Na escola, tratavam-no por diminutivos que não gostava. O pai ajudou o filho a mudar de nome.
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Era gozado pelos colegas de escola que o tratavam por diminutivos de António. "Era Tobé, Tó, Toninho. Não gostava, sentia-me ridicularizado. Na altura, era assim que interpretava." André Gouveia entrou na escola primária como António André. Mas chegou ao 3.º ano só com André no nome. Queixava-se aos pais do nome António e eles eliminaram-no do então bilhete de identidade.
Há uma música que André Gouveia, hoje com 29 anos, guarda na memória dos tempos de escola primária. "Na altura, estava muito na moda o "Chama o António" do Toy e gozavam-me com isso. Senti que sofria de bullying. Apesar de ser uma brincadeira, ao fim e ao cabo, eu ficava sempre triste", conta. Herdou o António do pai, que também o era, e o nome André foi escolhido pela mãe.
"Não gostava de ter dois nomes, muito menos do primeiro", diz ele, que conta que esse dava azo a "todo o tipo de brincadeira" e que nunca o chamavam pelo seu nome, mas por um sem fim de diminutivos.
"Já tinha falado com o meu pai sobre o meu desânimo. Tinha demonstrado muitas vezes que não gostava de me chamar António André. Mas nunca cheguei a pedir explicitamente para mudar o nome", conta. A mãe, conta, desvalorizava: "Achava que eu estava a exagerar". Mas o pai, entretanto falecido, não ignorou e tomou a iniciativa.
Surpresa aos oitos anos
"Um dia explicou-me que me ia tirar o António do nome. Não acreditei na altura, até porque António era o nome dele e foi ele que me quis dar esse nome", diz.
Não se lembra bem do processo burocrático, mas a mãe conta-lhe que "não foi fácil" e que "ainda se pagou algum dinheiro". Só se recorda que a mudança era mais simples por ainda ser menor. "Não sei em que momento é que o meu pai pôs mãos à obra, quando ele me disse já estava quase tudo tratado na Conservatória. Quis preparar-me uma surpresa."
André tinha oito anos na altura e não podia ter ficado mais feliz. "Fiquei tão contente. Para mim, foi um alívio. Nunca mais ninguém me ia chamar todos os diminutivos de que não gostava". E lembra-se de um episódio em particular. "A professora chamou o António para ir ao quadro. E eu fingi que não era nada comigo. Quando ela se aproximou, expliquei que não era mais António, os meus colegas riram-se e a professora ficou um bocado incrédula, pensava que estava a brincar. Até chamou a minha mãe à escola".
No bilhete de identidade, passou a ser só André e os restantes documentos, foi mudando com o tempo. "À medida que ia precisando, ia mudando nos registos de saúde, na escola". Desde aí, os amigos começaram a tratá-lo por André. Mas ainda hoje, quem o conhece daquele tempo, o chama de António "em tom de brincadeira". "Não levo a mal. Fazem-no porque sabem que na altura fiquei mesmo feliz com a mudança".