Associações ambientalistas querem mais ambição no novo regulamento da União Europeia e lembram impacto ambiental das indústrias de celulose.
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A associação ambientalista Quercus alertou, esta quarta-feira, para o problema das embalagens de papel descartáveis, numa altura em que o Comité de Ambiente do Parlamento Europeu se prepara para votar a proposta de revisão do Regulamento de Embalagens e Resíduos de Embalagens da União Europeia. O regulamento, que vai a votos no próximo dia 20, aborda praticamente todos os tipos de embalagens, “mas a questão do papel tornou-se um verdadeiro campo de batalha nas negociações”, diz a Quercus, lembrando que a “possibilidade de aumento das embalagens de papel e cartão descartáveis, também é problemática em Portugal, devido à pressão que a indústria de celulose faz para aumento da área de eucalipto”.
A presidente da Quercus, Alexandra Azevedo, lembra que o papel, “embora seja biodegradável”, tem impacto, já que devido ao elevado consumo “estamos a pressionar os ecossistemas para a produção florestal dedicada à pasta de papel”.
“A indústria de celulose e papel é um dos maiores poluidores do mundo e um dos maiores utilizadores de água doce. Também consome 4% da energia mundial e é quimicamente intensiva, poluindo rios e prejudicando ecossistemas” e afetando populações, acrescenta a associação em comunicado.
Preocupadas com o tema, organizações não-governamentais da área do ambiente de diversos países redigiram um conjunto de recomendações, de forma a garantir que as embalagens em papel tenham regulamentação adequada.
A proposta de regulamento, referem as ONG’s no documento, vai na direção certa ao priorizar a prevenção e reutilização, mas não é ambicioso o suficiente e fica aquém do esperado para se atingir o objetivo de alcançar 100% de embalagens reutilizáveis ou recicláveis até 2030.
Reutilizar noutros setores e sancionar
Entre outros aspetos, as organizações referem que é preciso reverter, pelo menos, o aumento de 20% nos volumes de embalagens que ocorreu na última década e alertam que as embalagens reutilizáveis não proporcionarão poupanças ambientais sem um sistema de reutilização bem concebido. As metas de reutilização também devem ser alargadas a outros sectores e grupos de produtos essenciais, como o dos alimentos não perecíveis, cosméticos, produtos de limpeza, produtos de higiene pessoal e leite.
Por fim, as organizações apontam que a seção sobre sanções prevista na proposta de regulamento é “demasiado vaga e não sinaliza aos Estados-Membros ou aos participantes no mercado a importância” do cumprimento do regulamento para o correto funcionamento do mercado único ou a proteção do ambiente.
Ontem, um relatório do Gabinete Europeu do Ambiente alertou para o aumento de embalagens de papel revestido no setor dos alimentos e bebidas, um produto muito difícil de reciclar, por comparação com outros, como o plástico.
"No caso das embalagens de alimentos e bebidas, o nível e a qualidade da reciclagem são inibidos pelos revestimentos e compósitos, que dificultam os processos de reciclagem", referem os autores do relatório do Gabinete Europeu do Ambiente (EEB, na sigla inglesa) sobre os riscos de "embalagens alimentares descartáveis à base de papel: a falsa solução para a crise dos resíduos".