António Costa foi indigitado como primeiro-ministro por Cavaco Silva, esta terça-feira. Eis a composição do novo Governo.
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Primeiro-ministro - António Costa
É considerado um hábil negociador político, foi indigitado primeiro-ministro e formará Governo apoiado pela maioria de esquerda no parlamento, depois de uma derrota eleitoral.
Ministro das Finanças - Mário Centeno
O novo ministro das Finanças, tido como um economista liberal, terá à sua frente um mandato de negociações com a esquerda e que será a sua primeira experiência governativa, depois de 10 anos no Banco de Portugal.
Considerado no meio profissional e académico como um 'liberal', o novo ministro das Finanças cedeu em algumas propostas da área de Trabalho, a sua área de especialização, desde que aceitou coordenar o grupo de economistas que preparou o cenário macroeconómico para o PS.
De abril à apresentação da Proposta de Programa de Governo, em novembro, Mário Centeno deixou cair o regime do despedimento conciliatório e a redução da Taxa Social Única (TSU) paga pelas empresas.
No cenário macroeconómico do PS, Mário Centeno admitia a possibilidade de uma redução da taxa contributiva dos empregadores para a Segurança Social em quatro pontos, apenas para os contratos sem termo; em novembro, os socialistas garantiram ao PCP, ao Bloco de Esquerda e aos "Verdes" que "não constará no programa de Governo qualquer redução da TSU das entidades empregadoras".
"Aprendemos mais a discutir com pessoas que têm propostas diferentes da nossa", escreveu Mário Centeno no prefácio da sua tese de doutoramento, sobre a economia do trabalho, que defendeu na Universidade de Harvard, onde estudou entre 1995 e 2000.
Quando regressou a Lisboa, Mário Centeno fez carreira no Banco de Portugal, dedicando-se ao estudo do Trabalho, área onde ainda leciona, dando aulas no Instituto Superior de Economia e Gestão.
Durante o seu período no Banco de Portugal, Mário Centeno foi um dos autores de um estudo sobre o salário mínimo nacional, que aponta fragilidades ao seu aumento.
"Globalmente os resultados apontam para um efeito negativo de aumentos do salário mínimo do emprego de trabalhadores com baixos salários, que tem como contrapartida pequenos ganhos salariais", lê-se no estudo 'O Impacto do Salário Mínimo sobre os Trabalhadores', publicado no outono de 2011.
Quatro anos mais tarde, defende um aumento gradual do salário mínimo nacional até aos 600 euros em 2019, um tema que será debatido em sede de Concertação Social.
No Banco de Portugal, Mário Centeno foi diretor-adjunto do departamento de Estudos Económicos e terá tentado, no final de 2013, candidatar-se à liderança do departamento, quando vagou o cargo de diretor.
Apesar de se ter apresentado ao lugar, o concurso acabou por ser anulado pelo Conselho de Administração do Banco de Portugal, liderado por Carlos Costa, que entendeu que "as candidaturas não reuniam todos os requisitos exigidos para o desempenho da função".
A economista Isabel Horta Correia acabou por ser nomeada, extraconcurso, para o cargo, e Mário Centeno, assumiu, no início de 2014, a posição de consultor do Conselho de Administração do Banco de Portugal.
Na altura, foi noticiado que em causa poderiam ter estado as críticas públicas ao primeiro governo liderado por Pedro Passos Coelho, numa reunião com membros da 'troika', durante o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro.
Como ministro das Finanças, Mário Centeno terá agora de lidar com o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
O novo ministro não contava até aqui com cargos políticos no currículo, à exceção dos cerca de 30 dias que passou como deputado socialista na Assembleia da República.
Mário Centeno integrou as listas do PS às eleições legislativas de outubro como independente.
No debate que levou ao chumbo do programa do Governo PSD/CDS-PP, no passado dia 10 de novembro, Mário Centeno recorreu a uma frase do escritor luso-angolano Mia Couto para caracterizar a legislatura de Pedro Passos Coelho: "A diferença entre a recessão e a expansão é que na recessão os pobres são os primeiros a perder e na expansão não são os primeiros a ganhar".
