"Querer comer" e não "ter que comer": residência do SNS recupera doentes com anorexia nervosa
Em Valongo, há uma unidade de saúde que se dedica à recuperação de pessoas com perturbações do comportamento alimentar. É um modelo "menos restritivo" do que um internamento, assente na reabilitação social, na psicoterapia e no regresso a uma alimentação saudável.
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"Sempre tive muitos traços de perfecionismo, de muita penalização de mim própria e acho que isto foi uma forma que eu encontrei de me castigar, sem ter consciência disso". É assim que Rita (nome fictício), hoje com 27 anos, recorda o momento em que recebeu o diagnóstico de anorexia nervosa. Tinha 17 anos. A perda de familiares e as relações terminadas de "forma inesperada" foram o gatilho para problemas emocionais, que se materializaram na relação com a comida. Está há menos de um mês, pela segunda vez, na residência Elysio de Moura, a resposta diferenciada e única do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para tratar perturbações do comportamento alimentar.
Antes de ter recebido o diagnóstico, Rita lembra-se de ter uma relação "normal" com a comida. Depois, começou à "procura do que era certo comer, do que era saudável". "Na altura, acabei por restringir [a alimentação] estupidamente, mesmo no início da doença". Não é a primeira vez que está na residência Elysio de Moura, localizada no polo de Valongo da Unidade Local de Saúde (ULS) São João. Há um ano tinha estado na mesma unidade, inaugurada em 2015 e que se baseia num modelo de tratamento criado há mais de 40 anos pelo médico psiquiatra António Roma Torres. Rita voltou porque teve uma recaída. "Mais vale pedir ajuda enquanto ainda há tempo", diz.