Obras nas linhas somam atrasos. Reclamações dos clientes não param de crescer nas entidades oficiais e de apoio ao consumidor.
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As reclamações dos clientes junto da Deco relativas à CP quintuplicaram entre dezembro de 2017 e terça-feira, enquanto que no Portal da Queixa quase duplicaram entre janeiro e novembro deste ano face a igual período de 2017. A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) dá conta de 1850 queixas no primeiro semestre, enquanto em igual período de 2017 foram "apenas" 1642.
O Governo refere que a "maioria das reclamações relaciona-se com o sistema de vendas dos bilhetes". Mas o relatório da AMT detalha que o incumprimento de horários é o principal motivo de queixa; na lista, seguem-se os pedidos de reembolso.
O gabinete de Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, assume que estão "identificadas e localizados" casos de degradação da pontualidade e garante que se tratam de "situações temporárias". As linhas do Norte, Minho, Douro e Beira Alta, onde estão a decorrer obras, são as mais penalizadas. O caso da ligação interrompida entre Caíde e Marco de Canaveses, obrigando os utentes a usar autocarros, é paradigmático.
O próprio presidente da CP, Carlos Gomes Nogueira, foi ao Parlamento, em outubro, reconhecer que a falta de pessoal e de peças na EMEF, a empresa que mantém e repara comboios em Portugal, pode causar várias perturbações na circulação até ao final do ano no serviço regional com automotoras a gasóleo, na Linha de Cascais e no serviço Intercidades.
O atual Governo, apesar de ter tomado posse há três anos, lamenta a "falta de investimento de fundo na modernização das linhas" do Executivo anterior. O Governo apenas admite problemas pontuais nas linhas onde são usadas as automotoras a gasóleo e garante que os comboios vão falhar menos vezes no próximo ano.
MINISTÉRIO DESVALORIZA
"Estes indicadores [de qualidade do serviço] foram afetados, em 2018, em momentos e linhas circunscritas, nomeadamente as regionais com operação a diesel, devido a escassez de material circulante", adianta ao JN/Dinheiro Vivo o gabinete do Ministério das Infraestruturas.
As automotoras a gasóleo são as UDD 450, compradas em 1965 e que transportam os passageiros das linhas do Oeste e do Algarve e que ainda fazem a viagem entre Casa Branca e Beja, a parte não eletrificada da Linha do Alentejo. Aos 53 anos, este material já não consegue cumprir os horários: na linha do Algarve, há supressões todos os dias por causa dos problemas na EMEF.
O gabinete de Pedro Marques garante que os problemas "estão a ser progressivamente ultrapassados com o robustecimento da EMEF. Esta regularização deverá acentuar-se em 2019, diz o Governo, "com o reforço dos comboios alugados a Espanha", de 20 para 24 unidades. As quatro automotoras adicionais a gasóleo alugadas aos espanhóis deverão chegar "a partir do início de 2019".
Mas os comboios elétricos também têm sofrido com os problemas na EMEF: como o JN já referiu, há viagens do Alfa Pendular e do Intercidades que são feitas, em parte, com material utilizado nos comboios regionais, sobretudo entre Porto-Campanhã e Braga ou Guimarães, com menor qualidade, embora o preço da viagem seja o mesmo.
MAIS PROBLEMAS NO SUL
No Sul, nas últimas semanas, acentuaram-se os problemas na Linha de Sintra, com automotoras elétricas. Quase 140 viagens ficaram por realizar na primeira quinzena de novembro, na hora de ponta, porque a CP tinha apenas 37 unidades disponíveis, menos três composições do que o número mínimo necessário.
Mas parte deste prejuízo poderia ser evitado se as obras do Ferrovia 2020 estivessem a decorrer com previsto em fevereiro de 2016: o troço Caíde-Marco de Canaveses deveria ter ficado pronto no final de 2016; a ligação entre a Beira Baixa e a Beira Alta deveria ter ficado concluída no trimestre passado, mas os trabalhos só estarão prontos entre julho e setembro de 2019.