E citou também o cantautor 'politicamente comprometido' Adriano Correia de Oliveira, para descrever a vaga de emigração dos últimos anos: "Todos, todos se vão".
No discurso que marcou o iniciou no debate da sua carreira como político, Mário Centeno acabou por concluir que a esquerda, unida, "despediu por justa causa" a direita.
Ministro Adjunto - Eduardo Cabrita
Tido como próximo de António Costa, foi seu secretário de Estado adjunto quando Costa exerceu o cargo de ministro da Justiça no último Governo liderado por António Guterres.
Eduardo Cabrita voltou depois às funções de governante no primeiro Governo liderado por José Sócrates como secretário de Estado adjunto e da Administração Local.
Natural do Barreiro, Eduardo Cabrita, de 54 anos, licenciou-se em Direito, na Faculdade de Direito de Lisboa, em 1984, e foi deputado do PS, na IX, XI e XII legislaturas, tendo integrado a Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e a Comissão de Defesa Nacional.
No XIII Governo, Eduardo Cabrita desempenhou também o cargo de Alto Comissário da Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território.
Na última legislatura, Eduardo Cabrita presidiu à Comissão de Orçamento e Finanças e Administração Pública. No ano passado, numa das reuniões da mesma comissão parlamentar enquanto presidia aos trabalhos disse para o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio: "O senhor secretário de Estado não usa da palavra!", num episódio que ficou conhecido como "a luta pelo microfone" e as imagens da discussão invadiram as redes sociais.
Reconhecido como um dos mais proeminentes dirigentes socialistas de Setúbal, círculo eleitoral por onde foi várias vezes eleito deputado nas listas do PS, Eduardo Cabrita foi também candidato a presidente da Federação Distrital do PS/Setúbal, em junho de 2012, mas não foi eleito.
Nesta legislatura pertencia às comissões parlamentares de Negócios e Comunidades Portuguesas e à de Defesa Nacional.
Ministro dos Negócios Estrangeiros - Augusto Santos Silva
Antigo ministro da Defesa do último Governo de José Sócrates, foi escolhido para a pasta dos Negócios Estrangeiros no executivo de António Costa, assumindo o cargo de ministro pela quinta vez.
Antes da diplomacia, Santos Silva, de 59 anos, ocupou a Defesa (2009-2011), depois de ter sido responsável pela articulação entre o Governo e Assembleia da República, enquanto ministro dos Assuntos Parlamentares (2005-2009), no primeiro executivo de José Sócrates.
Augusto Ernesto Santos Silva nasceu em 20 de agosto de 1956, no Porto. É licenciado em História pela faculdade de Letras do Porto, doutorado em Sociologia pelo ISCTE e professor na faculdade de Economia da Universidade do Porto.
É militante do PS desde 1989, em que se filiou juntamente com o deputado Alberto Martins, tendo integrado o conselho coordenador do Fórum Novas Fronteiras, lançado pelo secretário-geral socialista, José Sócrates, o organismo que elaborou o programa eleitoral com que o partido se apresentou às legislativas de 20 de fevereiro de 2005.
Augusto Santos Silva foi ministro da Educação entre 2000 e 2001, depois de ter sido secretário de Estado da Administração Educativa entre 1999 e 2000, e assumiu a pasta da Cultura entre 2001 e 2002.
"Católico de esquerda", Augusto Ernesto Santos Silva destacou-se nos Estados Gerais de António Guterres, em que surgiu como uma das principais figuras do Porto, notabilizando-se com intervenções sobre assuntos relacionados com a cidade.
Antes de assumir funções governativas, Augusto Santos Silva integrou o Conselho Nacional de Educação entre 1996 e 1999, e foi vogal da comissão do livro branco da Segurança Social.
Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa - Maria Manuel Leitão Marques
Eleita deputada pelo PS de Viseu nas legislativas de outubro, Maria Manuel Leitão Marques é professora catedrática da Faculdade de Economia, em Coimbra, e estreia-se no cargo de ministra depois de ser duas vezes secretária de Estado.
