Todos os dias, em média, são agredidos quatro profissionais de saúde em Portugal. De janeiro a setembro de 2019, foram feitas 995 participações de agressões contra estes profissionais no local de trabalho, uma média diária cinco vezes superior à registada em 2013, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.
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Nas últimas duas semanas houve pelo menos três casos de agressões, a última contra uma enfermeira na urgência do hospital de Santa Maria, em Lisboa, o que levou ordens profissionais e sindicatos a pedirem uma estratégia de combate à violência; o Governo anunciou um gabinete de segurança.
Do total de agressões registadas em 2019, apenas 13% correspondem a violência física e a maioria é contra enfermeiros. No entanto, a análise feita pelo JN aos dados da DGS entre 2007 e 2019 permite afinar a leitura dos dados: a violência acontece predominantemente nos dias úteis, entre dezembro e fevereiro; dois terços das vezes dentro dos hospitais, fundamentalmente nas salas de espera e serviços de Urgência. Sete em cada dez vítimas são mulheres e o agressor é quase sempre o utente.
Muitos não se queixam
Na entrevista dada ontem ao JN, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, adianta que este é "apenas a ponta do iceberg" pois a maioria dos profissionais não apresenta queixa. Para o bastonário, o gabinete de segurança do Governo "não resolve nada", mas o problema podia ser atenuado com o agravamento da moldura penal e tipificação como crime público. Atualmente, agredir um profissional de Saúde não tem uma punição maior que noutro contexto.
Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, defende que a solução passa por dotar o sistema de meios humanos e materiais suficientes, nomeadamente a contratação de "profissionais de saúde especializados que, nas salas de espera das instituições, possam ter uma atuação" de cariz psicológico que diminua a ansiedade de quem espera. "Muitas agressões acontecem após longas horas de espera", justifica.
O mesmo é confirmado por Artur Sequeira, da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais. "O aumento da violência também se sente noutros serviços, como a Segurança Social e conservatórias", onde a espera é longa. A estes acrescem as escolas, embora "com fenómenos específicos", mas a que "é preciso dar atenção". Nestes setores, ao contrário da Saúde, não há uma contabilidade das queixas por agressões.