-se.
Plástico agarrado à carne
A temperatura era tão elevada, que lhes causou ferimentos assim que saíram do carro. No caso de Vítor Neves, foram agravados por ter tentado levantar um cabo de telefone para poder fugir. "Como estava a ferver, o plástico ficou todo agarrado à pele e à carne", recorda, pelo que hoje só tem 1,5 centímetros de dedos na mão esquerda e um centímetro na mão direita. Ficou ainda com 65% do corpo queimado. Desde então, foi submetido a mais de 20 cirurgias.
Já o bombeiro de Castanheira de Pera teve um acidente quando regressava do combate a um incêndio, com quatro colegas. Um carro bateu-lhes de frente com tal violência que as viaturas se incendiaram. Fugiram do local e, a poucos metros de distância, encontraram quatro adultos e uma criança no meio das chamas. Os cinco bombeiros formaram um círculo à volta da família para a proteger e conseguiram que escapasse ilesa. Um dos bombeiros acabou por morrer e os restantes ficaram com queimaduras graves. Rui Rosinha tem uma incapacidade de 85% e já fez 17 cirurgias. Seguem-se mais duas: ao estômago e à vesícula.
Dados
187 candidaturas a "ferido grave" admitidas pela Provedoria da Justiça. Destes, apenas 75 foram validados pelo Instituto de Medicina Legal e quatro continuam em aberto. 132 recorreram à Comissão de Avaliação dos Pedidos de Indemnização.
1,8 milhões de euros pagos a 92 feridos pela Comissão de Avaliação dos Pedidos de Indemnização. O valor inclui indemnizações por vítimas mortais, danos de saúde física e mental e danos materiais.