Com 63 anos, a nova ministra da Presidência e da Modernização Administrativa é investigadora do Centro de Estudos Sociais desde a sua fundação, vice-presidente da Associação Internacional de Direito Económico e foi secretária de Estado da Modernização Administrativa e responsável pelas áreas da simplificação administrativa e do governo eletrónico entre 2005 e 2011 (XVII e XVIII Governos constitucionais), tendo coordenado o Programa Simplex.
Natural de Moçambique (Quelimane), licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra (1975) e fez o doutoramento (1990) e agregação (2002) em Economia pela Faculdade onde é docente.
É especializada em Direito da Concorrência, Direito Económico e Administração Pública, dedicando-se atualmente a questões sobre a regulação pública da economia e sobre a inovação nos serviços públicos.
Logo que concluiu a licenciatura foi monitora da Faculdade de Economia de Coimbra, sucessivamente assistente, professora auxiliar e associada neste estabelecimento de ensino, e, desde 1999, também docente das faculdades de Direito de Coimbra e da Universidade Nova de Lisboa.
Foi ainda coordenadora da "Agenda para a Década".
A nova ministra é, desde 2014, administradora não executiva do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos e, desde 2013, membro do Comité de Especialistas para Fundos Comunitários e do Conselho Científico da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Distinguida em 1997 com o Prémio Gulbenkian das Ciências Sociais e Humanas, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, Maria Manuel Leitão Marques é comendadora da Ordem da Instrução Pública, por decisão, em 2000, do Presidente da República Jorge Sampaio.
Ministra da Justiça - Francisca Van Dunem
É procuradora-geral adjunta e responsável pela Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. Nascida a 5 de novembro de 1955, em Luanda, Angola, veio para Portugal aos 18 anos para tirar o curso de Direito, em Lisboa.
Em 2001, na sequência da carreira como procuradora do Ministério Público em tribunais de Lisboa e Loures, assumiu a coordenação do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. Foi nomeada, em janeiro de 2007, procuradora-geral distrital de Lisboa, tendo jurisdição em cinco comarcas (Lisboa, Lisboa-Norte, Lisboa-Oeste, Açores e Madeira), por onde tem passado a investigação de casos complexos, nas áreas das criminalidades económica, violenta e organizada, entre outros.
Tida como reservada, mas com grande capacidade de liderança, Van Dunem chegou a ser apontada, em 2012, como um dos possíveis sucessores de Pinto Monteiro no cargo de procurador-geral da República. É um dos vogais do Conselho Superior do Ministério Público.
Ministra da Administração Interna - Constança Urbano de Sousa
Investigadora e professora de Direito da União Europeia e diretora do departamento de direito da Universidade Autónoma de Lisboa, foi escolhida por António Costa para ministra da Administração Interna.
Nascida em 1967, em Coimbra, Constança Cunha e Sousa é especialista em segurança e justiça na União Europeia, imigração e direito de asilo.
Licenciou-se em direito na Universidade de Coimbra, tendo concluído o mestrado em direito comunitário na Universidade de Sarreland, na Alemanha.
Em 2005 foi chamada por António Costa, então ministro de Estado e da Administração Interna, para o assessorar juridicamente nas questões em que é especialista.
É da autoria da nova ministra o anteprojeto da nova lei da nacionalidade, que entrou em vigor em dezembro de 2006.
Atualmente é professora associada de direito da União Europeia e diretora do departamento de direito da Universidade Autónoma de Lisboa, lecionando também no Instituto de Ciências Policiais e Segurança Interna.
Constança Urbano de Sousa é membro e investigadora da "Rede Académica de Estudos Jurídicos sobre Imigração e Asilo na Europa", da Universidade Livre de Bruxelas.
A ministra da Administração Interna é ainda colaboradora do OBSERVARE - Observatório de Relações Exteriores e do CEDIS - Centro de Investigação e Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade e membro da Odysseus Network - Academic Network for Legal Studies on Immigration and Asylum in Europe, coordenada pela Universidade Libre de Bruxelas.
