As possibilidades de captura de sardinha mais do que duplicam face a 2020 e fecha-se um ciclo "negro" para a pesca do cerco, que começou em 2011. As "boas notícias" devem-se ao "esforço dos pescadores" e à "boa gestão" conjunta de Portugal e Espanha. Quem o diz é o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos. O ICES (Conselho Internacional para a Exploração do Mar) recomenda capturas ibéricas de 40 mil toneladas. Portugal ficará entre as 27 e as 30 mil.
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"São boas notícias para a pesca portuguesa. Tem havido um crescimento progressivo e sustentável e que nós pretendemos manter", afirmou, em conferência de imprensa, Ricardo Serrão Santos. O ministro do Mar acena com os números: a biomassa (quantidade de sardinha no mar) passou de 344 mil toneladas em 2020 para 451 mil toneladas em 2021 (+31%), depois de, no ano anterior, ter já crescido 66%.
"Os pescadores de Portugal agiram como guardiões dos nossos mares", explicou Serrão Santos, destacando o "esforço considerável" feito, nos últimos dez anos, pela frota do cerco. A secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, sublinhou ainda o empenho de todos quantos fizeram parte da Comissão de Acompanhamento da sardinha e "o investimento feito, desde 2016, na investigação científica", que trouxe "mais conhecimento e melhores dados" e permitiu ir adequando medidas.
ICES quase quadruplica o parecer
Ainda antes do anúncio do Ministério do Mar, saía o parecer do ICES recomendando capturas ibéricas até às 40434 toneladas, depois de, em dezembro, aconselhar que não se ultrapassassem as 11 mil.
Agora, seguem-se as negociações com Espanha. A quota ibérica deverá ficar entre as 40 e as 45 mil toneladas. A Portugal caberão 66,6%, ou seja, 27 a 30 mil toneladas (mais do dobro das (12,7 mil toneladas de 2020). Em simultâneo, haverá ainda reuniões com o setor, a fim de definir as regras de gestão da quota. Há, por exemplo, interesse dos pescadores em prolongar a pescaria até novembro, mantendo a frota a trabalhar o máximo de tempo possível e isso obrigará, por exemplo, a definir quantidades diárias de capturas. Passados os santos populares e o verão, a pescaria em outubro e novembro garantiria ainda o abastecimento à indústria das conservas.
A pesca da sardinha abriu a 17 de maio, depois de quase sete meses de paragem, com uma quota fixada nas 10 mil toneladas até 31 de julho.
Cientistas prometem olhar atento
Os pescadores queixam-se dos modelos de avaliação do recurso. Humberto Jorge, da Anopcerco, lembra que os pescadores "andam há dois anos a dizer que há muita sardinha no mar" e só agora os cientistas o admitem. Em 2010, frisa, também se demorou a travar capturas, que poderiam ter evitado males maiores. E, em 2017, o ICES chegou mesmo a aconselhar pesca zero a Portugal e Espanha por 15 anos como a única forma de "salvar" a sardinha ibérica.
O presidente do IPMA, Jorge Miranda, admite que os modelos nem sempre espalham a realidade e a verdade é que a recuperação do stock de sardinha surpreendeu até os mais otimistas. Garante que, no futuro, os cientistas manterão "toda a atenção", olhando não só para as previsões do modelo, mas para a evolução dos stocks feita pelos cruzeiros científicos, de forma a evitar que a situação se repita.
O ministro do Mar diz que "foi importante não ter precipitações" e lembra que o "sacrifício" feito deu, agora, "bons resultados".