Nas últimas eleições legislativas foi candidata pelo PS no círculo eleitoral do Porto. Ocupava o 15.º lugar da lista e o PS elegeu 14 deputados neste círculo.
Ministro da Defesa - Azeredo Lopes
É descrito por Carlos Magno, que lhe sucedeu na liderança da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social, como um "negociador duro".
"Eu sobretudo aprecio nele o homem que tem um grande conhecimento da geopolítica internacional. É duro a negociar. Tem um grande conhecimento daquilo a que eu chamo a geografia da atualidade", afirmou à Lusa Carlos Magno.
Para o presidente da ERC, o seu antecessor "é um grande professor de direito internacional" e um "amigo" com quem tem "grandes divergências e grandes convergências".
E é no contexto dessa amizade que Carlos Magno confidencia: "Eu sou mais diplomata e ele é mais caceteiro, porque eu sou do [Futebol Clube do] Porto e ele é do Boavista [Futebol Clube]".
Lembrando tempos partilhados, o responsável contou como participaram num debate universitário com Nuno Rogeiro em que este "atendeu o telefone a partir da mesa, em plena conferência".
"Azeredo Lopes parou e no fim disse qualquer coisa como isto: 'Mesmo durante as negociações internacionais, só se atende um telefone depois de se pedir licença ao interlocutor'. É um episódio que vale o que vale mas que mostra o grande conhecimento internacional que ele tem", assinalou.
Carlos Magno destacou ainda a experiência do novo ministro "em conflitos difíceis, quer ao serviço das Nações Unidas, quer ao serviço do Banco Mundial".
Chefe de gabinete do independente Rui Moreira na Câmara do Porto, Azeredo Lopes é também professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa do Porto, onde leciona disciplinas na área do direito internacional e onde se doutorou em 2002.
Autor de artigos de opinião no Jornal de Notícias, o novo ministro da Defesa dedicou os últimos textos aos atentados de Paris e afirmou: "Estamos mesmo em guerra, e esta é especial".
Com um diploma do Institut Européen des Hautes Études Internationales, que obteve em 1985, Azeredo Lopes presidiu à Comissão Executiva da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) entre 2006 e 2011, sendo sucedido pelo jornalista Carlos Magno.
Em 2011, semanas antes de ser substituído, defendeu numa audição do conselho regulador da ERC que o serviço público de televisão devia "ser mais diferenciado", de forma a distinguir-se dos restantes meios.
O então presidente da ERC foi ouvido no parlamento a propósito do primeiro mandato do regulador dos média juntamente com o presidente do Sindicato dos Jornalistas, o administrador da TVI e o presidente da RTP.
Um ano antes, a ERC assistia à demissão de Luís Gonçalves da Silva do cargo de vogal do Conselho Regulador que invocava a impossibilidade de continuar num órgão que em "muitas situações é um obstáculo à liberdade de impressa".
Ainda sob a presidência de Azeredo Lopes, a ERC recebeu em 2010 críticas do jornalista Mário Crespo que acusou aquele órgão de cometer "erros de forma demasiados" na sua deliberação de arquivamento da queixa que tinha apresentado contra o "Jornal de Notícias" pela não publicação de uma crónica.
Azeredo Lopes é adepto do Boavista F.C. e um habitual comentador na televisão em programas de informação e debate político.
O consultor e autor de artigos e obras na área do direito internacional e foi o porta-voz da candidatura do independente Rui Moreira.
Azeredo Lopes foi também membro do Grupo de Trabalho sobre Serviço Público de Televisão (2002) e negociou, em representação do ministro da Presidência do Conselho de Ministros do XV Governo Constitucional, Nuno Morais Sarmento, o Protocolo RTP-SIC-TVI, assinado em 21 de agosto de 2003 e alterado por adenda de 15 de fevereiro de 2005.
Ministro do Planeamento e Infraestruturas - Pedro Marques
O seu percurso político esteve quase sempre ligado à Segurança Social. Pedro Marques foi secretário de Estado da Segurança Social entre 2005 e 2011, nos dois governos do então primeiro-ministro José Sócrates.
Nos primeiros quatro anos, esteve ao lado do antigo ministro Vieira da Silva na reforma da Segurança Social de 2007 que, entre outras coisas, introduziu o fator de sustentabilidade que faz depender a pensão da esperança média de vida.
Nos dois anos seguintes, Pedro Marques foi secretário de Estado da ministra Helena André.
Deputado eleito pelo círculo de Portalegre nas eleições legislativas de 2009, foi novamente eleito deputado em 2011 pelo mesmo distrito, e deixou o parlamento em outubro de 2014.
Na altura, era vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS, responsável na bancada socialista pelas áreas de orçamento e finanças, tendo renunciado ao seu mandato de deputado para exercer funções no setor da consultadoria.
Pedro Marques afirmou então à agência Lusa que a sua decisão de renunciar ao mandato de deputado era "uma opção de natureza exclusivamente profissional, depois de ter estado muito tempo em funções políticas em exclusividade".
Disse ainda que esta sua decisão de renunciar ao mandato de deputado, para regressar ao setor da atividade que desempenhou antes do exercício de funções políticas, estava prevista para ser tomada logo após as eleições para o Parlamento Europeu, em maio de 2014.
Cerca de um ano depois, regressa à vida política.
Ministro da Economia - Manuel Caldeira Cabral
Antigo assessor de Manuel Pinho e Teixeira dos Santos, eleito deputado pelo círculo de Braga, Caldeira Cabral vai assumir a pasta da Economia aos 47 anos.
Nascido a 28 de abril de 1968, Manuel de Herédia Caldeira Cabral é professor universitário no departamento de Economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e foi um dos economistas que preparou o cenário macroeconómico de António Costa.
Licenciou-se em Economia pela Universidade de Lisboa e doutorou-se pela Universidade de Nottingham com a tese 'Factor Content of Vertical and Horizontal Intra-industry Trade'.
Apesar de ser pela primeira vez ministro, Manuel Caldeira Cabral já tem a experiência dos bastidores. Foi assessor do ex-ministro da Economia do PS Manuel Pinho, em 2009, e do antigo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, em 2011.
Entre 1988 e 1991, Caldeira Cabral trabalhou como jornalista no "Semanário Económico" e no "Diário Económico". Posteriormente, foi assessor na Associação Portuguesa de Seguradores.
Ministro da Trabalho, Solidariedade e Segurança Social - José António Vieira da Silva
Vieira da Silva vai voltar a dirigir o Ministério do Trabalho e Segurança Social num Governo socialista, desta vez sob a liderança de António Costa.
Seis anos depois de ter deixado o seu gabinete no emblemático edifício da Praça de Londres, Vieira da Silva, 62 anos, reassume a pasta do Trabalho e Solidariedade Social, pela qual foi responsável no primeiro Governo de José Sócrates, entre 2005 e 2009.
O mandato de José António Fonseca Vieira da Silva ficou marcado pela revisão da Lei de Bases da Segurança Social, que introduziu o fator de sustentabilidade nas pensões, que faz com que o aumento da esperança média de vida leve à redução gradual da pensão ou ao proporcional aumento da idade da reforma para a obtenção da pensão sem penalização.
Foi ainda no seu mandato que foi feita a primeira revisão do Código do Trabalho e que foi lançado o Código Contributivo.
Em outubro de 2009 integrou o segundo Governo de José Sócrates, até junho 2011, desta vez como ministro da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento.
Vieira da Silva já tinha sido secretário de Estado da Segurança Social (1999-2001) e das Obras Públicas (2001-2002) do segundo Governo de António Guterres (1999-2002), em ministérios dirigidos por Eduardo Ferro Rodrigues.
Só se inscreveu no Partido Socialista em 2002, após a derrota nas eleições legislativas, ganhas pelo PSD, liderado por José Manuel Durão Barroso.
Nessas eleições foi eleito deputado à Assembleia da República, pelo PS, coordenando o setor da segurança social e do trabalho.
Vieira da Silva é natural da Marinha Grande, é licenciado em economia pelo ISEG e era professor do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), responsável pela cadeira de Economia e Política Económica Portuguesa.
É deputado da Assembleia da República eleito pelo Partido Socialista desde 2011.
Ministro da Saúde - Adalberto Campos Fernandes
A propósito do novo Governo liderado por António Costa, Adalberto Campos Fernandes disse à Lusa que foi convidado para ocupar a pasta da Saúde e que está disponível para assumir estas funções.
O médico de formação, que se destacou na presidência do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (hospitais de Santa Maria e Pulido Valente), era apontado há muito como possível escolha de António Costa para a Saúde. Nascido em Lisboa a 25 de setembro de 1958, Adalberto Campos Fernandes é licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa. É especialista e mestre em Saúde Pública.
Após a administração do CHLN, Adalberto Campos Fernandes passou pela gestão do Hospital de Cascais (Parceria Público Privada) e presidiu à comissão executiva do SAMS (Prestação Integrada de Cuidados de Saúde).
Ministro da Educação - Tiago Brandão Rodrigues
Aos 38 anos de idade, o investigador, sem experiência política, é o mais novo ministro do executivo liderado por António Costa e o mais novo a ocupar a pasta da Educação, nas últimas décadas.
O investigador, que conquistou o reconhecimento internacional pela descoberta de uma técnica de ressonância magnética que permite a deteção precoce do cancro, voltou este ano a Portugal para participar na campanha eleitoral para as legislativas, tendo concorrido nas listas do Partido Socialista (PS) como cabeça de lista por Viana do Castelo, tendo sido eleito deputado.
Nascido em junho de 1977, em Paredes de Coura, licenciou-se em Bioquímica pela Universidade de Coimbra, e viveu e trabalhou depois em Madrid, nos Estados Unidos e em Inglaterra.
Desde 2010 que estava ligado ao instituto Cancer Research UK, da Universidade de Cambridge.
Em entrevista ao Público, em setembro, Tiago Brandão Rodrigues, que foi eleito nas listas do PS, mas na qualidade de independente, afirmou que sempre se considerou "um homem de esquerda" e declarou-se preparado para entrar na atividade política, uma área "aparentemente não tão consensual" quanto a ciência, dentro da qual tinha uma vida "híper mega estável" e um contrato de trabalho sem termo.
Tiago Brandão Rodrigues disse na altura que foi exatamente devido a essa estabilidade que sentiu "um imperativo de dizer presente e de dar o corpo ao manifesto", aceitando o desafio que o líder socialista António Costa lhe lançou.
Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior - Manuel Heitor
O professor universitário assume, como ministro, as pastas da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, das quais foi responsável como secretário de Estado do ministro Mariano Gago, nos governos socialistas de José Sócrates.
Manuel Heitor, de 57 anos, é professor catedrático no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde dirige o Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento, IN+, que fundou em 1998.
O docente foi secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, de março de 2005 a junho de 2011, quando era ministro da tutela Mariano Gago, que morreu em abril passado, considerado por muitos o grande impulsionador da ciência em Portugal.
Natural de Lisboa, Manuel Heitor doutorou-se em 1985, em Engenharia Mecânica, no Imperial College de Londres, no Reino Unido, tendo feito, em 1986, um pós-doutoramento na Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos.
Entre 1993 e 1998 foi presidente-adjunto do Instituto Superior Técnico.
No seu currículo apresenta, como principais interesses de investigação, as políticas de ciência, tecnologia e ensino superior.
Este ano, Manuel Heitor, crítico do atual rumo da política científica, esteve envolvido em diversas iniciativas que apelavam a um maior investimento no setor.
O investigador foi um dos subscritores do manifesto "O conhecimento como futuro", lançado em junho, que pedia uma "nova agenda política para a ciência, a tecnologia e o ensino superior".
Na altura, em declarações à Lusa, o docente assinalou que "a ciência tem ajudado a mudar e a modernizar" o país, pelo que é necessário continuar a "estimular o conhecimento" e a apostar em "mais formação e investimento".
Heitor considerou também que a avaliação feita aos centros de investigação, à qual a comunidade científica apontou irregularidades, "quase destruiu" as unidades e "enfraqueceu a relação" entre a Fundação para a Ciência e Tecnologia, que subsidia a investigação, e os cientistas.
Posteriormente, em julho, a propósito do lançamento do livro "40 anos de políticas de ciência e de ensino superior", uma antologia que coorganizou com a ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, disse que "a qualidade do ensino superior e da ciência depende da qualidade das políticas públicas", pelo que "o futuro precisa de novas políticas públicas".
O investigador defendeu que "as políticas públicas orientadas para o aumento da despesa privada em investigação e desenvolvimento têm de passar necessariamente pelo aumento da despesa pública", visando, designadamente, a promoção do emprego científico, dentro e fora de empresas, "em associação a áreas de grandes investimentos públicos e privados".
Ministro do Ambiente - João Pedro Matos Fernandes
O ministro do Ambiente foi antes presidente da empresa Águas do Porto, depois de ter gerido o porto de Nacala, em Moçambique.
Sucedendo ao social-democrata Jorge Moreira da Silva, o ministro do Ambiente do governo do PS é licenciado em engenharia civil, pela Universidade do Porto, e concluiu em 1995 o mestrado em Transportes no Instituto Superior Técnico.
João Pedro Matos Fernandes passou por cargos políticos na área do Ambiente, tendo desempenhado a função de chefe de gabinete do secretário de Estado adjunto da ministra do Ambiente, Elisa Ferreira, do Governo de António Guterres, entre 1997 e 1999.
O novo ministro vem de uma área, o setor da distribuição de água, que originou forte discórdia entre o atual governo e o PS, devido à reestruturação do grupo Águas de Portugal.
Um exemplo recente, em junho, quando a criação do sistema Águas do Norte, que os responsáveis da região norte consideravam ter sido lançada "unilateralmente pelo Estado central", foi alvo de uma contestação judicial apresentada por nove municípios acionistas da Douro e Paiva, um deles o Porto.
O governo de Pedro Passos Coelho concluiu a reforma do setor das águas, agregando 19 empresas regionais em cinco entidades e reduzindo custos em 2.700 milhões de euros.
João Matos Fernandes também passou pela administração do Porto de Leixões e foi presidente de 2008 a 2012, com responsabilidades nos novos projetos de cruzeiros e da plataforma logística, e pela administração do Porto de Viana do Castelo desde a sua fundação, em 2009, até 2012.
Ministro da Agricultura - Capoulas Santos
Luís Capoulas dos Santos, 64 anos, regressa à pasta da Agricultura, tema que bem conhece, 13 anos depois de ter sido ministro de António Guterres nesta área.
Luís Manuel Capoulas dos Santos foi ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas entre 1998 e 2002, substituindo Fernando Gomes da Silva no cargo, no Governo liderado por António Guterres.
Entre 1995 e 1998, Capoulas dos Santos tinha assumido a pasta de secretário de estado da Agricultura e do Desenvolvimento.
Agora, 13 anos depois, Capoulas dos Santos, que foi eleito deputado pelo PS por Évora, volta a ser ministro da Agricultura pelas mãos de António Costa.
A agricultura foi um tema que o novo ministro sempre acompanhou, mesmo depois de ter saído do Governo.
Entre 2004 e 2014, Capoulas dos Santos foi deputado no parlamento europeu, tendo sido membro da comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural, relator da PAC - Política Agrícola Comum, entre outros.
Nascido a 22 de agosto de 1951, Luís Manuel Capoulas dos Santos é licenciado em sociologia.
Ministra do Mar - Ana Paula Vitorino
Tem 53 anos, é engenheira civil, com o grau de Mestre em Transportes, e foi secretária de Estado dos Transportes de 2005 a 2009.
Entre outros cargos que exerceu, Ana Paula Vitorino foi chefe de gabinete do secretário de Estado dos Transportes, de 1996 a 1999, vogal do Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça, de 2000 a 2001, ao qual presidiu de 2001 a 2002. De 2005 a 2009, foi secretária de Estado dos Transportes, do Governo de José Sócrates.
Ana Paula Vitorino foi uma das vozes críticas à privatização da TAP, tendo defendido que o Estado deve manter a maioria das ações da empresa.
Em abril último, exigiu a anulação do concurso para subconcessão da Sociedade dos Transportes Coletivos do Porto e do Metro do Porto, tendo afirmado à Lusa que a população não merece ter "uma gestão de transportes feita à laia" do governo liderado por Pedro Passos Coelho.
Sob a liderança de Ana Paula Vitorino, na secretaria de Estado dos Transportes, foi lançado o projeto de remodelação do porto de Leixões, incluindo um terminal de cruzeiros, que se concretizou em setembro último, e a linha férrea de ligação.
Outro projeto lançado foi o da navegabilidade do Douro.
Em 2012, Ana Paula Vitorino criticou a suspensão do projeto ferroviário de alta velocidade, considerando-a um "profundo retrocesso" para a economia.
Em 2010, Ana Paula Vitorino depôs como testemunha nas investigações do processo "Face Oculta", que também envolveram o nome do ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino. Em causa estavam relações entre a Refer e o empresário de sucatas Manuel Godinho, entretanto condenado pelo Tribunal de Aveiro.
Segundo a biografia publicada no "site" da Assembleia da República, Ana Paula Vitorino, de 2010 a 2013, foi administradora não executiva da Hidroelétrica de Cahora Bassa, em Moçambique e, de 2011 a fevereiro último, foi sócia-gerente da TransNetWork Unipessoal, empresa que presta serviços de assessoria, consultoria, formação, planeamento, estudos e projetos nas áreas de transportes, logística, infraestruturas, gestão, economia, engenharia, arquitetura, construção e ordenamento do território.
Ministro da Cultura - João Soares
João Soares é militante do PS desde a fundação, exerceu as funções de deputado no Parlamento, foi vereador da Cultura e presidente da Câmara de Lisboa.
Segundo a biografia publicada no "site" da Assembleia da República, João Soares, de 66 anos, filho do ex-presidente da República Mário Soares e da atriz e militante antifascista Maria Barroso, falecida este ano, nasceu em Lisboa, a 29 de agosto de 1949, frequentou a licenciatura de Direito e tem a profissão de editor.
Dirigiu a editora Perspectivas & Realidades, onde publicou, entre outros, Mário Cesariny e João Aguiar.
De 1990 a 1995, foi vereador da Cultura e vice-presidente da Câmara de Lisboa, assumindo a presidência do município em 1995, quando Jorge Sampaio apresentou a candidatura à Presidência da República.
Num mandato em que Lisboa foi Capital da Cultura (1994), nasceram a Casa Fernando Pessoa, o Teatro Mário Viegas, a Bedeteca e a Biblioteca-Museu República e Resistência.
Enquanto vereador da Cultura da Câmara da Lisboa, entre outras ações, criou a Fonoteca e a Videoteca municipais, ambas atualmente desativadas.
De 1994 a 1995, João Soares foi também deputado ao Parlamento Europeu e foi membro do Conselho de Estado, de 1999 a 2002.
Em 2001, venceu as eleições para a presidência da Câmara de Lisboa, sem alcançar maioria absoluta.
Durante a sua presidência, realizaram-se as demolições dos bairros de barracas da capital, nomeadamente o da Curraleira, junto às Olaias, e o do Casal Ventoso, em Campo de Ourique, no âmbito do Programa Especial de Realojamento.
João Soares é membro da sociedade maçónica Grande Oriente Lusitano desde 1974. Numa entrevista à revista "Sábado" afirmou: "Uso avental em casa, não sou pessoa de grandes rituais. Estou lá [na Maçonaria] pelo espírito republicano e laico da organização".
Em 2004, perdeu a eleição para secretário-geral, a favor de José Sócrates.
Entre 2005 e 2009, foi vereador na Câmara de Sintra, à qual se candidatou para a presidência, que perdeu a favor de Fernando Seara do PSD.
João Soares é autor das obras "Virar de página", "Septembre a Lisbonne" e "Notas convenientes e inconvenientes".